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Tem um livro para doar? Projetos vão até você e levam a quem precisa

Tem um livro para doar? Projetos vão até você e levam a quem precisa

Conheça os projetos que dão o melhor fim - ou começo - para aqueles livros que estão parados na estante

Publicado em 27 de outubro de 2019 às 15:00

Leonardo Monjardim e as crianças do Caoca de Maria Ortiz: Projeto Compartilhe o Saber Crédito: Fernando Madeira

“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca”. A bela frase do mestre argentino Jorge Luis Borges cai por terra se olharmos os preocupantes (e decepcionantes) números do mercado literário brasileiro.

O faturamento do setor encolheu 25%, entre 2006 e 2018. Os dados são do estudo “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A confirmação de que o brasileiro está lendo cada vez menos soa melancólico, principalmente por conta da aproximação do Dia Nacional do Livro, a ser comemorado na próxima terça-feira (29).

Lógico que nem tudo é desterro, especialmente se olharmos (com esperança) projetos de doação de livros que estão sendo desenvolvidos na Grande Vitória. Estes, em especial, ajudam até as pessoas que não tem tempo de irem aos locais específicos de recolhimento das obras. No caso, eles vão até o leitor e dão o melhor fim - ou começo - para livros, uma vez que são doados a projetos sociais e interessados no mundo da leitura. 

Um deles, o "Compartilhe Saber", desenvolvido pelo escritor Leonardo Monjardim, já distribuiu mais de 14 mil exemplares desde 2015. "O brasileiro lê, em média, 2,5 livros por ano. Além disso, nosso índice de analfabetismo é de 8,5%. Há, portanto, vários índices que podem comprovar - e até justificar - o déficit de leitura do país", enumera o autor, que é membro da Academia Espírito-Santense de Letras.

"Além do grande incentivo à leitura, tornando o material mais acessível, temos que combater a dificuldade dos jovens em interpretar textos, pois não são estimulados à prática da leitura durante toda a primeira idade", assinala o escritor, complementando que o projeto tem ênfase na formação e renovação de leitores.

O "Compartilhe Saber" já desenvolveu trabalhos de doações em bairros como São Pedro, Santo Antônio e Maria Ortiz, em Vitória. "A logística é supertranquila. Os interessados em doar podem entrar em contato comigo. Vou até a casa das pessoas e retiro o material. Pode ser qualquer obra, didática ou não”, adianta Monjardim.

Entre os locais que receberão as próximas doações, estão projetos sociais no Morro do Quadro; a Pastoral da criança do bairro Cruzamento; a Obra Social Maria das Graças, em Ilha de Santa Maria; e as comunidades de Mario Cypreste e Bairro Romão.

PAIXÃO

Pedro Henrique Soriano de Oliveira, 12 anos, leitor do projeto "Compartilhe o Saber", do Caoca de Maria Ortiz Crédito: Fernando Madeira

A Casa de Atendimento e Orientação à Criança e ao Adolescente (Caoca), de Maria Ortiz, um dos bairros com maior índice de violência sexual infantil de Vitória, é um dos centros que participa do “Compartilhe Saber”.

Nas estantes da casa, que atende cerca de 370 crianças, podemos encontrar títulos diversos, todos oriundos de doações: dos best-seller's “Ele Simplesmente Não Está a fim de Você” (2005), de Greg Behrendt e Liz Tuccillo, e “A Cadeira de Prata” (1953), de C. S. Lewis, criador do multiverso “As Crônicas de Nárnia”, a obras de ilustrações infantis, como “Estegossauro - Coleção Incríveis Dinos”. Livros religiosos, espirituais e didáticos também têm vez na pequena biblioteca instalada no local.

Em meio a tantos exemplares, destaca-se a paixão do pequeno Pedro Henrique de Oliveira, que, aos 12 anos, é um leitor assíduo, chegando a “devorar” mais de dois títulos por mês. “É importante ler para a formação das crianças”, suspira, com invejável maturidade (e desenvoltura) para a pouca idade.

“É imprescindível para auxiliar o desenvolvimento no decorrer da vida, tanto na escola como na nossa família”, complementa, em tom didático.

Ah, sim: o “atual título preferido” de Pedro (que ele pegou emprestado na biblioteca do Caoca) é “Meus Pais Dizem Não a Tudo!” (2006), de Christine Naumann-Villemin. “Todos os pais deveriam ler”, brinca, com um sorriso maroto.

SOLIDARIEDADE

Antonio Alves de Almeida com as monitoras do projeto "Virando a Página pela Leitura" Crédito: Antonio Alves de Almeida/Divulgação

A paixão por doar livros e compartilhar conhecimentos também impulsiona o “Virando a Página Pela Leitura”, desenvolvido como um projeto de extensão da universidade Faesa (em parceria com a Defensoria Pública do Espírito Santo) e coordenado pelo professor Antônio Alves de Almeida.

Lançado em 2017, e com distribuição de mais de duas mil obras, a iniciativa se consiste em recolher os exemplares na casa dos doadores e vendê-los a preços populares (no valor máximo de R$ 5) em vários pontos da cidade, como o Parque Moscoso e a Gruta da Onça, ambos no Centro de Vitória.

Com o dinheiro arrecadado, Antônio adquire vários exemplares (numa seleção de 12 títulos escolhidos criteriosamente em parceria com os monitores do projeto) e distribui entre os detentos do Complexo Penitenciário de Xuri, em Vila Velha.

