Publicado em 20 de outubro de 2020 às 09:05
Menos de um ano depois de comemorar a renúncia do ex-presidente Evo Morales, Jair Bolsonaro (sem partido) foi surpreendido com a virtual vitória em primeiro turno de Luis Arce, ex-ministro da Economia da Bolívia que lidera a volta do Movimento ao Socialismo (MAS) ao poder. >
Apesar de a conquista representar o retorno da esquerda ao país vizinho, frustrando expectativas do presidente brasileiro, auxiliares no Palácio do Planalto afirmam esperar que o novo líder boliviano, apadrinhado de Evo, busque uma relação pragmática com Bolsonaro.>
A enorme dependência econômica da Bolívia em relação ao Brasil, além do perfil moderado de Arce, não deixaria o novo presidente em condições de antagonizar com Bolsonaro apenas por questões ideológicas.>
Entre janeiro e outubro, o Brasil importou US$ 808,2 milhões (R$ 4,53 bilhões) do país vizinho, mas tem sinalizado a intenção de diminuir a demanda por gás, o que coloca pressão na economia local.>
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Os resultados oficiais do pleito boliviano ainda não foram divulgados, mas adversários e a Organização dos Estados Americanos (OEA) já reconheceram Arce como o vencedor no pleito.>
A expectativa no Planalto é que ele aposte no pragmatismo, algo que não representa uma novidade na relação entre os dois países, mesmo com líderes que militam em polos ideológicos opostos.>
À época um dos últimos sobreviventes da onda de esquerda latino-americana, Evo compareceu à posse de Bolsonaro no início de 2019 e evitou choques com o brasileiro. Mais do que isso, apressou-se em devolver Cesare Battisti à Itália para cumprir pena por terrorismo, num gesto que agradou Bolsonaro.>
Battisti foi preso na Bolívia após fugir do Brasil, onde tinha asilo político concedido no final do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.>
Assessores palacianos também preveem que Bolsonaro terá mais facilidade para tratar com Arce, uma vez que ele não é considerado uma referência da esquerda ligada a nomes como Hugo Chávez e Lula.>
Ninguém descarta, no entanto, alguma declaração de Bolsonaro criticando a volta do MAS ao poder no país vizinho, a exemplo do que ele faz com frequência com o presidente da Argentina, Alberto Fernández.>
De acordo com relatos feitos à reportagem, ainda não houve contatos entre a equipe de Arce e o Itamaraty, mas espera-se que eles ocorram na medida em que o resultado seja oficializado e se inicie a transição.>
A expectativa inicial do governo brasileiro era uma vitória do ex-presidente Carlos Mesa, do Comunidade Cidadã. Nas últimas semanas, no entanto, relatórios enviados a autoridades brasileiras já registravam um crescimento de Arce.>
Na semana passada, segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, o Palácio do Planalto já esperava que Arce saísse na frente no primeiro turno, mas Bolsonaro ainda acreditava que a disputa fosse para o segundo turno.>
A expectativa do presidente é de que Arce mantenha com o Brasil uma relação sem choques ou embates. A cúpula militar tem defendido que, apesar das diferenças ideológicas, Bolsonaro parabenize Arce pelas redes sociais após o resultado oficial.>
O governo brasileiro também não acredita que o novo presidente possa defender uma mudança no acordo de importação pela Petrobras de gás natural boliviano. A última negociação, finalizada em março, prevê a importação no volume máximo de 20 milhões de metros cúbicos por dia.>
Brasil e Bolívia negociavam a extensão do contrato de compra e venda de gás natural, que entrou em vigor em 1999 e venceu em 2019 sem que a Petrobras utilizasse todo o volume de gás contratado. O acordo assinado em março prevê que esse volume seja entregue em até seis anos.>
Sob pressão das Forças Armadas e de partidos de oposição, Evo renunciou ao cargo de presidente em novembro, depois de 13 anos no poder.>
Na época, Bolsonaro, que teve uma relação de idas e vindas com o então presidente boliviano, disse não considerar a saída um golpe e afirmou que a instabilidade política no país vizinho é uma lição para que o Brasil adote um sistema de votação seguro.>
Evo fazia parte do grupo de políticos de esquerda na América Latina combatido por Bolsonaro. Mesmo assim, ele chegou a ser elogiado por Bolsonaro no início de seu mandato.>
A relação amargou a partir da metade do ano passado, quando começaram os incêndios na floresta amazônica. Na época, Bolsonaro afirmou que era na Bolívia, e não no Brasil, onde ocorriam as maiores queimadas.>
Após a saída de Evo, o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a senadora Jeanine Añez, opositora do líder cocaleiro, como presidente interina da Bolívia.>
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