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Cabelo de médico ajudou identificar histórico de envenenamento por arsênio

Laudo de toxicologia feito pela Polícia Científica aponta quais os níveis de contaminação no último ano; casal foi preso suspeito de envolvimento no crime

Vitória
Publicado em 05/09/2025 às 03h30
Fórum Criminal de Vitória
Fórum Criminal de Vitória. Crédito: Arte - Camilly Napoleão com Adobe Firefly

Laudo de toxicologia forense realizado em cabelo de médico de 90 anos, vítima de envenenamento, revelou o nível de contaminação por arsênio em seu corpo. O documento integra o inquérito policial que investiga a tentativa de homicídio contra o profissional, dono de uma clínica na Praia do Canto, em Vitória.

Foi analisada uma mecha de 15 centímetros de comprimento, que foi dividida em três segmentos. Cada um deles representa um período de meses — cálculo que levou em consideração a taxa média de crescimento capilar. Juntos totalizam cerca de um ano.

O exame foi realizado no final de junho deste ano pela Polícia Científica do Espírito Santo. No inquérito é relatado que o período de maior intoxicação ocorreu cerca de um ano antes do exame, quando foi constatado 1,80 mg/kg de arsênio. E acrescenta que no período atual tem o menor nível, 0,10 mg/kg.

De acordo com o advogado Waldyr Loureiro, que representa a família do médico, os dados indicam queda na contaminação nos últimos quatro meses. “É um dado importante por revelar que, após a saída de Bruna Garcia Barbosa Marinho da clínica, a contaminação reduziu”.

Ele se refere a uma ex-funcionária, presa de forma temporária, junto com o marido Alysson Oliveira Marinho, na última terça-feira (02). São suspeitos, segundo investigação da Polícia Civil, de envenenar o médico. A prisão foi decretada pelo juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória, que é responsável pelo Tribunal do Júri.

Defesa nega acusações

O casal teria a sua prisão avaliada em uma audiência de custódia prevista para esta quinta-feira (04), mas ela foi adiada por um dia. O advogado James Gouvea Freias, que representa o casal, informou que está levantando informações que possam ajudar a elucidar o caso.

Freias garante que a realidade é bem diferente do que foi descrito no inquérito, que seus clientes não têm envolvimento com a situação e que tudo isto será provado no curso da investigação, com documentos que vão ser apresentados pela defesa. “Muito ainda vai aparecer”, assinala. 

Duas investigações

Dois inquéritos policiais estão levantando informações sobre os fatos envolvendo o médico e sua clínica. O que se apura é se o objetivo do suposto crime seria encobrir uma fraude financeira, com desvio de cerca de R$ 700 mil.

Um deles está na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), aponta que a mulher detida exercia função de confiança, controlando o setor financeiro. E que seria a pessoa responsável pela rotina alimentar do médico.

Os fatos teriam ocorrido entre os anos de 2023 a 2025. A vítima passou a apresentar sintomas compatíveis com intoxicação crônica por arsênio – diarreia, vômitos, anemia, inchaço nos membros e perda de peso –, mas sem associá-los a um possível envenenamento.

A situação mudou em março deste ano. Data em que, segundo a polícia, o médico e a esposa desconfiaram que Bruna estaria desviando recursos da clínica, que estariam sendo direcionados para a conta pessoal dela. Um dos supostos beneficiados seria Alysson.

O relato é de que ela se demitiu após ser confrontada com as informações. Já em abril, a esposa do médico, com outra funcionária da clínica, localizou cheques em nome do médico e frascos de arsênio e laxante na unidade médica. E à polícia informou que o material estava armazenado em um espaço que era utilizado por Bruna.

“Laudos periciais confirmaram a presença de óxido de arsênio no frasco encontrado e atestaram o envenenamento da vítima, com maior concentração de intoxicação no período em que Bruna trabalhava na clínica.

Além disso, uma nota fiscal de compra do arsênio, datada de 29 de fevereiro de 2024, foi encontrada em nome de Allysson Oliveira Marinho, o marido de Bruna”, é dito na decisão judicial. Segundo o advogado que representa a família do médico, Waldyr Loureiro, há um segundo inquérito policial que está sendo conduzido pela Delegacia de Defraudações.

"Lá está sendo investigada a fraude financeira que zerou as contas do médico. Um desvio financeiro de quase R$ 700 mil", diz.

Em relação ao médico, cujo nome não está sendo informado por ser vítima de um crime, Loureiro relata que ele tem se recuperado, mas que o envenenamento deixou sequelas.

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