O cenário atual é confortável para quem investe em renda fixa. Com a taxa Selic em patamares elevados, aplicações como CDBs, Tesouro Direto e fundos DI têm oferecido retornos altos, bem acima da inflação, garantindo ao investidor conservador uma sensação de segurança e previsibilidade.
No entanto, a história mostra que esse conforto não dura para sempre. A política monetária é cíclica: períodos de juros altos, voltados a conter a inflação, são seguidos por fases de flexibilização, quando o Banco Central identifica espaço para estimular a atividade econômica.
Foi o que aconteceu entre 2016 e 2019. Em outubro de 2016, a Selic estava em 14,25%, com a aprovação do teto dos gastos e posteriormente da reforma da Previdência, três anos depois, a taxa havia recuado para 4,5%. Nesse intervalo, a Bolsa de Valores praticamente dobrou, impulsionada pela queda dos juros e pela melhora das expectativas econômicas. Quem permaneceu apenas na renda fixa preservou o capital, mas perdeu a chance de multiplicá-lo em ativos de risco, como ações e fundos imobiliários.
É natural que, diante de juros altos, o investidor opte por maior conservadorismo. Mas é preciso lembrar que essa estratégia não funciona sempre. No longo prazo, uma carteira diversificada traz retornos maiores. À medida que os cortes na taxa básica de juros se confirmam, o retorno líquido das aplicações conservadoras diminui. Ao mesmo tempo, ativos de renda variável tendem a se valorizar, refletindo a busca por maior rentabilidade em um ambiente menos restritivo.
Isso não significa que a renda fixa deva ser abandonada. Ela seguirá sendo parte essencial da carteira, principalmente para quem busca liquidez e proteção. O risco está em tratá-la como solução definitiva, sem considerar a importância da diversificação. A verdadeira blindagem do patrimônio não está em adivinhar o próximo movimento da economia, mas em estruturar uma carteira equilibrada, capaz de atravessar diferentes ciclos sem comprometer os objetivos de longo prazo.
O investidor que hoje comemora os retornos da renda fixa precisa refletir: e quando esse conforto passar, qual será a estratégia? O tempo de planejar é antes da mudança. Assim como em 2016, os sinais de inflexão aparecem cedo para quem acompanha o mercado com atenção. No início de 2026, um novo ciclo de queda na taxa Selic se iniciará. Onde ele terminará, não se sabe ao certo — e se for nos mesmos 4,5% de 2019?
Investir, no fim das contas, é menos sobre reagir ao presente e mais sobre estar preparado para um futuro incerto.
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