“Expressões populares são um recurso de linguagem do arco da velha e que não podem ser interpretados ao pé da letra”. É assim que tem início a websérie “Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Populares”, lançada pela Mirabólica Filmes sob a tutela de Tati Rabelo e Rodrigo Linhales. São quatro episódios de cerca de cinco minutos e dois deles já estão disponíveis no instagram da produtora (@mirabolica.filmes).
A série, realizada com recursos da Secult-ES e da Lei Aldir Blanc, conta a origem de diversas expressões populares como “Vai num pé e volta no outro”, “tirar o pai da forca”, “o fim da picada” ou “cuspido e escarrado” - algumas, como a própria “cuspido e escarrado”, parecem piada, mas a explicação é fruto de pesquisa e da curiosidade de Tati e Rodrigo.
"A gente costuma brincar que é possível ter uma conversa inteira só citando ditos populares, afinal no Brasil temos um dito popular pra cada situação. Daí resolvemos pesquisar a origem de alguns que são falados até hoje, atravessando gerações, e percebemos que o assunto dava caldo", revela Tati Rabelo.
A pesquisa foi ampla e até reveladora. “A gente se surpreendeu demais especialmente porque uma grande parte desses ditos são racistas e cruéis, porém não se percebe o significado porque estão arraigados na nossa sociedade”, analisa Tati, antes de completar: “‘cuspido e escarrado’ deve ter sido o primeiro meme brasileiro (risos)”. Quer saber o porquê? Assista ao vídeo abaixo.
A ideia, segundo Tati, é que o material possa ser usado de fato para fins educacionais e, por isso, eles já planejam parcerias que possam levar a série para escolas da rede estadual de ensino. Além do conteúdo, todo narrado com a voz do “robô” do Google, “Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Populares” ganha força com os grafismos e as ilustrações dos vídeos, que informam com uma linguagem artística, mas ainda assim leve e muito didática. “A gente já criou pensando nas plataformas digitais, por isso a linguagem é bem dinâmica e a estética, híbrida. Já temos um vocabulário visual que evoca símbolos e signos, aí misturamos com alguns grafismos e ícones presentes na virtualidade cotidiana. A voz de robô veio pra dar um tom didático, mas bem-humorado”, pondera a cineasta.
A maioria das 20 expressões, divididas em quatro episódios, são de conhecimento nacional, mas algumas possuem uma regionalidade tanto no uso quanto na origem. A ideia de trazê-los à pauta tem a ver com o reforço da identidade capixaba. “O nosso Estado tem particularidades e o reforço de nossa identidade também vem da língua. Propagar esses saberes locais tem uma potência notável na nossa construção”, explica Tati.
A mistura do material didático e lúdico à arte faz com que “Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Populares” dialogue, ainda que de maneira meio torta, com o ótimo videoarte “Bestiário Invisível”, também produzido pela Mirabólica. A assinatura narrativa de de linguagem de Tati e Rodrigo, que também dirigiram clipes de André Prando, A Transe, entre outros, é de fácil identificação.
“Desde o nosso primeiro filme a gente vem construindo, mesmo que inconscientemente, essa identidade. Em todas pesquisas, e durante todo o processo criativo, acabamos acessando essas estéticas que acarretam na construção de um vocabulário visual próprio”, analisa.
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