Publicado em 12 de dezembro de 2020 às 12:00
Com a aceleração da pandemia do novo coronavírus, em maio, A Gazeta publicou uma matéria relatando as dificuldades pelas quais passavam as companhias de teatro do Espírito Santo. A maioria fazia das tripas coração para não encerrar as atividades definitivamente. Passados sete meses, voltamos a consultá-las para saber como estão enfrentando uma crise que parece não ter prazo para terminar, principalmente após o novo aumento dos números de casos da Covid-19 no Estado. >
Mesmo podendo trabalhar - segundo a Portaria Nº 226-R/2020, cinemas, teatros e museus podem funcionar nas cidades classificadas como risco baixo ou moderado, desde que sigam os devidos protocolos sanitários -, muitas companhias não voltaram com espetáculos presenciais por medo do novo coronavírus. Assim, elas sobrevivem graças a ações solidárias e veem nas leis de incentivo cultural - em especial a Aldir Blanc - como uma forma de socorro imediato. >
Uma das trupes entrevistas, o Grupo Z, que conta com 23 anos de estrada, ainda está em momento de espera. A equipe, comandada pelo dramaturgo Fernando Marques, forma - ao lado da Repertório Artes Cênicas & Companhia - o conjunto Má Companhia, cuja sede se localiza no centro de Vitória. Hoje, o amplo espaço serve de galpão para depósito de materiais, mais ainda está por bons ventos que tragam de volta as montagens teatrais. >
Com o início da pandemia, o Grupo Z teve que suspender seus espetáculos. Não sabíamos quanto tempo duraria a crise sanitária. Como foi se prolongando, começamos a nossa articulação, pensando em outras possibilidades e apostando nos editais de cultura", afirma Marques. >
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Fernando complementa, dizendo que, em maio, o grupo esteve perto de fechar as portas. "Houve, nesse intervalo, a aprovação da montagem 'Nas Nuvens', que participou dos editais da Funcultura 2019, promovidos pela Secretaria Estadual de Cultura. Com o dinheiro recebido (cerca de R$ 70 mil), conseguimos garantir o aluguel do espaço físico até o final do ano. Para 2021, sua manutenção fica condicionada à aprovação de novos editais.>
Fernando Marques
Dramaturgo e e diretor do Grupo ZFernando Marques informa que, nesta semana, participou de uma reunião com a Secult/ES para decidir como será o formato de apresentação de "Nas Nuvens". >
"Ficou acertado que cada grupo ou artista contemplado pelo edital fará uma revisão do projeto, considerando que medidas de segurança mais rígidas são necessárias. Futuramente, haverá reuniões individuais atendendo a cada projeto", adianta. >
O Grupo Z espera o resultado dos editais lançados pela Secult relacionados a Lei Aldir Blanc. O conjunto se inscreveu nas categorias Artes Integradas, Cultura Digital e Trajetórias. >
"Se formos aprovados, pretendemos lançar um projeto de podcasts relacionados à interpretação de contos da literatura brasileira. Essa interação digital será primordial a partir de agora. Acredito que esse novo formato deve permanecer e se fortalecer no período de pós-pandemia." >
Nesse meio tempo, Fernando destaca que a equipe avaliou a utilização das plataformas digitais para continuar com as apresentações. O resultado, porém, não fluiu com a qualidade desejada. Tentamos adaptar espetáculos para streaming, mas não ficamos satisfeitos. Devemos nos preparar mais para a possibilidade dessa nova linguagem, revela.>
O diretor elogia a política de editais, mas afirma que não é o suficiente para garantir a promoção da cultura no estado. O ideal seria se o edital fosse uma parte complementar de uma política pública voltada especificamente para a arte e a cultura, defende. >
Fernando confessa que, a partir dos editais que começam a ser lançados, a equipe pretende desenvolver novos projetos. Nos últimos meses, a companhia viveu momentos de muita dificuldade, em que contou com a solidariedade de muitas pessoas para se manter viva. A tendência é que a situação financeira se estabilize, caso sejam aprovados pelos novos editais. Estamos discutindo os planos à medida que as coisas vão acontecendo", acrescenta.>
A situação do grupo Folgazões não difere das demais companhias teatrais do Estado. Um de seus diretores, Foca Magalhães, afirma que a equipe também precisou de doações no início da pandemia para não fechar as portas. Agora, eles apostam nos nos recursos provenientes das leis de incentivo cultural. >
