Publicado em 22 de outubro de 2019 às 08:41
"Soltos, livres e loucos!", ordena um assistente de direção a um grupo de 150 figurantes dispostos em círculo ao redor de uma fogueira de seis metros de altura.>
Vestidos em trajes brancos com bordados típicos da Ucrânia, as meninas equilibrando coroas de flores, os figurantes obedecem ao apelo. Pulam, dançam, brincam --até que um grito de "corta, cortou!" interrompe a festa.>
O objetivo é reproduzir o Ivana Kupala, ritual que celebra o solstício de verão em alguns países eslavos e central na trama de "Desalma", série do Globoplay com estreia prevista para o ano que vem.>
Afinal, é durante a festa que a jovem Halyna (Anna Melo) desaparece, para desespero de sua mãe, Haia (Cássia Kis, que vive uma bruxa com longos cabelos brancos), e trauma da fictícia cidade de Brígida, fundada por imigrantes ucranianos no sul do país.>
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O povoado decide banir o evento do calendário, e só retoma a festa 30 anos depois.>
É quando coisas estranhas passam a acometer as famílias de Ignes (Cláudia Abreu), melhor amiga de Halyna na juventude, e da recém-chegada Giovana (Maria Ribeiro).>
A escritora Ana Paula Maia, vencedora do Prêmio São Paulo pelo romance "Assim na Terra como Embaixo da Terra" e roteirista de primeira viagem, conta que a inspiração para a história veio quando ela se mudou do Rio de Janeiro para Curitiba, há quatro anos.>
Por lá, são visíveis os traços da cultura ucraniana --o Paraná abriga cerca de 80% da população de descendente desses imigrantes, e na cidade de Mallet, a três horas de Curitiba, até mesmo o Ivana Kupala é celebrado.>
Afeita a personagens masculinos e um tanto bestializados, a autora tem em "Desalma" a sua história mais feminina. "Queria falar de bruxa, e não dá para falar de bruxa sem mulheres", ri. Também essa será a sua primeira ficção a assumir de vez o terror.>
Fã do gênero desde criança --ela lembra da bronca que levou da mãe ao assistir ao primeiro filme do tipo, aos cinco anos--, a escritora diz que ele é ideal para retratar desde questões sociais a psicológicas, passando pelas espirituais.>
Não é só Maia que estreia no terror. Esta é a primeira investida da Globo em uma narrativa do tipo, embora o diretor artístico Carlos Manga Jr. prefira o rótulo de "drama sobrenatural". "Tudo começa com um drama humano, que é a não aceitação da perda. É através dessa dor que o sobrenatural se faz presente", justifica.>
Por trás de "Se Eu Fechar os Olhos Agora" e "Aruanas", outras duas produções da emissora lançadas no streaming, Manga Jr. diz que a aposta é uma forma de fazer frente a produções internacionais dos outros serviços de assinatura.>
"Muitas séries de Netflix, HBO, Amazon envolvem essa coisa humana misturada com a metafísica. E temos um público cada vez maior que consome séries de gênero.">
Pelo teaser, "Desalma" deve duelar com a alemã "Dark" e com "Castle Rock", inspirada nos contos de Stephen King.>
Da floresta de pinheiros que serve de locação para a série à criança demoníaca que encara a câmera, passando pela fotografia em tons azulados e a trilha sonora macabra, ali estão muitas das convenções de um gênero que também no cinema tem ganhado espaço no país, com obras como "As Boas Maneiras", de Juliana Rojas e Marco Dutra, e "A Sombra do Pai", de Gabriela Amaral de Almeida.>
A expectativa da emissora é alta. A série constava no catálogo prioritário que a Globo levou à Mipcon, principal evento do calendário televisivo internacional que se encerrou em Cannes, na França, na semana passada. E apesar de a estreia estar longe, Maia já escreve uma segunda temporada.>
* A jornalista viajou a convite da Globo>
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