Na última coluna falei aqui sobre o Brasil que dá certo, aquele que representa esperança e racionalidade econômica. Porém, o seu oposto também pode se materializar como retrato da inércia fiscal e da perda de confiança. O ano de 2027 poderá ser o ponto de inflexão em que o país, ao insistir na continuidade de uma política fiscal expansionista, verá a paciência dos investidores se esgotar. Se as urnas confirmarem a manutenção do atual projeto de gastos crescentes, sem contrapartidas estruturais, o mercado reagirá de forma imediata e dura.
A história mostra que o preço da incerteza fiscal é alto. Em 2014, o Brasil experimentou esse custo: dólar em disparada, juros longos pressionados e fuga de capitais. O padrão se repete sempre que o governo eleito transmite a mensagem de que o equilíbrio das contas públicas não é prioridade. Caso o pleito de 2026 aponte para mais do mesmo, a década começará sob o signo da desconfiança, com a dívida pública em firme trajetória para ultrapassar 90% do PIB e o país novamente na defensiva diante das agências de rating e dos investidores estrangeiros.
O câmbio será o primeiro termômetro. A ausência de compromisso fiscal elevará o risco-país, empurrando o dólar para patamares bem acima dos R$ 6,00. A fuga de capital estrangeiro, combinada à piora das expectativas inflacionárias, exigirá resposta firme do Banco Central. A Selic, que poderia estar em um dígito, voltará a subir para conter a escalada do dólar, sacrificando ainda mais o crédito e o consumo doméstico. O ciclo de aperto monetário minará a confiança e tornará o financiamento da dívida ainda mais caro. Um círculo vicioso que o país conhece bem.
Na renda variável, o reflexo será direto. A bolsa, que hoje se sustenta pelo fluxo externo, deverá perder fôlego, principalmente nos papéis ligados à economia doméstica. As small caps, sensíveis ao crédito e ao apetite por risco, tenderão a ser as mais punidas, assim como os fundos imobiliários, que enfrentarão compressão nos preços diante da alta de juros. O investidor, já avesso a risco político, buscará refúgio em ativos dolarizados, em empresas exportadoras e, possivelmente, fora do país.
Esse ambiente de desconfiança não nasce apenas do resultado eleitoral, mas da percepção sobre o que ele sinaliza: a continuidade de uma trajetória fiscal insustentável. O mercado não cobra ideologia, mas previsibilidade e, sem ela, a busca pela segurança de ativos dolarizados é inevitável. Uma vitória de continuidade em 2026, sem sinal de moderação ou compromisso com o ajuste, será interpretada como um novo ciclo de deterioração. E, ao contrário do otimismo que se segue a governos reformistas, veremos o retorno do pessimismo, com prêmio de risco elevado e investimentos travados.
Nada é definitivo, mas a lição das últimas eleições é clara: o mercado recompensa responsabilidade e pune populismo. Se o Brasil insistir em adiar o ajuste, a conta virá em forma de juros altos, câmbio desvalorizado e crescimento anêmico. O investidor que hoje se prepara para o “Brasil que dá certo” deve, com igual seriedade, considerar o outro lado da moeda: o Brasil que dá errado.
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