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A imagem do verão

A imagem do verão

Foto de entregador durante alagamento em Belo Horizonte traz à tona atuais desafios e a questão: o que vai nos mobilizar?

Publicado em 9 de fevereiro de 2020 às 06:00

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Entregador de comida enfrentou alagamento e correnteza durante o trabalho, em Belo Horizonte. (Alexandre Mota/O Tempo via Twitter)

A foto de um entregador de comida por aplicativo cruzando uma avenida alagada depois de um temporal, com a água batendo na cintura e a correnteza ainda forte, viralizou nas redes sociais e comoveu a ponto de o homem receber propostas de emprego. Se algumas imagens são capazes de produzir sínteses sobre uma época, essa foto contém dois dos maiores desafios de nossa sociedade: a crise ambiental e o trabalho informal. Desafios globais, presentes na vida de muitos países e que marcam também o verão de 2020 no Brasil.

Na sequência da repercussão, o entregador deu entrevistas para jornais e declarou que chega a fazer entregas por 12 horas seguidas para conseguir pouco mais de R$ 100 diários, que sustentam sua família. A história, ocorrida durante as chuvas que castigaram Belo Horizonte recentemente, cumpriu todo o roteiro de uma história que viraliza em redes sociais. Comoveu, gerou embates polarizados de baixo argumento e foi sendo esquecida. Vale a pena pensar sobre ela.

O ser humano é um animal que faz imagens. Eu sei, a citação correta, que nos remete imediatamente às aulas na infância, não é exatamente essa. Mais correto seria dizer “um animal político, que pensa, que se guia pela imaginação” etc. Mas a verdade é que hoje somos também criadores de um mundo com excesso de imagens.

“Tem mais imagem do que gente no mundo” - poderia ser o espanto de um personagem lidando pela primeira vez com nossa sociedade. Ficamos embriagados delas e aquelas que deveriam nos mobilizar acabam virando apenas parte desse espetáculo paralisante que nos envolve. Mas ainda acontece de algumas boas imagens serem capazes de nos espantar por tamanha sensibilidade. Nessas horas a vontade é fazê-las durarem. Escrever sobre elas pode ser uma forma de duração.

A foto que me refiro na coluna desta semana, assinada por Alexandre Mota para o “Jornal O Tempo”, é sem dúvida a imagem que marca o verão de 2020. De um lado, o trabalho informal chega a 40% das pessoas com alguma ocupação, numa gincana perversa de sobrevivência. De outro, enchentes, água poluída, falta d’água, óleo na água- não faltam indícios do avanço da crise ambiental.

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A impressão é que estamos nos especializando em não saber ler as imagens. O fotógrafo fez a sua missão. Qual será a imagem capaz de nos mobilizar?

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