Com o apoio da comunidade, conseguimos levantar uma quantia que nos permitiu garantir quatro meses de despesas, sobretudo no pagamento de impostos, revelou, em tom de alívio, uma vez que a Folgazões possui sede própria. Magalhães, porém, detalha que a inscrição em editais só seria concretizada se o grupo não possuísse impostos atrasados. >
O diretor complementa, dizendo que a companhia tem se mantido graças à liberação de verbas de editais de 2019, como o Funcultura, da Secult/ES, que foi recebidas no segundo semestre deste ano. No início do mês, a Folgazões participou do projeto Circuito Banestes de Teatro, apresentando a peça Rubem Braga A Vida em Voz Alta, com transmissão ao vivo pelas redes sociais do Palácio Sônia Cabral.>
"Recebemos a primeira parcela do Funcultura, no valor de R$ 35 mil, mas estamos negociando com a Secretaria Estadual de Cultura para saber como será o formato de apresentação do projeto 'Buffalo's Show', selecionado pelo edital. Acredito que a filmagem do espetáculo, disponibilizando o material em uma plataforma digital seria uma saída", planeja, complementando que aguarda o resultado dos editais da Lei Aldir Blanc junto ao Governo do Estado e a Prefeitura de Vitória. >
Os dois últimos projetos da companhia foram pensados para o palco, A Lenda do Reino Partido e Buffalo's Show, que teve a turnê interrompida por conta da Covid-19. Com o avanço da pandemia, o grupo planeja estrear, ainda em dezembro, sua nova montagem, Bunker Village, em formato on-line. A peça versa sobre esse momento em que estamos vivendo, especialmente o isolamento, buscando as implicações que a pandemia gerou nas relações sociais, adianta Magalhães. >
E o auxílio aos artistas capixabas está chegando, mesmo que a conta-gotas. A Secretaria de Cultura de Vitória divulgou no Diário Oficial desta quinta-feira (10) o resultado o Chamamento Público referente ao edital da Lei Aldir Blanc. Ao todo, 132 propostas foram aprovadas. Os selecionados podem ser conferidos na internet.>
Os convocados terão até terça-feira (15) para apresentar a comprovação da abertura da conta bancária, em nome do proponente, destinada exclusivamente para o recebimento do recurso, em instituições financeiras oficiais (Banestes, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal). Os dados devem ser enviados ao e-mail: [email protected]. O Chamamento Público é dividido em duas categorias: uma de apresentações em diversas linguagens artísticas e outra para formações artístico-culturais.>
Procurada pela reportagem, a Secult/ES informou que os editais relacionados a Lei Aldir Blanc ainda estão em andamento e devem seguir até o dia 17. As categorias contempladas, neste novo chamamento, são: Cultura em Toda Parte (para circulação e difusão de atividades culturais), Memória e Diversidade Cultural (para ações de pesquisa e registro), Livro e Cultura (incentivo à leitura em bibliotecas públicas e comunitárias) e Trilhas da Cultura (para oficinas, cursos e treinamentos em atividades artísticas e culturais).>
Estes chamamentos são destinados para Organizações da Sociedade Civil (OSC), e está prevista a verba de R$ 5,4 milhões. Cada edital ficará com inscrições abertas por 15 dias, com prazo de dez dias para as avaliações da comissão julgadora e três para o recurso. As normas e formulários dos editais estão disponíveis na internet e as inscrições podem ser feitas no site do Mapa Cultural. >
O resultado da primeira leva de chamamentos, que contemplaram as categorias Artes Integradas; Licenciamento de Obras Audiovisuais (filmes, videoclipes e séries); Trajetórias e Cultura Digital, estão começando a ser divulgados. De acordo com a Secult, Licenciamento de Obras Audiovisuais foi o primeiro a ter a lista divulgada. Mais informações, podem ser conseguidas no site do órgão.>
Além do aporte da Aldir Blanc, a Secult/ES lançou sua linha de editais de cultura para 2020. São 26 editais voltados para produção, difusão e fomento da cultura capixaba. Cada chamamento tem um prazo específico de inscrições. As datas, e informações sobre a inscrição, podem ser conferidas no site do órgão. >
Os Editais da Cultura são realizados com recursos do Fundo Estadual de Cultura, e tem um aporte total de R$ 10,3 milhões. As linhas de projetos são divididas entre os eixos: Editais Transversais; Audiovisual; Linguagens Artísticas e Memória; e Patrimônio. >
(Com participação de Israel Zuqui)>
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