Empobrecimento das pessoas é sintoma de um país doente

Em Vitória, quem recebe salário mínimo gasta 57% da renda com a cesta básica.  Situação expõe as penosas condições de vida de parte significativa da população brasileira

Publicado em 15/01/2021 às 02h00
Cesta básica
Itens da cesta básica no supermercado. Crédito: Fernando Madeira

A renda das famílias não tem conseguido acompanhar a escalada no preço dos alimentos nos últimos anos, e o resultado é que, em Vitória, o custo da cesta básica já consome atualmente 57% do salário mínimo. Em uma década, é a primeira vez que um salário não possibilita a compra de duas cestas básicas. Quando se pensa na crise econômica na qual o país está atolado desde a metade da década passada, o aperto que os mais pobres passam para conseguir levar alimento para casa é o sinal mais evidente das dificuldades. A perda contundente do poder de compra  tem efeitos sensíveis no empobrecimento da população.

A pandemia foi um agravante, mesmo que amortecido pela distribuição do auxílio emergencial. A renda de mais de 60 milhões de brasileiros impossibilitados de trabalhar foi substituída ou incrementada por R$ 600, valor do benefício nos primeiros meses. Em 2020, na Grande Vitória, a inflação ficou em 5,15%, acima da média nacional, puxada sobretudo pelos preços de alimentos e bebidas. Sendo que o auxílio emergencial contribuiu para a elevação dos preços como um fator de aumento da demanda.

E por aí também é possível avaliar o quanto a cesta básica está pesando no orçamento familiar de quem mora em Vitória. Em 2020, o valor dela foi de R$ 600,28... justamente o que foi pago de auxílio durante três meses. Já a população que recebe um salário mínimo teve de desembolsar, como dito anteriormente, 57% do que recebe para garantir a sobrevivência com itens de alimentação básicos. O esforço desprendido para atravessar o mês fica cada vez maior para a população de renda mais baixa, sem que se vislumbre uma melhora.

A cesta básica abocanha a maior parte da renda, o que expõe as difíceis condições de vida de parte significativa da população. Não sobra dinheiro para lazer, para uma emergência. Famílias inteiras  precisam se desdobrar. A deterioração do quadro social e econômico do Brasil deveria estar na vanguarda das preocupações governamentais, mas ainda é encarada de soslaio. A esperada reorganização do país, com as reformas estruturantes que fortaleçam o Estado e atraiam mais investimentos, tem como foco acima de tudo a melhoria da qualidade de vida, como resultado de um país mais eficiente e justo.

E é preciso dar o devido peso aos problemas econômicos e sociais que a pandemia acentuou. O desemprego atinge 14,1 milhões de pessoas, segundo o IBGE. A suspensão de contratos e a redução de salários foram uma das medidas mais acertadas para a manutenção do emprego, mas o pagamento da complementação pelo governo federal não foi suficiente para manter o padrão de vida. O cinto apertou bastante também para a classe média.

O empobrecimento das pessoas é o sintoma mais evidente de um país doente. E a enfermidade brasileira é anterior à Covid-19. Um estudo publicado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que, entre 2012 e 2019, a renda da metade mais pobre da população caiu 18% no Brasil. Parece pouco para quem tem muito ou pelo menos o suficiente... mas, para quem tem pouco, faz muita diferença. Assim como os R$ 600,28  de uma cesta básica. 

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