Ph.D em Contabilidade, consultora de empresas em Ciência de Dados e negócios, professora da Fucape Business School, jornalista e comentarista da CBN Vitória

Liquidação da Bolsa: vale comprar ações baratas nesta sexta (11)?

O mercado de capitais ficou em polvorosa nesta quinta-feira (10) após o presidente eleito, Lula, criticar a 'tal responsabilidade fiscal'

Vitória
Publicado em 11/11/2022 às 09h44
B3, Bolsa de Valores de São Paulo
B3, Bolsa de Valores de São Paulo. Crédito: GUSTAVO SCATENA

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) sacodiu bastante nos últimos dias pós-eleição presidencial, com retornos negativos em vários setores da economia. Apenas nesta quinta-feira (10), o índice com os papéis mais líquidos do pregão, o Ibovespa, caiu 3,4%, a maior queda diária em um ano. O mercado financeiro reagiu mal ao aos sinais de irresponsabilidade fiscal emitidos pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Por que a responsabilidade fiscal afeta o mercado de bolsa de valores? Se um governante sinaliza que quer gastar mais, porém não indica de onde vem o dinheiro para cobrir esses gastos, o investidor (em especial o estrangeiro) desconfia e antecipa o risco, vendendo seus ativos. O capital estrangeiro (e doméstico) se esvai da Bolsa, e os preços dos ativos despencam. No ano, o Ibovespa já registra queda de 4,73% acumulada, fixando-se hoje no patamar de 109.775 pontos.

Consequência indireta da fuga de capital estrangeiro da bolsa doméstica: o dólar fica mais escasso no Brasil. Sua cotação sobe perante o real. Com isso o câmbio subiu a R$ 5,39. E o mercado futuro tem apostado que o dólar tende subir mais.

Depois de três meses de deflação, o dragão que achávamos estar dormente acordou, e o IPCA, inflação oficial brasileira, subiu 0,59%. A Petrobras, mesmo pagando um dos maiores dividendos de sua história, ainda amarga retornos negativos, por conta da percepção de risco do investidor.

Tudo isso nos dará ativos mais baratos na bolsa, ações que se desvalorizaram. Devo comprar ações baratas? Há bagatelas na prateleira, tudo a preço de hoje (antes da abertura das negociações): A Trisul (TRIS3) sai a R$ 4,28; A Tenda (TEND3), a R$ 5,18; a Petz (PETZ3) custa R$ 8,47; o papel do Banco BMG sai a míseros R$ 2,33.

Mas bolsa de valores não é liquidação de fim de ano. Bolsa de valores é investimento de longo prazo. Não é porque uma ação está barata hoje que ela estará cara amanhã, quando você vender. É preciso analisar os fundamentos das empresas antes de bater o martelo.

Quanto preciso ter para comprar uma ação? As ações são vendidas, em geral, em lotes padrão de 100 unidades. Então, se um papel custa R$ 5,00, o lote mínimo custa R$ 500. Mas há as opções de ações fracionadas: quando o ticker (código) da ação tem um F no final, isso significa que o papel está sendo vendido a uma quantidade abaixo do lote padrão. Então, é possível comprar uma única ação a R$ 5,00.

Algumas questões merecem atenção quando compramos ações fracionadas. Há taxas de corretagem por operação, que podem exceder o preço de uma única ação. Por que você compraria uma única ação por R$ 5 e pagaria uma taxa de R$ 10? Não faz sentido. Quanto menos você compra na bolsa, maior será o peso das tarifas e taxas sobre as operações.

No fim do dia, as ações fracionadas ampliam o acesso do investidor pequeno ao mercado, mas a um custo relativo mais alto, uma vez que os papéis fracionados também têm mais baixa liquidez. Será mais difícil depois vender as ações fracionadas na bolsa, uma vez que a maioria dos compradores prefere o lote padrão.

Por fim, se o preço baixo não é o único determinante da escolha por uma ação, o que o pequeno investidor deve olhar? Primeiro olhe a curva de crescimento das receitas líquidas da firma. Ela está vendendo mais no tempo? Olhe a base de clientes, tem crescido?

Depois, olhe a estrutura de custos do negócio. Tem uma conta chamada CMV (custo da mercadoria ou serviço vendido) na demonstração dos lucros da companhia. Coloque receitas e custos em um gráfico no tempo. Quando as receitas crescem e o custo se mantém constante no tempo, há ganhos de escala e aumento de margem. Sinalização de crescimento.

Há muitos outros fundamentos da companhia a serem observados por meio da contabilidade, o endividamento em especial. Dívida é boa, se bem administrada. Dívida em excesso aumenta o risco do negócio. Há indicadores para isso. A dica mais importante aqui é: não é porque está barata hoje, que a ação vai explodir no futuro. O preço já atingiu o chão? Lembre-se, há sempre um subsolo...

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