Isabela Castello, administradora e designer é apaixonada pelo universo criativo e pela natureza. Escreve sobre criatividade e a economia criativa com ênfase nos conteúdos sobre arte e design autoral.

Exposições no Masp destacam relação entre arte, natureza e transformação ambiental

As três exposições oferecem leituras distintas sobre a relação entre arte, natureza e transformação ambiental e apontam caminhos para pensar nossa responsabilidade diante das urgências do presente

Publicado em 27/07/2025 às 01h58
Atualizado em 27/07/2025 às 04h59
Krajcberg
A programação de 2025, sob o eixo curatorial “Histórias da Ecologia”, reúne vozes díspares que atravessam séculos, linguagens e territórios. Crédito: Divulgação

Em tempos em que a natureza nos interpela com urgência, o Masp responde com arte. A programação de 2025, sob o eixo curatorial “Histórias da Ecologia”, reúne vozes díspares que atravessam séculos, linguagens e territórios.

Visitei três exposições que compõem esse panorama — A Ecologia de Monet, Frans Krajcberg: reencontrar a árvore e Frutas Milagrosas, de Hulda Guzmán — e saí tocada por uma sensação de deslocamento. As três exposições oferecem leituras distintas sobre a relação entre arte, natureza e transformação ambiental. Em comum, elas apontam caminhos para pensar nossa responsabilidade diante das urgências do presente.

Krajcberg e o ativismo pela arte

Krajcberg
Radicado no Brasil desde a década de 1950, Frans Krajcberg dedicou sua trajetória a denunciar a destruição ambiental. Crédito: Divulgação

Radicado no Brasil desde a década de 1950, Frans Krajcberg dedicou sua trajetória a denunciar a destruição ambiental. Em "Reencontrar a Árvore", o artista aparece em sua forma mais contundente: esculturas construídas com troncos queimados, raízes retorcidas, pigmentos extraídos da terra.

Sua arte é denúncia, mas também ritual de reconexão com a natureza. Expressando sua indignação e sua revolta, Krajcberg cumpriu um papel central em denunciar o drama ambiental vivido no Brasil. O artista dedicou-se por inteiro à natureza, produzindo um corpo de obra cada vez mais pertinente no contexto da crise climática que vivemos hoje.

Ao incorporar diretamente os restos da devastação ambiental, Krajcberg transforma a arte em testemunho. Um manifesto silencioso, mas impossível de ignorar. A exposição tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Laura Cosendey, curadora assistente. A exposição segue até 19 de outubro.

Sobre o artista

Naturalizado brasileiro, Frans Krajcberg (1921–2017) nasceu na Polônia e, por ser de origem judaica, perdeu toda a sua família durante o Holocausto. Nos anos 1950, estabeleceu-se no Brasil, onde desenvolveu seu trabalho como artista.

A partir da década de 1960, passou a viajar à Amazônia e ao Pantanal, coletando resquícios de troncos em áreas devastadas por queimadas. Em uma dessas expedições, redigiu, com Pierre Restany e Sepp Baendereck, o Manifesto do Naturalismo Integral (1978), que consolida seu pensamento socioambiental. Sua experiência ecológica também influenciou suas escolhas de vida, passando a residir em seu sítio em Nova Viçosa, cercado pela Mata Atlântica.

A Ecologia de Monet

Monet
A exposição apresenta obras que perpassam a carreira do artista, revelando diferentes momentos de sua relação com a paisagem e com o meio ambiente. Crédito: Divulgação

A "Ecologia de Monet" apresenta uma leitura contemporânea sobre a relação de Claude Monet (1840–1926) com a natureza, as transformações ambientais, a modernização da paisagem e as tensões entre ser humano e natureza. A exposição apresenta obras que perpassam grande parte da carreira do artista — das décadas de 1870 até 1920 —, revelando diferentes momentos de sua relação com a paisagem e com o meio ambiente.

Em cartaz até 24 de agosto de 2025, a exposição reúne 32 pinturas do impressionista francês, sendo a maioria inédita no hemisfério sul. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, Masp, e Fernando Oliva, curador, Masp, e com assistência de Isabela Ferreira Loures, assistente curatorial, Masp, a exposição aborda diferentes aspectos da relação de Monet com a ecologia em cinco núcleos: Os barcos de Monet; O Sena como Ecossistema; Neblina e Fumaça; O Pintor como Caçador; Giverny: Natureza Controlada.

Sobre o artista

Claude Monet (1840–1926) foi um dos fundadores e principais expoentes do movimento impressionista, revolucionando a história da arte com sua abordagem inovadora da luz e da cor. Nascido em Paris e criado na Normandia, Monet desenvolveu desde cedo uma sensibilidade única para a natureza e suas transformações.

Hulda Guzmán e o imaginário tropical

Hulda Guzman
A exposição "Frutas Milagrosas", de Hulda Guzman, traz uma abordagem mais lúdica e simbólica da ecologia. Crédito: Divulgação

A exposição "Hulda Guzmán: Frutas Milagrosas" é a primeira mostra individual da artista dominicana Hulda Guzmán (Santo Domingo, República Dominicana, 1984) em um museu. Com uma linguagem completamente diferente, "Frutas Milagrosas", traz uma abordagem mais lúdica e simbólica da ecologia.

Em suas telas, a artista trata a natureza como um território protagonista no qual todos os elementos encontram-se em relações de interdependência. Relações de afeto e os arredores do lugar onde vive são temas recorrentes em suas telas, em que cenários tropicais e fantásticos são habitados por um elenco diverso de personagens — reais ou imaginários.

As cores vibrantes, os detalhes minuciosos e a presença do inesperado nas cenas convidam o espectador a repensar sua relação com o meio ambiente — não pela via da culpa ou da catástrofe, mas por meio da imaginação, do cuidado e da presença. Com curadoria de Amanda Carneiro, curadora, Masp, a exposição apresenta 18 pinturas, entre as quais 8 são obras inéditas confeccionadas especialmente para a ocasião. A mostra segue em cartaz até 24 de agosto.

Sobre a Artista

Hulda Guzmán (Santo Domingo, República Dominicana, 1984) estudou belas artes e ilustração na Escuela de Diseño Altos de Chavón, na República Dominicana, e concluiu o bacharelado em artes visuais na Escuela Nacional de Artes Plásticas, na Cidade do México. Já

Já expôs em instituições como Fine Arts Center at Colorado College (Colorado Springs), Denver Art Museum, Art Museum of the Americas (Washington, D.C.), Museo de Arte y Diseño Contemporáneo (San José, Costa Rica), Museo de Arte Moderno (Santo Domingo) e Pérez Art Museum (Miami). Em 2019, integrou o pavilhão da República Dominicana na 58ª Bienal de Veneza.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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