Publicado em 20 de julho de 2022 às 11:10
RIO DE JANEIRO, RJ - Apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) como solução para baixar o preço do diesel, a importação do combustível da Rússia é vista hoje como inviável pelo setor, diante das sanções impostas ao país após o início da Guerra da Ucrânia. >
Grandes distribuidoras e importadores de combustíveis consideram que o risco é alto e há apenas uma empresa, de Santa Catarina, com autorização para buscar diesel em refinarias russas, mas o negócio ainda não foi concretizado.>
No domingo (17), Bolsonaro disse que há negociações "bastante avançadas" com a Rússia para fornecimento de diesel ao Brasil por um preço menor. "Quantos por cento? Não sei. Quanto mais barato, melhor", afirmou, sem dar mais detalhes sobre o acordo.>
A reportagem ouviu empresas do setor que vêm participando de reuniões com o governo sobre o tema, em um contexto de tentar garantir o suprimento do mercado até o fim do ano, mas há grande descrédito com relação a algum desfecho favorável.>
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Um desses encontros aconteceu no dia 1º, com representantes dos governos do Brasil e da Rússia, as petroleiras russas Rosneft, Gazprom e Lukoil e distribuidoras e importadoras de combustíveis com atuação no Brasil.>
Segundo um dos participantes, os russos ofereceram o produto, mas sem detalhar volumes nem preços. Nenhum acordo foi selado na reunião.>
A Rússia ocupa a terceira posição tanto entre os maiores produtores mundiais de petróleo (atrás dos EUA e da Arábia Saudita) quanto entre os países com maior capacidade de refino (atrás dos EUA e da China).>
O mercado se preocupa com os riscos de eventuais operações. Primeiro, porque a Rússia foi excluída do sistema usado pelos bancos para pagamentos transnacionais, chamado Swift. Segundo, porque as sanções impedem que seguradoras e transportadoras operem com produtos russos.>
Há ainda riscos de sanções para empresas sediadas, com operações ou ações negociadas nos EUA, como as principais tradings globais de combustíveis, ou de danos à imagem por negociações com empresas russas enquanto a guerra perdurar.>
"Devido às sanções impostas, as importações de produtos de fornecedores russos estão impossíveis", resume Sergio Araújo, presidente da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).>
Executivo de uma grande distribuidora de combustíveis brasileira acrescenta que, embora refinarias russas possam oferecer diesel mais barato, os altos custos do transporte neste momento tornariam o produto mais caro do que o principal fornecedor do Brasil, os EUA.>
Após o início da guerra, uma empresa catarinense chamada Uptime Brasil obteve autorização da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) para comprar diesel da Rússia e negocia trazer 25 mil toneladas por mês, o equivalente a 0,02% do volume importado pelo país em maio.>
A ideia é fechar um contrato de 12 meses e, para driblar as sanções, a empresa vem negociando garantias e pagamentos por bancos asiáticos, prática usada também pelo setor de fertilizantes, área em que a Uptime também atua, diz o presidente da importadora, Eraldo Rosa.>
"Não vou mudar o Brasil, não vou conseguir baixar preço na bomba", diz. "Mas é importante porque é um começo. E, com isso, vai encorajar muitas empresas a procurar alternativas. O Brasil precisa." A expectativa é receber a primeira carga entre 30 e 45 dias.>
Para o setor será necessário um volume muito maior para que importações a preços mais baixos tenham impacto sobre o preço médio do combustível no país. Atualmente, cerca de 30% do mercado nacional é abastecido por produtos importados, a grande maioria dos EUA.>
O preço do diesel se tornou um problema para o governo, que tem pouca margem de manobra para forçar reduções nos postos, uma vez que os impostos federais estão zerados e a maior parte dos estados já aplicava alíquotas de ICMS menores do que o teto estabelecido no fim de junho.>
Assim, desde que o projeto de lei reduzindo impostos sobre combustíveis e energia foi promulgado, o preço nas bombas caiu apenas 1,2%. Com alíquotas maiores antes do teto, a gasolina já teve queda de 17,8%.>
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