Para muitos empreendedores de pequenas e médias empresas (PMEs), a gestão financeira é, infelizmente, uma área frequentemente negligenciada. Essa foi uma constatação compartilhada por Luís França, sócio da Arquimedes Gestão Financeira Terceirizada, que me concedeu um agradável bate-papo no meu canal de entrevistas (assista no vídeo abaixo).
De fato, no calor da batalha operacional, o empresário acaba assumindo múltiplas funções (de comercial a comprador) e o financeiro é, muitas vezes, o último a ser estruturado. Diante dessa sobrecarga, contar com um serviço de BPO (terceirização de processos financeiros) pode ser uma alternativa estratégica não apenas para delegar atividades, mas também para acessar relatórios e indicadores gerados pela área. Afinal, a tomada de decisão deve estar baseada em dados.
Essa sobrecarga inicial faz com que o empreendedor se acostume a "tomar conta do dinheiro" pessoalmente, o que atrasa a profissionalização. Ao analisar sua situação, o empresário frequentemente constata que se limitou a monitorar o saldo bancário. Também carece de um histórico detalhado, não dispõe de informações sobre os gastos do trimestre anterior ou a alocação dos recursos. No atual cenário de taxas de juros elevadas, negligenciar a área financeira constitui, no mínimo, um erro estratégico. Afinal, um caixa que poderia proporcionar rendimentos a 15% ao ano já representa um crescimento mais substancial do que o alcançado por muitas empresas.
No contexto financeiro, o tripé formado por segurança, liquidez (a disponibilidade do recurso) e rentabilidade desempenha um importante papel. Com ele, observa-se que, para maximizar a rentabilidade sem comprometer a segurança, é necessário moderar o nível de liquidez. Portanto, ter excesso de liquidez nos ativos financeiros da empresa significa "deixar dinheiro na mesa".
É nesse ponto que a gestão de caixa estruturada se diferencia. Ao estimar o capital ideal para curto, médio e longo prazo, torna-se viável rentabilizar o excedente de maneira mais eficiente. No curto prazo, por exemplo, a utilização de uma operação compromissada (um instrumento de investimento com liquidez diária, análogo a um CDB, mas sem a incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pode gerar um retorno significativo. Conforme relatado, há clientes que cobrem os custos do serviço de BPO apenas com o rendimento gerado pela aplicação correta do capital que estava inerte.
Outro aspecto crucial é a imprescindível separação entre as finanças pessoais e as empresariais (o conhecido erro de misturar Pessoa Física e Pessoa Jurídica). Embora seja uma regra básica, a experiência demonstra que muitas empresas ainda possuem contas integradas. Tanto a contabilidade quanto o BPO devem atuar nesse processo de segregação, comunicando despesas pessoais e formalizando a remuneração do empresário, garantindo que o cartão corporativo seja utilizado estritamente para as finalidades da empresa.
Essa organização não apenas otimiza as operações diárias, mas também influencia diretamente o valuation (o valor de mercado) da empresa. Um setor financeiro organizado e um histórico de dados detalhado são elementos-chave para quem almeja vender a empresa ou atrair novos investidores. Na ausência de dados transparentes, o potencial comprador tenderá a aplicar uma margem de segurança no preço, o que deprecia o valor do negócio. Dados estruturados oferecem a previsibilidade necessária para quem está aportando capital, valorizando o ativo.
Por fim, a disciplina financeira também tem uma relação direta com a tomada de crédito. Em um ambiente de juros elevados, é vital evitar a contratação de empréstimos por impulso. Um orçamento e uma projeção de fluxo de caixa bem elaborados previnem a necessidade de recorrer a crédito dispendioso para capital de giro. Adicionalmente, a medição dos prazos médios de recebimento e pagamento (PMR e PMP) auxilia na prevenção do descasamento de caixa. Receber em 30 dias, mas pagar o fornecedor à vista, só se justifica se o desconto for substancialmente atrativo.
A mudança de perspectiva, de encarar o financeiro como uma função secundária para um motor de crescimento, proporciona não apenas uma melhor gestão do caixa, mas contribui para uma cultura de tomada de decisão baseada em dados, organização e profissionalismo do negócio.
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