Publicado em 8 de março de 2020 às 09:01
A melhor forma de falarmos sobre o Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (8), é mostrando exemplos de como a luta delas é evidente e necessária no cotidiano. Após conversar com quatro figuras femininas que são referências na Música, Artes Plásticas, Literatura e Audiovisual do Espírito Santo, temos a certeza de que as batalhas enfrentadas contra a violência, o preconceito no mercado de trabalho e a necessidade de representatividade são vencidas como muito esforço. >
Todas as entrevistadas parecem ter combinado o discurso, mas na hora em que eram questionadas sobre a qual motivo atribuíam seu sucesso, elas mencionavam a eficácia do trabalho (de verdade!). Uma até chegou a dizer: "Eu não diria que tenho sucesso. É minha ligação com a música, que é tão forte, que a opção de recuar nunca foi uma possibilidade". E falo da maestrina Alice Nascimento, que ocupa um cargo normalmente preenchido por homens.>
"Quando comecei na música, não senti nenhum obstáculo. Professora de música é um cargo muito feminino, sempre foi. Mas no mestrado em Regência, que fiz no Rio, senti o preconceito de todos os lados. Sofri, sofro e acho que vou sofrer um bocado de boicote da forma mais descarada possível. É horrível. Mas eu driblo mostrando meu trabalho", diz Alice. >
Arquiteta por formação, Lara Brotas é outra que responde ao preconceito com estudo. Ela já passou pelo Rio de Janeiro, Inglaterra e Espanha para se aproximar do "must" da arte contemporânea e se tornar referência na área de galeristas - que é o fruto que colhe atualmente. Há mais de 20 anos, ela se dedica ao ofício e, desde 2006, comanda galeria de arte com a sócia Sandra Matias, em Vitória. >
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Lara acredita que a desigualdade de gênero presente em diversos setores também ocorre no mercado das artes. "Isso é um reflexo histórico", fala. >
Ela lembra que, no século XIX, as mulheres eram proibidas de frequentar as escolas e ficavam restritas aos ateliês, financiados pelas famílias ou às poucas academias particulares que as aceitavam. A evolução é latente, mas ainda há muitas barreiras impostas pelo machismo, frisa ela. >
Entretanto, para a galerista e empresária, na contramão desse cenário, o mercado de arte brasileiro vem sendo dominado por galeristas mulheres, muitas delas figuras fundamentais para o fomento e dinamização do circuito das artes.>
Algo parecido aconteceu com a administradora Lúcia Caus, que há três décadas se dedica ao Audiovisual. É ela, por exemplo, que coordena o Festival de Cinema de Vitória, maior evento do gênero do Espírito Santo e um dos maiores do País. >
"É muito comum as mulheres iniciarem as carreiras na produção, mas eu queria escolher quais histórias contar. Em 2008, dirigi meu primeiro curta", diz. >
E Lucia continua: "Acredito que, em parte, a demora em migrar da produção para a direção foi pela resistência do meio, dominado por homens. Mas a insistência para ocupar esses espaços precisa ser contínua e diária". >
Bernadette Lyra dispensa apresentações. Mas nunca é demais exaltar a ocupante da Cadeira 1 da Academia Espírito-Santense de Letras (AEL) - cargo que não é para qualquer um - e recém-estreante colunista de A GAZETA. "Sou apenas uma mulher que tem consciência de si e do que faz. Como escritora, sou grata a todas as pessoas que leem, estudam, comentam e criticam meus livros. Cada mulher é única em suas escolhas e sabe, em seu íntimo, o que é essencial para seu crescimento profissional", fala. >
Assim como as outras personagens desta matéria, a escritora veterana também enxerga uma melhora no cenário em que a atua - o da literatura - para as mulheres. Tanto que, de uns tempos para cá, as figuras femininas se destacam mais do que em outros tempos. >
"Sou muito feliz por estar vivenciando essas transformações, que já são perceptivas e dão amplitude afirmativa ao trabalho literário e artístico das mulheres", conta Bernadette. >
Tendo anos de carreira e sendo referências em suas áreas, o Divirta-se levantou a questão junto às entrevistadas. Quem são as mulheres que se destacam na luta feminina e dão exemplos para as gerações que estão por vir? Alice Nascimento, Lara Brotas, Lucia Caus e Bernadette Lyra indicaram cinco nomes, cada, de destaques em suas respectivas áreas. Confira:>
MEIRE NORMA
