O mundo está redesenhando suas estratégias econômicas. Grandes potências como Estados Unidos, União Europeia e China têm investido massivamente em política industrial, subsídios e reestruturação de cadeias produtivas. A nova geopolítica econômica combina tecnologia, segurança e competitividade e coloca em xeque modelos liberais puros baseados apenas em abertura comercial. No Brasil, no entanto, o debate parece travado entre respostas pontuais e propostas fragmentadas. Enquanto o mundo subsidia, o Brasil ainda paga caro para funcionar. E o custo que nos paralisa tem nome: juros altos.
A taxa básica de juros brasileira é uma das mais elevadas do planeta. Isso não é fruto de uma decisão arbitrária do Banco Central, mas do risco fiscal estrutural que o país carrega há décadas. O déficit público persistente, a dívida em trajetória ascendente e a instabilidade das regras fiscais pressionam o prêmio de risco e obrigam a política monetária a ser mais restritiva do que o desejável. Nesse contexto, qualquer tentativa de reindustrialização, aumento de produtividade ou inserção em cadeias globais de valor esbarra na mesma barreira: o custo do capital.
Discutir política industrial sem enfrentar o problema fiscal é ignorar o centro da equação econômica brasileira. Nenhuma economia cresce de forma sustentável com juros reais elevados, investimento privado reprimido e contas públicas desorganizadas. A melhor política de desenvolvimento que o Brasil pode adotar neste momento é uma agenda clara de consolidação fiscal, com controle efetivo das despesas obrigatórias, revisão de subsídios ineficientes e qualificação do gasto público. Essa não é apenas uma questão contábil: é a chave para mudar o patamar de confiança, reduzir o custo do crédito e destravar o investimento de longo prazo.
Com um ambiente macroeconômico mais previsível, o país pode finalmente romper o ciclo vicioso de baixo crescimento, baixa produtividade e informalidade crescente. A redução estrutural dos juros permitiria que mais empresas investissem em modernização, inovação e expansão. Ao mesmo tempo, o Estado poderia direcionar recursos escassos para áreas com elevado retorno social, como educação básica, infraestrutura e pesquisa aplicada. O ajuste fiscal, portanto, não é um fim em si mesmo, mas um meio para criar as condições para crescimento com qualidade.
A falta de uma política econômica coerente tem implicações diretas para a inserção do Brasil no novo mapa da economia global. Enquanto outros países constroem políticas industriais articuladas, sustentadas por estabilidade fiscal e coordenação entre entes públicos e privados, o Brasil ainda tropeça em ruídos políticos, falta de metas de produtividade e conflitos entre políticas monetária e fiscal. Não é possível competir em cadeias globais de maior valor agregado sem um ambiente doméstico propício ao investimento produtivo.
O Espírito Santo, com sua vocação exportadora e presença em cadeias intensivas em capital e logística, como mineração, siderurgia e celulose, é um exemplo claro das oportunidades que podem ser ampliadas com um cenário de juros mais baixos e previsibilidade macroeconômica. A redução do custo do capital beneficiaria a expansão de projetos industriais e de infraestrutura portuária, criando empregos de maior qualificação e elevando a arrecadação pública. O mesmo vale para setores como petróleo, energia e tecnologia, que dependem de horizontes longos e estabilidade institucional para atrair investimentos robustos.
É fundamental compreender que juros menores e crédito mais acessível são consequência de um equilíbrio fiscal duradouro, e não de decretos ou pressões políticas. A autonomia do Banco Central é importante, mas não resolve sozinha os fundamentos da política econômica. Se o governo federal quiser induzir crescimento, gerar emprego e estimular a competitividade da economia, deve começar por onde mais importa: reconstruindo a credibilidade fiscal.
Há quem defenda que o Brasil deveria seguir o exemplo dos Estados Unidos e Europa, com políticas industriais ativas e subsídios amplos. Mas é preciso reconhecer as diferenças de contexto. As potências globais podem emitir moeda em grande escala, têm sistemas de financiamento profundo e contam com credibilidade construída ao longo de décadas. O Brasil, com histórico de instabilidade e inflação, não dispõe do mesmo grau de liberdade. Por isso, a estratégia nacional precisa ser pragmática e responsável: só com equilíbrio fiscal será possível colher os frutos de uma política de desenvolvimento consistente.
O país precisa parar de buscar atalhos. A trajetória sustentável de crescimento passa pelo aumento da produtividade, e este só virá com investimentos em capital físico e humano, que por sua vez exigem juros baixos e crédito de longo prazo. Ajuste fiscal não é sinônimo de austeridade indiscriminada, mas de escolhas estratégicas. É a base sobre a qual se constrói um projeto de país com mais inovação, mais empregos formais e mais oportunidades para todos.
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