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Instituto Inhotim tenta superar crise e garante que não vai fechar

Instituto Inhotim tenta superar crise e garante que não vai fechar

Em janeiro deste ano, o rompimento de uma barragem de dejetos da mineradora Vale, no Córrego do Feijão, inundou Brumadinho de lama e causou a morte de 251 pessoas

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 17:48

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Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG). (Reprodução)

Agência FolhaPress - O Instituto Inhotim, museu a céu aberto em Brumadinho - Minas Gerais, tem passado por uma crise nos últimos anos. Em janeiro deste ano, o rompimento de uma barragem de dejetos da mineradora Vale, no Córrego do Feijão, inundou Brumadinho de lama e causou a morte de 251 pessoas.

Antes disso, no entanto, o museu já enfrentava problemas. Em janeiro de 2018, um surto de febre amarela na região fez com que a visitação caísse em um quarto em relação à média esperada.

Em 2017, o fundador, o empresário da mineração Bernardo Paz, foi condenado em primeira instância a nove anos de prisão por lavagem de dinheiro -20 obras do acervo pessoal exibidas no museu e com valor declarado de US$ 128,7 milhões (cerca de R$ 450 milhões) foram negociadas como pagamento de impostos atrasados ao governo mineiro.

A situação financeira do museu refletiu esse cenário. A receita líquida caiu em um terço entre 2016 e 2018, e resultou em um aviso de "dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional do Instituto", repetido nos relatórios contábeis de 2017 e de 2018.

O Inhotim vai, então, fechar? O diretor-presidente do instituto, Antonio Grassi, é taxativo ao responder. "Não existe a menor chance de isso acontecer."

"Não vou dizer que tudo é um mar de rosas", emenda. "Esses pontos de observação [do relatório] dizem respeito à dependência das leis de incentivo, e vivemos uma insegurança em relação à continuidade delas no final do ano passado. Mas conseguimos mostrar para as pessoas que o Inhotim continua funcionando, que não foi soterrado."

Apesar de tímidos, os números de visitação corroboram a fala de Grassi. O total de visitantes de janeiro a setembro deste ano supera em 8% o do mesmo período do ano passado, muito graças às férias de julho.

Não tão tímidos, os patrocínios também engordaram desde o rompimento da barragem. Segundo o museu, o Itaú aumentou o apoio de R$ 1,5 milhão para R$ 3,5 milhões. A Vale, de R$ 2 milhões para R$ 4,9 milhões. Além disso, a quantidade de patrocinadores saltou de 10 para 12.

Em consequência, o valor captado via lei Rouanet este ano até agora foi de R$ 10,6 milhões, R$ 2,3 milhões a mais do que no ano passado. Segundo Grassi, ele corresponde a cerca de metade do orçamento de Inhotim, complementado por doações, bilheteria, serviços e outros.

As boas notícias vêm acompanhadas de uma série de inaugurações no próximo dia 9 de novembro, depois de um hiato de quatro anos desde a expansão vertiginosa que caracterizou o começo do museu.

A mais importante delas é uma obra de grandes dimensões do escultor Robert Irwin, planejada há mais de cinco anos. A estrutura octogonal de seis metros de altura e 14 de diâmetro é a maior construção do artista americano do pós-guerra que, explica o diretor artístico Allan Schwartzman, é famoso por criar "ambientes" imersivos, que ativam os cinco sentidos e alteram a percepção da experiência do espaço.

É o caso desta obra, que Schwartzman compara a uma laranja descascada com os gomos abertos. Triângulos de vidro amarelo localizados em seu topo filtram a luz do sol que irradia sobre o ponto mais alto do instituto, antes inacessível ao público.

Além disso, Inhotim também anuncia um novo projeto, que comissiona a artistas brasileiros obras temporárias, a princípio exibidas por seis meses, segundo Schwartzman. Os primeiros convidados são Lucia Koch e Rommulo Conceição.

Brasileiros também protagonizam a nova exposição temporária da Galeria Mata. Em diálogo com a nova obra de Irwin, seis trabalhos da coleção debatem questões próprias da escultura contemporânea. Algumas delas só simulam a tridimensionalidade, caso de "Seção Diagonal", de Marcius Galan, que cria a ilusão de um vidro verde.

Claudia Andujar ainda ganha uma nova adição à galeria. Em uma instalação realizada em parceria com a dupla Gisela Motta e Leandro Lima, uma fotografia em preto e branco de uma maloca ianomâmi incendiada é projetada através de um filtro vermelho e uma camada de água em movimento, dando vida ao instante capturado em 1976.

Por fim, "De Lama, Lâmina", obra de Matthew Barney que passava por restauros, será reaberta, assim como as galerias "True Rouge", de Tunga, e "Narcissus Garden Inhotim", de Yayoi Kusama (um espaço dedicado à japonesa fascinada por bolinhas será aberto em 2020).

É a essas melhorias que Grassi credita a ausência do instituto dos cadernos jornalísticos de cultura em direção às seções de política e cotidiano nos últimos anos. "Tivemos a fase de inaugurações, agora estamos na fase de restaurações. Afinal, muitas das obras que foram abertas naquela época de expansão estão completando dez anos."

Não que a situação esteja de "Sombra e Água Fresca", para usar o nome do novo jardim que abre ao público nesta onda de novidades.

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Em tempos de crise econômica e diminuição dos patrocínios direcionados ao setor cultural, "a perenidade do museu está nas mãos da sociedade, e não só da iniciativa privada", diz Grassi. "Tivemos algumas empresas ampliando patrocínios, mas seguimos nessa busca."

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