Felipe Storch Damasceno é economista com mestrado e doutorado em Administração e Contabilidade. É professor de Economia e pesquisador dos impactos sociais e econômicos de políticas públicas. Também é consultor, palestrante e comentarista na CBN Vitória

O papel estratégico do cooperativismo no desenvolvimento econômico do país

Cooperativismo vem sendo reconhecido como uma alternativa sólida para promover crescimento da economia com inclusão social

Publicado em 04/06/2025 às 08h55
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Participação dos cooperados nas decisões ajuda a construir uma gestão mais prudente. Crédito: Freepik

Em tempos de busca por alternativas sustentáveis de crescimento, a economia cooperativa tem ganhado cada vez mais espaço como um vetor relevante de desenvolvimento. Diferente das empresas tradicionais, as cooperativas se organizam com base na associação de pessoas que se unem voluntariamente para atender a interesses comuns. Seu funcionamento privilegia a participação democrática, a divisão dos resultados entre os associados e a responsabilidade coletiva pela gestão.

O cooperativismo não é restrito a um único setor. Está presente na agricultura, na saúde, no crédito, nos serviços, na indústria e até no consumo. Em cada uma dessas áreas, as cooperativas conseguem atuar de forma complementar à economia tradicional, criando redes de produção, financiamento e distribuição mais próximas da comunidade. Essa atuação sinérgica permite que o cooperativismo fortaleça cadeias produtivas já existentes, reduza custos de intermediação e amplie o acesso de pequenos produtores e trabalhadores a mercados que, isoladamente, seriam difíceis de alcançar.

Um dos grandes méritos do modelo cooperativo é sua capacidade de manter a riqueza circulando nas próprias regiões onde atua. Enquanto grandes conglomerados tendem a concentrar lucros em centros distantes, as cooperativas costumam reinvestir seus resultados nas comunidades locais, seja por meio da distribuição dos excedentes entre os membros, seja pelo financiamento de novos projetos e serviços. Esse movimento estimula o consumo interno, amplia as oportunidades de emprego e melhora a qualidade de vida de muitas famílias.

Além disso, as cooperativas também têm papel importante na estabilidade econômica. Durante períodos de crise, mostram-se, em muitos casos, mais resilientes do que empresas convencionais, justamente por serem geridas coletivamente e priorizarem o equilíbrio de longo prazo sobre ganhos imediatos. A participação dos cooperados nas decisões ajuda a construir uma gestão mais prudente, capaz de se adaptar às dificuldades do mercado sem abandonar os princípios que sustentam sua existência.

Oferta de crédito

Outro aspecto relevante está na oferta de crédito. As cooperativas financeiras, por exemplo, têm ampliado o acesso de pequenos empreendedores e pessoas físicas a linhas de financiamento mais acessíveis, muitas vezes com taxas inferiores às praticadas pelo sistema bancário tradicional. Com isso, fomentam o empreendedorismo, viabilizam projetos produtivos e contribuem para a redução das desigualdades de acesso a recursos financeiros.

No campo da agricultura, as cooperativas têm papel fundamental na organização de pequenos e médios produtores, permitindo ganho de escala na comercialização, acesso a insumos em melhores condições e adoção de tecnologias que individualmente seriam de difícil implementação. Esse suporte tem sido essencial para manter a competitividade de agricultores familiares e fortalecer a produção de alimentos em diversas regiões.

A atuação conjunta com o setor público e com empresas privadas também é uma característica que amplia o alcance do cooperativismo. Muitas cooperativas integram cadeias produtivas de exportação, prestam serviços de saúde complementares ao SUS, colaboram em programas de desenvolvimento regional e participam de políticas de inclusão produtiva. Assim, a economia cooperativa não substitui as demais atividades econômicas, mas as complementa, criando um ambiente de negócios mais plural e inclusivo.

Por tudo isso, o cooperativismo vem sendo reconhecido como uma alternativa sólida para promover crescimento econômico com inclusão social. Seu foco no desenvolvimento coletivo, na geração de oportunidades e na distribuição equilibrada de benefícios faz com que continue ganhando relevância no debate sobre o futuro das economias locais e nacionais.

Agora, para que o cooperativismo possa atingir todo o seu potencial como motor de desenvolvimento social, é fundamental que existam políticas públicas de fomento e apoio ao setor. O Estado pode atuar criando um ambiente regulatório favorável, simplificando normas, desburocratizando o acesso a registros e fortalecendo o marco legal das cooperativas. Muitas vezes, pequenos grupos interessados em formar cooperativas enfrentam dificuldades para lidar com exigências legais complexas ou para obter o apoio técnico necessário para estruturar o negócio de forma sustentável.

Além do aspecto regulatório, o acesso a crédito e assistência técnica também desempenha um papel importante. Programas públicos voltados ao financiamento de cooperativas, com linhas de crédito específicas e taxas acessíveis, podem permitir que novos empreendimentos sejam criados e que cooperativas já existentes ampliem suas atividades. Da mesma forma, o suporte técnico em áreas como gestão financeira, governança e planejamento estratégico ajuda a garantir a solidez das cooperativas ao longo do tempo, evitando que dificuldades administrativas comprometam sua viabilidade.

Por fim, o incentivo ao cooperativismo também pode ser uma ferramenta eficaz de inclusão produtiva e redução das desigualdades. Em comunidades com poucas opções de emprego formal, a criação de cooperativas pode gerar trabalho e renda para grupos historicamente excluídos, como mulheres, jovens, trabalhadores informais e pequenos produtores. Ao fomentar o associativismo, o poder público contribui não apenas para o crescimento econômico, mas para a construção de uma sociedade mais justa, participativa e resiliente.

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