Publicado em 22 de abril de 2020 às 11:49
A pandemia tem exigido que as pessoas fiquem em casa, mas também as tem feito buscar mais informações sobre a doença e reorganizar a agenda de exames.>
Representantes do setor dos planos de saúde ouvidos pela reportagem relatam, alguns sob condição de anonimato, crescente demanda por serviços, que se manifesta de diferentes formas. Por outro lado, revelam a expectativa de que aconteça, a partir de abril, uma retração do mercado devido à desaceleração da economia.>
A Prevent Senior, por exemplo, seguradora que foca o atendimento a idosos (principal grupo de risco para o vírus), observou crescimento na sua carteira de beneficiários.>
Foram mais de 13.939 novos contratos firmados pela empresa desde o início do ano: 3.700 em janeiro, um salto para mais de 5.000 em fevereiro e o mesmo patamar em março.>
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Já a corretora Brazil Health observou aumento no número de beneficiários em todos as categorias de planos, de janeiro a março deste ano.>
Os dois que mais cresceram foram o individual, com 76%, e o familiar, 72%. Logo atrás vem o tipo de adesão coletiva, aquele feito por meio de representantes de profissões, como sindicatos (61%), seguido do empresarial (57%).>
O plano PME, de pequenas e médias empresas - primeiro setor a sentir os impactos da pandemia na economia -, foi o que menos cresceu, 14%.>
"Um viés de atenção é o segmento empresarial acima de cem vidas e PMEs, que em abril vem apresentando muita demanda de exclusão e prorrogação de [vencimento de] faturas. Há cenário de preocupação quanto à inflação médica deste ano. Teremos que ter sabedoria e empatia", diz o diretor da Brazil, Marcelo Reina.>
Empresas de atuação regional também têm percebido a mudança. A Promédica, de Salvador, passou a vender planos de saúde individuais em outubro do ano passado.>
Terminou 2019 com pouco mais de 10 mil vidas em sua carteira. Em janeiro de 2020 somou mais 679, em fevereiro, mais 873 e em março, mês da primeira morte pela Covid-19 no Brasil, 1.322. É um crescimento total, subtraído os pouco mais de 300 contratos desfeitos no período, de 27%.>
Já a Care Plus afirmou que os pedidos de cotações de novos contratos subiram 172% em março deste ano em comparação com o mesmo mês de 2019.>
A pandemia tem impactado a economia. Fontes ouvidas pela reportagem dizem que é cedo para aferir números, mas que a tendência é que o segmento entre em retração e que esta se agrave nos próximos dois ou três meses. >
Cresceram, por exemplo, relatos de pessoas ou empresas que tentam renegociar seus contratos, postergar vencimentos ou cancelar os planos. >
Diante deste cenário, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) e a Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde) recomendaram a suspensão de reajuste nos valores dos planos de saúde por 90 dias. >
Juntas, as duas instituições reúnem cerca de 26 milhões de brasileiros em suas seguradoras associadas. Normalmente os reajustes são feitos a cada 12 meses. A indicação vale a partir de 1º de maio. >
Já a Agência Nacional de Saúde Complementar(ANS), que regula os planos de saúde no país, liberou às seguradoras fundo de R$ 15 bilhões, com a contrapartida de que elas cumpram exigências como não suspender contratos e atender a segurados que estejam inadimplentes na pandemia. >
A necessidade ficar em casa faz pacientes desmarcarem consultas. Roberta, 23, por exemplo, cancelou exames de tireoide e papanicolau. >
Vinícius, 3, parou de ir à psicóloga após seu plano de saúde negar a cobertura do atendimento virtual. As empresas responderam que estão se adaptando às necessidades de segurança.>
O aumento na demanda tem feito as seguradoras diversificarem a oferta de serviços. Até agora, a telemedicina tem sido o principal meio de atender aos beneficiários. >
"As pessoas não estão saindo de casa e têm o receio frequentar o espaço médico. Neste aspecto houve diminuição do comparecimento das pessoas aos pronto-socorros. Por outro lado, houve aumento na procura com sintomas com doenças respiratórias. Um não compensa o outro ainda", diz Daniel Coudry, CEO da Amil. >
A empresa abriu nesta quinta (16) sua modalidade de telemedicina, antes restrita aos planos mais caros da seguradora, a todos os beneficiários. A estrutura terá 360 funcionários, funcionará 24 h e poderá receber 6.000 ligações por dia. >
A ampliação da telemedicina foi antecipada pelo vírus, mas Coudry defende que, após a crise, ela deve seguir ativa e funcionando também para consultas eletivas. "O cliente faz a consulta com o médico de emergência, que detecta se ele precisa de segmento mais rotineiro, e aí ele pode fazer agendamento com cardiologista, neuro, ortopedista", diz. >
A solução, autorizada pelo Ministério da Saúde, em março, tem sido usada por outras empresas. O órgão também obrigou os planos a cobrir exames para coronavírus. >
A rede Sul-América teve em março número de atendimentos pelo canal Médico na Tela 15 vezes superior ao de janeiro e fevereiro. E afirmou que 89% dos chamados não precisaram se dirigir a um hospital. >
A Care Plus disse que seu atendimento telefônico passou da média de cem ligações por mês para cem por dia. E que 70% das consultas em pronto-socorro podem ser resolvidas por este meio. >
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