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Feiras de orgânicos e mercadinhos levam a roça para a cidade

Feiras de orgânicos e mercadinhos levam a roça para a cidade

Pontos de venda de produtos orgânicos atendem aos consumidores que têm interesse por alimentos naturais e querem apoiar os negócios locais

Publicado em 26 de agosto de 2023 às 09:53

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Os proprietários rurais Ailso Braun e sua esposa Beth Brandt, na feira orgânica no Shopping Norte Sul
Os proprietários rurais Ailso Braun e sua esposa Beth Brandt, na feira orgânica no Shopping Norte Sul. (Divulgação)

Três vezes por semana, o produtor rural Ailso Braun sai de Santa Maria de Jetibá com destino a Vitória para vender seus produtos em feiras orgânicas. Esse é apenas um exemplo do movimento crescente que tem conquistado os centros urbanos: o interesse por alimentos naturais.

À medida que feiras e mercadinhos orgânicos vão surgindo nos bairros dos municípios, oferecendo alternativa diferente aos consumidores, eles começam a despertar o interesse de novos empreendedores que enxergam no setor oportunidade promissora de negócio. É um empreendedorismo que surge com um objetivo claro: mostrar ao consumidor urbano, que sonha em estar no campo, que ele não precisa deixar a cidade, o campo veio até ele.

Essa percepção social do brasileiro em relação ao agronegócio é muito positiva, explica o coordenador de Agroecologia e Produção Orgânica, Luciano Macal Fasolo, da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). Embora ainda não exista um estudo que identifique esse comportamento, é seguro perceber esse sentimento da população em relação ao agronegócio no Estado, tanto para a economia quanto para o seu desenvolvimento.

“O agronegócio gera emprego e renda de forma descentralizada, além de recursos e divisas para os municípios e para o Estado. É diversificado, pujante e traz resultados expressivos em diversas áreas da produção”, garante. Segundo Fasolo, ao todo, existem no Estado 29 feiras orgânicas, com interferência da Seag, além de três que estão em fase final de implantação.

Produtor de morangos, hortaliças e feijão orgânicos no Sítio Renascer desde 2005, Ailso Braun explica que, a partir do momento que passou a oferecer seus produtos diretamente ao consumidor, viu sua renda aumentar. Hoje, por exemplo, vendo a R$ 12 o quilo do tomate orgânico. E se o consumidor adquiri-lo na minha propriedade, paga R$ 7. Os R$ 5 de diferença são justamente a viabilidade de todo o processo. E o fato de sair direto da nossa propriedade para a mesa do cliente é o que torna o produto mais em conta. ‘Encurta mos a cadeia’.” Aliás, o que não é produzido nas terras de Ailso Braun é adquirido na troca por morangos com outros proprietários rurais. “A velha e boa barganha. Isso é importante porque permite a diversificação em nosso ponto de venda”, conta.

Para ele, a vantagem das feiras orgânicas é o atendimento personalizado ao consumidor. “Criamos um laço afetivo com os clientes e essa relação direta traz credibilidade na procedência do produto. Tanto que esses dias um garotinho pegou um alface do balcão e comeu ali mesmo na hora. Inclusive, o nosso diferencial na segunda e terça é que colhemos de manhã e trazemos fresquinho”, garante.

A troca é tão grande que Ailso tem 300 clientes cadastrados no WhatsApp. “Eles nos pedem para lembrá-los das feiras um dia antes e ficam bravos se esquecemos. Alguns pedem para deixar a cesta pronta”, destaca.

A técnica de manutenção de equipamentos Fernanda Marchezi e seu marido Lander Alpohin Simões, supervisor de manutenção de aeronaves, pais de dois filhos, moradores de Jardim Camburi, que frequentam as feiras orgânicas do bairro, também destacam essa relação. “Nós não vamos ali só para fazer a compra da semana. Visitamos os amigos que vamos fazendo, afinal, desde sua inauguração a frequentamos. Paramos para comer tapioca, tomar um caldo de cana com pastel e conversar enquanto adquirimos as mercadorias fresquinhas”, conta.

Esse atendimento personalizado e afetivo é tão grande que a família de Lander Alpohin já visitou a propriedade rural de Ailso Braun. “Nós fomos convidados e colhemos morangos no pé, foi realmente um dia inesquecível.”

Luciano Fasolo pontua que esse fenômeno de multiplicação de pequenos espaços de comercialização de frutas, verduras e hortaliças, não necessariamente orgânicas, deve seguir em alta.

“Além de trazer o consumidor urbano para próximo do campo, mesmo estando na cidade, essas iniciativas ajudam a população a entender que ao consumir um alimento orgânico está contribuindo para a questão ambiental, afinal, existe uma compreensão de que esses alimentos são produzidos a partir de bases sustentáveis”.

Feira de alimentos orgânicos é alternativa para consumo de produtos mais saudáveis
Feira de alimentos orgânicos é alternativa para consumo de produtos mais saudáveis. (Seag/ Divulgação)

Lander Alpohin acredita muito nisso. “Quando venho na feira de orgânicos, sinto cheiro e gosto diferentes. Eles têm esse sabor acentuado que desperta o olfato e o paladar”, comenta.

Para ele, as principais vantagens são que os produtos orgânicos, além de serem bem mais em conta, não trazem agrotóxicos. “A qualidade é perceptível à saúde. Quando tínhamos hamsters, até eles só gostavam do brócolis da feira, os outros nem pensar”, conta.

Saúde

Outro exemplo dessa cadeia dentro do agronegócio é o empreendedor Marcus Teixeira Gonçalves, proprietário da loja Só Orgânicos, em Santa Lúcia, que desde 2000 trabalha nesse nicho

“O setor de orgânicos teve várias fases. De 2007 a 2009, recebíamos clientes que já consumiam produtos naturais há anos. De 2010 a 2012, as pessoas começaram a buscar informações sobre a importância de uma boa alimentação, preocupadas com os produtos industrializados por conta dos agrotóxicos e, depois, vieram as gestantes reforçar ainda mais isso”. Ele acrescenta: “Hoje, meus clientes são em grande parte jovens casais, cuja mãe começou, mesmo antes da gravidez, a usar produtos orgânicos na alimentação e continuou após o nascimento do bebê, passando essa cultura para ele e a família”.

Além desses, ele também recebe clientes com mais de 50 anos que associam os produtos orgânicos a uma menor probabilidade de adquirir doenças comuns nessa etapa da vida.

Fasolo lembra que, ao apoiar as feiras orgânicas e os mercadinhos nos centros urbanos, os consumidores valorizam e contribuem para fortalecer o agronegócio e a economia do Estado. “E por outro lado, quem está empreendendo no nicho oferece um atendimento personalizado”, lembra.

Afinal, observa, o consumo é um ato político. “Nós consumidores financiamos aquilo que compramos. Quando abrimos mão de produtos ultraprocessados em uma grande rede de abastecimento e optamos pelo consumo em uma lógica local, estamos apoiando esse negócio, ajudando-o a crescer e contribuindo para um Estado e um agronegócio mais sustentável”, garante.

O empreendedor Marcus Gonçalves corrobora com essa fala e complementa. “Quando os clientes nos procuram, não vêm apenas comprar produtos orgânicos. Eles gostam de conversar, saber a procedência, é uma relação com dose de afetividade, confiança e credibilidade. Não é só um cliente, é praticamente alguém da família”, conclui.

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