Entre as obras distribuídas, estão “O Pequeno Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry; “O Caçador de Pipas” (2003), de Khaled Hosseini; “O Menino do Pijama Listrado” (2006), de John Boyne; “O Menino do Dedo Verde” (1957), de Maurice Druon, e “O Fio das Missangas” (2003), de Mia Couto.

“São livros que têm eixos estruturantes, que versam sobre humanismo, solidariedade, ética e cidadania. Queremos com a iniciativa criar uma perspectiva de inserção social, necessária para quando eles voltarem a seus núcleos familiares”, garante Almeida.

MUDANÇAS

Histórias com os detentos? Antônio têm várias e a maioria delas edificantes. “Uma vez, recebi uma chamada de um agente penitenciário afirmando que eu deveria ter cuidado, pois começaria um ciclo de leituras com um dos encarcerados mais perigosos do Espírito Santo”, ressalta, dizendo que o encontro foi uma das maiores experiências da sua vida.

“O comportamento daquele rapaz mostrou a força transformadora da leitura. Ele afirmou que, após sair do centro de detenção, iria me procurar na Faesa, querendo ler mais e estudar. Senti que o meu trabalho deu certo”, afirma, emocionado.

O “Virando a Página Pela Leitura” recebe qualquer livro para doações, desde que estejam em bom estado de conservação.

PARA DOAR

  • “Compartilhe Saber”. Os interessados em doar livros bastam entrar em contato com Leonardo Monjardim pelo telefone (27) 99971-5995.
  • “Virando a Página Pela Leitura”. Para doar, basta entrar em contato pelo telefone (27) 99589-2690 ou pelo e-mail: [email protected].

OAB/ES  DESENVOLVE CAMPANHA DE DOAÇÕES DE LIVROS INFANTIS

José Carlos Rizk Filho, presidente da OAB/ES, durante a campanha de doações de livros infantis do órgão Crédito: Assessoria de Comunicação/OAB-ES/Divulgação

Engana-se quem pensa que apenas causas jurídicas movem a OAB/ES. Em meio à vibe solidária das doações de obras literárias, o órgão desenvolveu a Campanha de Doação de Livros Infantis, dentro da Comissão da Infância e Juventude.

Recentemente, cerca de mil exemplares foram cedidos ao Centro de Acolhimento e Orientação a Crianças e Adolescentes, Caoca, em Maria Ortiz. E mais ações vão acontecer no decorrer do ano.

“Resolvemos seguir com o projeto por conta da excelente aceitação da primeira etapa. Agora, a campanha segue permanentemente, colocando-se como um elo entre as pessoas interessadas em doar livros e aquelas que precisam muito dessa leitura. Muitos têm vontade de fazer esse tipo de ação, mas não sabem como proceder”, explica José Carlos Rizk Filho, presidente da OAB/ES.

Os interessados em doar livros poderão, incialmente, fazer contato pelo telefone (27) 3232-5600 ou pelo e-mail [email protected].

”Sempre que houver demanda, também buscaremos os exemplares na casa dos doadores”, adianta Rizk, afirmando que os dilemas sociais por que passam o Brasil fazem com que campanhas como essa ganhem uma dimensão maior.

“Vivemos uma época em que os jovens se comunicam muito, conversam intensamente pelas redes sociais, mas precisam reforçar a leitura qualificada. A Educação, todos sabem, é o principal caminho para as evoluções sociais e para o desenvolvimento cultural. Ela começa pela leitura”, acentua Risk, afirmando que “doar livros é dar ao próximo condições de crescimento pessoal, abrindo portas para o mundo”.

A OAB/ES também está criando pontos de coletas nas sedes de suas 18 subseções no Estado, incluindo a Grande Vitória e o interior. Os endereços podem ser encontrados no site do órgão (www.oabes.org.br). Os livros recebidos serão distribuídos para instituições que atuam em projetos sociais com crianças e adolescentes.

FUTURO

"Geladoteca" desenvolvida pelo Projovem do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), de Maruípe, em Vitória. Crédito: Adiel Silva Bernardino/Divulgação

Um dos projetos que sempre recebem doações de obras literárias é a “Geladoteca”, desenvolvido pelo Projovem do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), de Maruípe, em Vitória.

A ideia é superoriginal: fazer uma biblioteca móvel usando utensílios domésticos reciclados. “Tínhamos uma geladeira velha e aproveitamos para criar a nossa ‘geladoteca’. Aceitamos várias doações e vamos circular as obras aqui no centro. Queremos incentivar os jovens ao hábito saudável da leitura", adianta Daniela Colatto, coordenadora do Cras.

Desde o início do projeto, em setembro, a “geladeira-biblioteca” já recebeu em torno de 320 títulos. As doações podem ser feitas no próprio Cras, que fica na rua Dom Pedro I, número 72. Mais informações pelos telefones (27) 3314-5311 e (27) 3314-5336.

Criador do projeto,  Kleber Rodrigues Marins (que também é educador social do Projovem)  afirma que a "geladoteca" é uma extensão do trabalho realizado nas oficinas do Cras. "É uma iniciativa relevante, pois usa o lúdico para propor um incentivo à literatura, interpretação e escrita. Nosso objetivo é fazer com que o jovem aumente o seu repertório intelectual, se posicionando criticamente nos assuntos que circulam na sociedade",  complementa.

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