Em vez de ajudar quem precisa, furar teto deixa brasileiros mais pobres

Ninguém nega que milhões de brasileiros precisam de suporte, mas ajuda deve ser encaixada em orçamento. Rombo nas contas leva a fuga de investimentos, alta do dólar, inflação, desaquecimento da economia e desemprego

Publicado em 25/10/2021 às 02h00
Ministro da Economia
O ministro da Economia, Paulo Guedes, justificou furo do teto de gastos para bancar Auxílio Brasil. Crédito: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Na superfície, o drible no teto de gastos pode parecer a postura humana de um governo de assistir as camadas vulneráveis em uma emergência. Essa foi exatamente a justificativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, quando afirmou que prefere tirar nota 8 em política fiscal e 10 em política social, ao anunciar o programa Auxílio Brasil. Mas essa é só a casca da manobra, mais alinhada ao casuísmo e a motivos eleitoreiros do que a um verdadeiro plano de gestão de crise econômica.

Ninguém nega que milhões de brasileiros lançados à pobreza e à miséria precisam de suporte. O auxílio emergencial criado nos primeiros meses da pandemia para socorrer desempregados e autônomos foi uma das medidas acertadas da atual gestão nesse sentido. Não haveria nada de errado em aumentar o valor pago aos beneficiários do Bolsa Família no novo Auxílio Brasil, que substitui o programa anterior, desde que esse incremento fosse factível dentro dos limites do orçamento. Não é o caso.

Ao dar um cavalo-de-pau nas contas públicas com o furo do teto, o governo Jair Bolsonaro abre uma avenida para o produzir o efeito diametralmente oposto do propagado e deixar os brasileiros ainda mais pobres. A curto prazo, o pagamento de R$ 400 reais certamente ajuda os beneficiários e pode até dar um fôlego à economia, com aumento do consumo pelas famílias. Mas é um voo de galinha. A médio e longo prazos, a história é bem diferente, simplesmente porque o governo não tem condições de bancar a medida.

A lógica é a mesma das finanças pessoais. Uma pessoa que faça compras sem capacidade de quitar as dívidas será inscrita em um cadastro de maus pagadores. Com o nome sujo na praça, a vida complica. No caso do Brasil, o rombo no teto de gastos já está sendo calculado em 100 bilhões, o que coloca para girar uma complexa engrenagem que, ao final, tem o mesmo resultado prático que um vizinho caloteiro. Sem credibilidade, há uma debandada de investidores, a fuga de capitais leva a dólar alto, escalada dos preços, aumento da inflação, subida dos juros, desaquecimento das atividades econômicas e, consequentemente, desemprego.

Enquanto os brasileiros sentem na pele os efeitos da alta de preços e cortam na carne, Jair Bolsonaro mais uma vez rasga o discurso de posse, desta vez ao abandonar a âncora fiscal, tão cara ao liberalismo econômico que o alçou à presidência. É a crônica de um desastre anunciado, sobretudo em um país já fragilizado em diversas frentes, na saúde, no meio ambiente, na cultura.

O furo do teto não passa de um puxadinho populista, incapaz de criar um horizonte sustentável para promoção do bem-estar social, tão improvisado e inócuo quanto o auxílio anunciado para caminhoneiros. O governo, preocupado apenas com o capital político que vem se desmantelando a cada pesquisa de intenção de votos, nem se deu ao trabalho de disfarçar o propósito eleitoreiro da medida, uma vez que o benefício inchado só vale até 2022. Não há responsabilidade social sem sustentabilidade fiscal.

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