Estar em Tiradentes durante a Semana Criativa é mergulhar em um Brasil plural, feito de histórias, mãos e afetos. Em 2025, o festival chegou à 9ª edição e, mais do que nunca, confirmou-se como um território fértil da cultura e da criatividade brasileira.
Durante quatro dias, a cidade mineira recebeu aproximadamente 22 mil pessoas, entre elas, artesãos, designers, artistas e apaixonados por arte e design, em uma celebração intensa e vibrante da identidade nacional.
Com casarões históricos, instalações poéticas e conversas inspiradoras, a Semana Criativa mostrou por que se tornou uma das mais importantes plataformas da economia criativa do país, já que as ruas estavam tomadas por um público diverso, e a sensação era de que cada esquina guardava um encontro, uma descoberta, um convite à escuta.
Um exemplo, foi a artista paraense Roberta Carvalho que emocionou com um projeto em que projeções luminosas transformavam árvores em seres híbridos, mesclando o humano e a natureza, chamado de Symbiosis. A instalação criou um diálogo poderoso entre tecnologia e ancestralidade.
Um dos momentos mais aguardados do evento foi a palestra do fotógrafo Lufe Gomes. O auditório estava lotado e a energia do público era contagiante. Lufe conduziu uma conversa sobre o poder das histórias contadas pelas casas, objetos e pessoas, mostrando como olhar para o cotidiano com atenção e sensibilidade revela memórias, beleza e conexões profundas.
Já o estilista Mauricio Duarte, representante da nova geração amazônica, apresentou um manifesto sensível sobre moda e sustentabilidade, revelando como o diálogo com comunidades ribeirinhas inspira uma criação enraizada na floresta.
Semana da Criativa de Tiradentes 2025
Outro destaque foi a exposição Casa Bordada, organizada por Ronaldo Fraga, reunindo projetos desenvolvidos com comunidades de Minas Gerais e de Regência (ES). Durante oito anos, bordados, marcenaria, quintais e cozinhas se tornaram lugares de criação e memória, onde design e saberes ancestrais se encontram. Em Tiradentes, as peças mostram como o fazer manual é gesto de resistência e reinvenção, permitindo ao público conhecer e adquirir objetos que carregam identidade, pertencimento e narrativas coletivas.
Já o talk “O móvel como manifesto”, promovido pela Líder, trouxe uma reflexão sobre design, arquitetura e narrativas culturais. O encontro contou com a presença do designer Alexandre Rousset, do arquiteto Marcelo Bastos Alvarenga, fundador do Plau Arquitetura e sócio da Alva Design, da arquiteta e jornalista especializada em design Winnie Bastian, e de Glauciene Duarte.
A mediação ficou a cargo de Guilherme Leite Ribeiro, diretor criativo da Líder, e aprofundou o papel do móvel como objeto de expressão e identidade. Além das palestras, o Cortejo das Encantarias tomou as ruas de Tiradentes em um espetáculo de cores, sons e ancestralidade.
Música, dança e arte popular se misturaram num desfile que celebrou o Brasil profundo — aquele que canta, reza e cria com o coração. A cada edição, a Semana Criativa parece se reinventar sem perder a essência.
As imersões entre artesãos e designers continuam sendo o coração do projeto, e o resultado pode ser visto nas exposições, que traduzem em forma e textura o diálogo entre tradição e inovação. A sustentabilidade também manteve seu protagonismo, com o uso de copos reutilizáveis, a ampliação do Carona Criativa, e a oferta de diversos pontos de hidratação, oferecidos pela Electrolux, espalhados pela cidade — uma iniciativa simples e muito bem-vinda que evita o consumo desenfreado de copos e garrafas plásticas.
De dia ou à noite, o Espaço Festivo foi ponto de encontro certo. Entre o Palco Artesão, o Mercado Criativo e as festas sob o céu estrelado de Tiradentes, o clima era de celebração. Mais do que um evento, a Semana Criativa se firmou como um movimento que une mãos, mentes e territórios.
Mas nem tudo são flores — e seria impossível deixar de observar dois aspectos que destoam do espírito contemporâneo e consciente que o festival inspira. O primeiro é o uso das charretes, ainda presente nas ruas da cidade. Como vegana e defensora da causa animal, aproximei-me de alguns cavalos e encontrei olhares cansados e corpos que pediam descanso.
Trata-se de uma prática de exploração que já foi abolida em tantas cidades e que não combina com o futuro que desejamos construir. Outro ponto que merece atenção é a ausência de um sistema de coleta seletiva de lixo em Tiradentes. Para uma cidade turística que atrai milhares de visitantes anualmente, essa é uma política urgente e necessária.
Preservar o meio ambiente é preservar também o encanto que faz de Tiradentes um destino tão especial. Voltei da Semana Criativa com o coração cheio de esperança. O evento segue mostrando que tradição e inovação caminham juntas — e que o Brasil, quando se reconhece em sua diversidade, é capaz de criar, emocionar e transformar. Resta torcer para que a cidade que acolhe tanta criatividade também evolua em consciência ambiental e respeito aos animais.
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