Formado em engenharia civil pela Ufes, pós-graduado em Finanças pelo IBMEC-MG e com mestrado em Administração pela Fucape, geriu o clube de investimentos Investvix entre 2011 e 2015. É assessor de Investimentos na Valor Investimentos desde 2016

O problema oculto dos fundos imobiliários no Brasil

O problema é que, em termos de planejamento financeiro de longo prazo, depender de dividendos que não crescem de forma consistente pode corroer o poder de compra do investidor

Publicado em 15/09/2025 às 13h03
Fundos imobiliários: poupador precisa ter atenção aos retornos para não perder poder de compra
Fundos imobiliários: poupador precisa ter atenção aos retornos para não perder poder de compra. Crédito: Freepik/onlyyouqj

Nos últimos anos, os fundos imobiliários (FIIs) se consolidaram como uma das classes de ativos mais populares entre os investidores brasileiros. Com mais de 2,5 milhões de cotistas na B3, o apelo é claro: renda mensal, isenção de imposto e a sensação de “salário extra” caindo na conta. Mas há um ponto incômodo nessa história: a maior parte dos FIIs não consegue entregar crescimento real de dividendos acima da inflação.

Por quê? Para entender, precisamos olhar para a composição do mercado. Mais de 40% do IFIX, principal índice de fundos imobiliários, é formado por fundos de papel, que investem em CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários). Esses títulos costumam pagar IPCA + juros ou CDI + spread. Na prática, isso garante a reposição da inflação, mas não significa geração de valor adicional. O investidor recebe a correção inflacionária, mas fica dependente das taxas de juros e do risco de crédito para buscar retorno extra.

Já os fundos de tijolo — que compram imóveis físicos como shoppings, galpões logísticos e lajes corporativas — contam com uma dinâmica diferente. A receita vem dos aluguéis, que teoricamente deveriam acompanhar a inflação. Só que, na prática, há renegociações, vacância e até revisões de contratos que fazem os dividendos oscilar. Em 2020, por exemplo, durante a pandemia, shoppings praticamente zeraram os pagamentos. Depois, houve recuperação, mas a volatilidade deixou marcas.

O problema é que, em termos de planejamento financeiro de longo prazo, depender de dividendos que não crescem de forma consistente pode corroer o poder de compra. Um investidor que planeja viver de renda precisa que seus proventos cresçam pelo menos na mesma velocidade da inflação. Caso contrário, o que hoje cobre o supermercado, daqui a dez anos pode não pagar nem metade da lista.

Isso coloca a seleção de fundos no centro da estratégia. Não basta olhar apenas para o dividend yield atual, que muitas vezes seduz investidores iniciantes. É preciso analisar contratos, qualidade dos imóveis, gestão ativa e setores com potencial de repassar preços acima da inflação. Shoppings bem localizados, galpões logísticos em regiões estratégicas e lajes corporativas de alto padrão tendem a oferecer maior poder de barganha para manter a valorização dos aluguéis.

Outro fator a observar é a diversificação. Um portfólio equilibrado entre fundos de papel e fundos de tijolo pode suavizar a volatilidade dos proventos. Enquanto os CRIs garantem um “piso” corrigido pela inflação, os imóveis trazem o potencial de valorização no longo prazo — ainda que com mais riscos no caminho.

Para o investidor, o recado é claro: FIIs são uma ferramenta poderosa de geração de renda recorrente, mas não uma solução automática contra a inflação. Mais do que perseguir o dividendo do mês, é essencial buscar fundos capazes de entregar crescimento sustentável, preservando — e se possível aumentando — o poder de compra ao longo dos anos.

Em outras palavras: os dividendos de FIIs podem ser atrativos hoje, mas só aqueles que crescerem com a inflação merecem espaço no planejamento de quem pensa em renda passiva de verdade.

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