Publicado em 19 de maio de 2025 às 10:10
Alguns dias após a confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja de Montenegro (RS), o setor de alimentos ainda não calculou o valor exato do impacto dos embargos impostos por outros países. Especialistas e produtores, porém, apontam possíveis efeitos no preço do frango e na logística de armazenamento das aves. Andre Braz, especialista em política monetária e inflação do FGV Ibre, afirma que, com a interrupção de parte das exportações, o excedente de aves pode ser deslocado para o mercado interno. Diante de uma sobreoferta, há a possibilidade de o país registrar queda no preço do frango, explica. >
De acordo com Braz, porém, em um segundo momento, os produtores devem ajustar a quantidade de aves ao novo mercado, para evitar aumento no custo de criação dos animais. "Os criadores sabem que o excesso de aves no mercado pode provocar uma queda abrupta no preço. Isso não vai pagar os custos de criação dos animais. Se o novo mercado é não exportar, eles também não vão criar muitas aves, vão dimensionar a criação para limitar quedas nos preços. Isso porque, para criar essas aves, eles precisam investir em rações."
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O comportamento dos preços, no entanto, também deve depender da quantidade de países que vetarem o frango e o ovo brasileiros, além do ritmo das liberações. Segundo o economista-chefe da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul), Antonio da Luz, pode haver alguma redução ao consumidor final, mas seria um corte temporário, diz, já que o ciclo das aves é curto, em torno de 30 a 40 dias até o abate, e os produtores vão se ajustar à nova demanda.>
"O mercado interno vai ficar abastecido como sempre esteve. Num primeiro momento, vamos ter um desequilíbrio, isso vai ter que ser reorganizado dentro da economia brasileira, mas aquilo que era para exportar provavelmente não vai ser produzido ou vai ser produzido menos, mas ninguém vai tirar totalmente o pé do acelerador porque logo logo a gente vai estar exportando de novo", diz.>
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O ovo tem sido um dos vilões na mesa do brasileiro. No acumulado dos últimos 12 meses até abril, o ovo de galinha registrou alta de 12,32%, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
Segundo Felipe Vasconcellos, sócio da gestora Equus Capital, gigantes do setor de alimentos, como BRF e JBS, devem observar queda nos preços das ações nesta semana. Ele diz que a indústria terá de ser criativa para realocar no mercado interno cortes pouco consumidos por brasileiros, como o pé de galinha, muito exportado para a China um dos países que suspenderam a importação de frango brasileiro.>
"Isso vai exigir um pouco de criatividade e ajuste na indústria. Eventualmente, o pé pode virar ração animal. O que vai acontecer é que [a indústria] vai remanejar", afirma. Vasconcellos também diz que o preço do frango pode sofrer os efeitos da interrupção nas exportações.>
"Por um pequeno espaço de tempo, nós podemos experimentar uma redução no preço do frango na mesa do brasileiro por conta dessa sobreoferta, porque um percentual do frango produzido pelo Brasil, que seria exportado, vai ter que ser comido por alguém", diz. Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), afirma que a suspensão das importações de frango brasileiro por alguns países pode causar problemas para a logística do setor, com a interrupção do fluxo de navios que transportam as aves e a necessidade de maior armazenamento para manter os produtos que não foram exportados após os embargos.>
"Esse fluxo é muito bem azeitado e funciona com 25 milhões de aves por dia. Já tem tudo certinho. Quando tem uma ruptura de alguns elos dessa cadeia, você tem que readequar", diz.>
Neste sábado (17), Uruguai, México e Chile se juntaram à lista de países que suspenderam as importações de frango e ovo do Brasil após a confirmação da gripe aviária em uma granja em Montenegro (RS), município de 64 mil habitantes, a cerca de 60 km de Porto Alegre.>
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