Recorrência de policiais dando tapa na cara de cidadãos é inaceitável

Agressões em abordagens policiais não podem ser institucionalizadas. Autoridade é bem diferente de autoritarismo, inconcebível no Estado democrático de Direito

Publicado em 05/01/2021 às 06h00
Homem é agredido por PMs em Piúma
Homem é agredido por PMs em Piúma. Crédito: Reprodução/TV Gazeta

Denúncias de violência policial ganharam força e visibilidade com a proliferação dos celulares. Hoje é possível dizer que todos carregam no bolso um instrumento contra essa truculência. E por mais que qualquer imagem que se dissemine pela internet careça de contexto antes de qualquer julgamento, o flagrante de um policial militar dando um tapa na cara de um cidadão explicita o abuso de autoridade em qualquer circunstância. 

Um policial, como representante do Estado para a manutenção da ordem, não pode ceder a provocações e intimidações, devendo estar preparado para tais adversidades durante as abordagens. O uso indevido da força potencializa a desordem e o caos, o que por si só já seria motivo para ser um comportamento reprovado, contrário à própria essência dessa instituição bicentenária. Mas, acima de tudo, é uma postura que agride a dignidade dos cidadãos.

A recorrência de episódios como o registrado em Piúma na última sexta-feira (1º), quando um técnico de refrigeração foi agredido durante uma confusão registrada em vídeo, expõe um despreparo que é inadmissível. As autoridades policiais devem se impor com a autoridade que cabe a elas, jamais pela imposição da força quando não se encontra sob ameaça. Tapa na cara, bem como qualquer agressão física gratuita, é algo intolerável. E uma covardia.

As circunstâncias da abordagem devem ser investigadas com rigor. O relato dos policiais militares envolvidos aponta que houve fuga e agressões por parte dos suspeitos de estarem incomodando a ordem pública com som alto no carro. A reação registrada pelas imagens, contudo, foi desproporcional, com os policiais nitidamente não sabendo lidar com a situação.

A Polícia Militar informou nesta segunda-feira (4) que a Corregedoria já instaurou um procedimento de apuração para analisar o caso. Espera-se, sobretudo, transparência e agilidade no esclarecimento desse caso, algo que exemplos recentes mostram que não tem sido a regra.

Está para completar um ano que um frentista levou um tapa na cara e ficou na mira da arma do sargento Clemilson Silva de Freitas. Tudo gravado pelas câmeras de segurança do posto em Vila Velha. Até o fim do ano, o sargento respondia a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) que só teria prosseguimento quando se encerrassem as sucessivas licenças médicas recebidas por ele desde o registro da agressão.

Em 2018,  o sargento da Polícia Militar Isaías Segades de Souza foi flagrado por câmera de celular desferindo um tapa na cara de uma adolescente. Um acordo pôs fim ao processo em outubro passado, no qual ficou determinada a doação de um bebedouro industrial de 5 litros e duas torneiras à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do município da Serra. E Brasil afora esse tipo de cena se repete com uma frequência inaceitável.

O "tapa na cara" em abordagens policiais não pode ser institucionalizado.  Autoridade é bem diferente de autoritarismo, inconcebível no Estado democrático de Direito. Policiais devem ser firmes, não violentos. E também deles é exigido o cumprimento da lei. É urgente que se busquem mecanismos de controle para esse tipo de comportamento que só serve para manchar a imagem da corporação.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.