Sócio da Valor e membro do Ibef. Tem graduação e mestrado em Engenharia Mecânica pela Ufes e formação na França. Foi capitão-tenente e engenheiro da Marinha do Brasil

Os perversos conflitos de interesses no mercado financeiro: como se proteger?

Modelo inspirado em práticas internacionais elimina incentivos distorcidos, favorece rentabilidade de longo prazo e atrai profissionais mais qualificados

Vitória
Publicado em 14/11/2025 às 09h35

Do gerente de banco ao consultor de investimentos, planejador financeiro e assessor de investimentos. A evolução do mercado financeiro no Brasil passou por grandes transformações nos últimos 20 anos, reduzindo conflitos de interesse antigos e criando novos.

Em um primeiro momento, as corretoras disponibilizaram produtos até então restritos a grandes bolsos, melhorando o acesso do público e reduzindo o monopólio dos bancos. Em seguida, um batalhão de assessores de investimentos fomentou o interesse dos brasileiros no mercado financeiro e, nesse processo, as comissões pagas na distribuição de produtos introduziram um novo e importante conflito de interesse.

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Fee fixo traz mais transparência ao serviço de assessoria financeira e incentiva decisões alinhadas ao patrimônio do investidor . Crédito: Freepik

Saindo das metas dos gerentes bancários, muitos investidores se viram reféns dos produtos indicados por assessores remunerados por comissões. Alocações ruins, produtos caros e perdas financeiras sufocaram a rentabilidade esperada.

Buscando solucionar essa questão, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleceu a Resolução CVM nº 178 de 2023, que flexibilizou o modelo de remuneração dos assessores de investimentos. Assim como consultores e planejadores financeiros, atualmente os assessores também podem ser remunerados unicamente por alíquotas fixas (normalmente 1% ao ano sobre o patrimônio investido). Algo semelhante à taxa de administração de fundos de investimentos.

Esse novo modelo, também conhecido como fee fixo, trouxe mais transparência sobre o custo do serviço de assessoria, bem como eliminou o conflito de interesse na distribuição de produtos.

Um assessor bem-intencionado se encontra em uma posição delicada no modelo comissionado, pois precisa equilibrar sua própria sustentabilidade financeira com o que é bom para o cliente. A busca por esse equilíbrio adiciona um gasto de tempo na tomada de decisão, inexistente no modelo fee fixo. Dessa forma, sem se preocupar com comissões, o assessor consegue se dedicar exclusivamente à rentabilidade da carteira e ao crescimento do patrimônio do cliente, pois são as únicas formas de aumentar sua própria remuneração no fee fixo.

Analogamente, em uma consulta médica, caso a única remuneração do profissional seja proveniente da medicação prescrita, o paciente pode correr sérios riscos de saúde e bons médicos teriam dificuldade de prosperar financeiramente, ao contrário de profissionais mal intencionados.

No modelo comissionado, profissionais conflitados enriquecem. Bons profissionais, não. Antes do modelo fee fixo, muitos assessores de alta qualidade se viram obrigados a abandonar o mercado por dificuldade financeira. Hoje, é possível contar com assessores de investimento genuinamente interessados em entregar o melhor para seus clientes (e financeiramente incentivados a isso).

Em todo esse contexto, o cliente tem uma importante responsabilidade: a escolha do modelo de remuneração. Diante da sensação de gratuidade do modelo comissionado, muitos deles submetem seu patrimônio à assessoria de profissionais conflitados ou, pior, deixam de ser atendidos por excelentes assessores que não desejam mais atender seus clientes com repasse de comissões.

Para saber mais sobre o fee fixo e como esse modelo contribui para o resultado dos seus investimentos, clique aqui e assista à entrevista que fiz com Adyr Nicchio, também assessor de investimentos da Valor e, assim como eu, grande entusiasta desse novo modelo de remuneração.

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