Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

E se Paulo Hartung apoiasse Casagrande ou Manato?

Ex-governador não declarou voto, mas aliados dele estão no palanque do candidato  do PL ao Palácio Anchieta

Vitória
Publicado em 13/10/2022 às 15h17
Economista e ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung é entrevista no Roda Viva
Economista e ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung em entrevista no Roda Viva, em agosto. Crédito: Reprodução/YouTube

O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung segue em silêncio sobre apoiar ou não algum candidato ao Palácio Anchieta. Renato Casagrande (PSB) disputa a reeleição contra Manato (PL).

Aliados do ex-governador estão no palanque do candidato do PL: o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD); o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (ex-Rede) e o ex-secretário da Fazenda de Vitória Aridelmo Teixeira (Novo).

Marcus Magalhães (PSD), que foi vice na chapa de Guerino e subsecretário de Agricultura no último governo Hartung, também está com Manato.

O mesmo vale para o ex-secretário de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano Marcelo de Oliveira, que integrou a gestão estadual na época.

À boca miúda, outros hartunguistas pedem voto para Manato em mensagens de WhatsApp enviadas a conhecidos.

Assim, Hartung não precisa, pessoalmente, apoiar Manato.

O ex-deputado federal representa o bolsonarismo no estado. O ex-governador já criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL) abertamente e alertou quanto ao risco à democracia que ele representa.

Seria contraditório se subisse no palanque do candidato apoiado pelo presidente da República que, aliás, reproduz valores similares aos do chefe do Executivo federal.

O foco, entretanto, é o que um eventual endosso público de Hartung representaria para a campanha de Manato. Trataremos também do cenário alternativo, com com um hipotético apoio a Casagrande.

É como em "E se ... (What if...)", série da Marvel no Disney+, que imagina outros destinos para os Vingadores. A análise aqui, entretanto, é bem menos fantasiosa.

Um dos principais aliados do candidato do PL, Tenente Assis, que disputou, sem sucesso, uma vaga de deputado federal pelo PTB, postou dias atrás uma foto com a legenda que exprime a imagem que a campanha de Manato quer passar ao mercado político:

"Na mesma foto, cinco pessoas que ousaram desafiar um sistema que há 20 anos governa o Espírito Santo. Mas essa época acabou. Juntos e com seu apoio vamos banir a esquerda e reconstruir o ES".

Capitão Assumção, Guerino Zanon, Tenente Assis, Carlos Manato e Audifax Barcelos
Capitão Assumção, Guerino Zanon, Tenente Assis, Carlos Manato e Audifax Barcelos. Crédito: Reprodução/Instagram Tenente Assis

Os cinco na imagem são o deputado estadual Capitão Assumção (PL); Guerino Zanon; Assis; Manato e Audifax.

O "sistema que há 20 anos governa o Espírito Santo" foi coprotagonizado, justamente, por Hartung. Ele e Casagrande revezam-se no poder.

Os dois já foram aliados, mas, desde 2014, romperam publicamente.

Se Hartung aparecesse, mesmo com a contradição do bolsonarismo pairando sobre a cabeça, e declarasse voto em Manato, esse discurso do fim dos "20 anos" ficaria frágil.

Considerando que aliados do ex-governador Paulo Hartung nem esperaram as urnas usadas no primeiro turno esfriarem para endossar o candidato do PL, é improvável que PH dê "um cavalo de pau" e declare voto em Casagrande, que se tornou seu principal adversário.

Ainda que isso signifique apoiar, tacitamente, ascensão local do bolsonarismo.

Se Casagrande recebesse o apoio do antecessor, isso também poderia ser usado contra o socialista.

Em vez de uma "ampla aliança", como o governador gosta de apresentar os diversos partidos e lideranças que estão ao seu lado, a presença de Hartung no palanque reforçaria o discurso de "mais do mesmo", de uma continuidade contra a qual o eleitor poderia se insurgir, insuflado pela campanha adversária.

E mais: Casagrande e aliados têm pregado que tudo bem votar nele e, ao mesmo tempo, em Bolsonaro. Trazer um crítico do presidente aos holofotes poderia minar a estratégia.

Se dependesse apenas dos eleitores do Espírito Santo, Bolsonaro teria sido reeleito em primeiro turno, com 52% dos votos. Casagrande declarou voto no ex-presidente Lula (PT), mas se mantém, mais do que nunca, distante do palanque do petista.

A expectativa é que Hartung permaneça em silêncio em relação à corrida pelo governo do estado. Pelos fatores abordados aqui, talvez seja melhor assim para os candidatos.

Para o próprio ex-governador, ficar quieto é menos desgastante, a curto prazo. E ele já disse que não pretende disputar outra eleição.

Lideranças políticas, entretanto, como já destacado pela coluna, costumam se posicionar, ainda que isso tenha um preço, politicamente falando. Assim, evitam o fardo da omissão.

Desde 2018, quando deixou o governo do Espírito Santo e saiu do MDB, Hartung não se manifesta, publicamente, sobre o cenário local.

A exceção é quanto à anistia administrativa concedida por Casagrande, com a anuência da Assembleia Legislativa, aos policiais militares acusados de participação na greve ilegal de 2017.

"Quando as Assembleias Legislativas legislam criando proteção a atos absolutamente ilegais (...) Crie corvos e eles furarão seus olhos", avisou, em entrevista ao programa Roda Viva, em agosto.

"Controlamos, punimos. Importante dizer isso aqui, punimos. O meu sucessor depois anistiou, erradamente. É tiro no próprio pé", cravou o ex-governador, a ocasião. Ele já havia criticado a anista antes.

Boa parte dos policiais militares, não seria arriscado dizer a maioria, está com Manato, apesar da anistia e de reajustes salariais concedidos à categoria, que alega que o atual governador "não cumpriu acordos".

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