É cantora Lírica, soprano, e professora da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames). Dona de uma voz linda e um talento acima do comum, faz solos arrebatadores de várias árias de ópera e, por esse motivo, é bastante conhecida e admirada
LIA LEAL
É pianista e professora aposentada da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames). Com um toque pianístico expressivo, Lia dedicou boa parte de sua carreira artística compartilhando seus conhecimentos e talento
ELISA ALVES
É cantora de MPB, professora de literatura e poetisa. Elisa faz releituras fascinantes da nossa música popular brasileira e recita poesia de uma forma que não dá para explicar com palavras. "Sublime", ressalta Alice
NATÉRCIA LOPES
É uma das cantoras líricas mais famosas do Espírito Santo. Sempre dedicada com a produção musical capixaba, acaba sendo uma inspiração para a nova geração e frequentemente é chamada de diva do Estado
JAQUELINE COSTA
É violinista Orquestra de Mulheres do Espírito Santo e Camerata SESI. Mãe, modelo e cheia de charme, a musicista de alta performance, sempre desempenha muito bem tudo o que faz
ADRIANNA EU
Gosta de pensar que sua trajetória é traçada pelo desejo. Foi uma das seis artistas escolhidas para ocupar a recente Casa Firjan, no Rio de Janeiro, sob curadoria de Marcelo Campos com a exposição coletiva Transformação
SUZANA QUEIROGA
Suas poéticas atravessam as questões de fluxo, tempo e infinito. Em agosto, ela estará em Vitória com o Projeto ArteCria, da Matias Brotas, que fomenta discussões sobre a arte contemporânea junto ao público infantil.
MAI-BRITT WOLTHERS
É uma das artistas mais em ascensão da contemporaneidade. Traz em suas obras a vitalidade brasileira além da pureza e rigor nórdicos. As obras da artista dinamarquesa são, na grande maioria, abstrações, com certa tendência de abordagem à natureza, onde apresenta equilibro e beleza, em composições de linhas, formas cores e proporções bastante femininas.
ROSANA PASTE
Além de professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), é doutora e artista capixaba expoente desde 1987 em galerias locais, nacionais e internacionais
RENATA EGREJA
Formada na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, na França, Renata explora o universo do carnaval e a potência cromática do nosso País. Por meio da arte, mergulhou no feminismo e transformou esse conhecimento em potência criativa
SASKIA SÁ
É mais conhecida pela sua capacidade ímpar de escolher temas dentro da profissão. "A diversidade entre os temas é enorme e sempre atuais", diz Lucia
DAIANA ROCHA
É cineasta jovem com um olhar moderno e ao mesmo tempo poético e que faz um uso muito original do gênero documental
GABRIELA SANTOS ALVES
A sensibilidade da Gabriela na direção conversa com o público e emociona. Além disso, ela tem muitas pesquisas sobre as mulheres no audiovisual, que são super importantes para a compreensão do meio
MAÍRA TRISTÃO
Também é da nova geração de realizadoras que desenvolvem a temática feminina e feminista com muita habilidade. Seus trabalhos giram em torno da história e da resistência das mulheres em diversas realidades, de questões sociais e de comunidades tradicionais
TATI FRANKLIN
É uma cineasta que, muito jovem, já circulou por diversos festivais brasileiros. A condução dela na direção faz com que, mesmo que o expectador seja de uma realidade totalmente diferente da realidade dos personagens, crie uma relação de empatia e proximidade
ENHEDUANA
É a primeira escritora conhecida do mundo. Nasceu na Mesopotâmia, no ano 2300 a.C. Era sacerdotisa. Deixou poemas e hinos dedicados à divindade feminina da deusa Inanna (a Lua)
EMILY BRONTE
É uma mulher à frente de seu tempo. Nasceu na Inglaterra, em 1818. Escreveu um dos mais belos e ousados romances de amor proibido da literatura mundial: "O Morro dos Ventos Uivantes"
CECÍLIA MEIRELES
Para Bernadette, é a mais poética, mais visual e mais sonora das escritoras brasileiras. Nasceu no Rio e Janeiro, em 1901. Tem uma prosa quase musical e versos intimistas, com referências míticas e místicas
CARMÉLIA MARIA DE SOUZA
É jornalista e cronista. Nasceu em Vitória, em 1936. Autora irônica e polêmica, ela deixou marcas cravadas na cultura capixaba
CHIMANANDA NGOZI ADICHIE
É escritora e feminista. Nasceu na Nigéria, em 1977, e estudou nos Estados Unidos. Tem uma obra de raiz fortemente africana, mas que apresenta mulheres em trânsito no mundo atual contemporâneo.
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