Atua no mercado financeiro desde 2017. É assessor de investimentos na Valor Investimentos e membro do Ibef/ES. É formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Como quebra de confiança afeta investimentos no mercado financeiro

Casos como Americanas, Ambipar e Braskem rompem confiança do investidor ao mostrar que, por trás de números aparentemente sólidos, podem existir estruturas frágeis

Vitória
Publicado em 20/10/2025 às 08h57
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Verdadeiro retorno para o investidor está na solidez das escolhas feitas ao longo do tempo. Crédito: Shutterstock

O mercado financeiro vive de confiança e, quando ela se rompe, leva junto os resultados de um trabalho construído por décadas. Nos últimos anos, o investidor brasileiro viu essa verdade de perto em eventos como Americanas, Oncoclínicas, Banco Master, Ambipar e Braskem. Esses casos deixaram evidente que, por trás de números aparentemente sólidos, podem existir estruturas frágeis, decisões mal comunicadas e conflitos de interesse que corroem a credibilidade.

O episódio das Lojas Americanas, em 2023, foi o estopim dessa nova era de desconfiança. Um rombo bilionário revelou que, mesmo em empresas centenárias, o controle pode falhar. Já na Oncoclínicas, a entrada do Banco Master como investidor, seguida da descoberta de que parte dos recursos da capitalização havia sido aplicada em CDBs do próprio banco, expôs a complexidade dos vínculos entre empresas e financiadores.

A Ambipar, por sua vez, apresentou bons resultados financeiros, mas movimentos atípicos (como um follow-on sem transparência e atrasos em relatórios) levantaram dúvidas sobre sua governança. E a Braskem, enfraquecida pela ausência de liderança e pelo desastre ambiental em Maceió (AL), mostrou como crises de imagem e gestão caminham juntas na deterioração de valor.

A lição para o investidor é simples: a análise não termina no balanço. É preciso observar quem são os controladores, como se comunica a empresa, se há independência entre os órgãos de gestão e se os movimentos estratégicos fazem sentido no longo prazo. Mais do que diversificar ativos, trata-se de mitigar os riscos de governança. Aqueles que não aparecem em planilhas nem em relatórios operacionais, mas definem o destino de uma companhia.

Esses episódios também expõem uma reflexão necessária sobre os conflitos de interesse no modelo de distribuição comissionada. Correr riscos faz parte do mercado. É assim que o capital se multiplica. Mas cada risco precisa respeitar o perfil, os objetivos e o horizonte de tempo do investidor. Quando a remuneração (ou o bônus) do profissional do mercado financeiro depende exclusivamente da comissão gerada pelos produtos, pode surgir o incentivo de elevar o risco da carteira para aumentar a receita da instituição. O problema é que, nessa tentativa de buscar ganhos rápidos, o cliente pode acabar exposto a perdas superiores ao aceitável.

O modelo fee-based, ao alinhar a remuneração diretamente à prestação de serviço e não à venda de produtos, surge como um caminho mais transparente e equilibrado, em que o interesse do profissional e o do investidor caminham na mesma direção.

No fim das contas, a confiança é o ativo mais valioso do mercado, e o único que não se recompra. Governança, transparência e alinhamento de interesses são os fundamentos que permitem atravessar ciclos e construir riqueza com consistência. O investidor que entende isso passa a olhar além das taxas e dos relatórios operacionais e descobre que o verdadeiro retorno está na solidez das escolhas que faz ao longo do tempo.

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