Rodrigo Brenner é cofundador do premiado Furf, estúdio que nasceu de sua parceria criativa com Maurício Noronha ainda nos tempos de faculdade, quando ambos cursavam Design Industrial na PUCPR.
Atualmente vivendo em Milão, ele se consolidou como um dos mais renomados designers brasileiros da atualidade. A Furf, fruto da parceria entre Brenner e Noronha, já ultrapassa a marca de 5 milhões de produtos vendidos, projetos assinados em colaboração com marcas nacionais e internacionais — como Qeeboo e O Boticário — e uma impressionante coleção de prêmios.
O estúdio foi o primeiro brasileiro a conquistar um Cannes Lions na categoria Product Design e acumula reconhecimentos de prestígio como Red Dot e iF Design Award, entre muitos outros.
Suas criações se destacam por unir poesia, propósito e inclusão, refletindo sua convicção de que o design deve ir além da forma e da matéria: deve sempre carregar um significado. Tive o privilégio de tê-lo como professor no curso de Design de Móveis do Centro Europeu de Design e, atualmente, no curso de International Industrial Design.
Nesta entrevista exclusiva, Rodrigo Brenner fala sobre sua trajetória, sua visão sobre o papel transformador do design e abre as portas para um mergulho em seu universo criativo.
Você poderia falar um pouco da sua infância e do seu contato com as artes, com a estética? Já havia alguma inclinação para a área artística/design? Havia algum vislumbre de que a carreira artística/design seria um caminho?
Lembro-me, de bem pequeno, desenhar e escrever bastante. Criava personagens, histórias, projetos de produto e até parque de diversão - esse batizei na época de Glinglinland! Tinha um baú de fantasias, já fui Batman, O Máscara, até o Bono Vox e tantos outros. Desde que minha memória consegue lembrar, estou criando algo, brincando.
Ainda não sabia que existia uma profissão que poderia viver disso. Descobri as palavras design e desenho industrial no ensino médio, me lembro exatamente do momento, por sinal. Desde então, sabia que era isso o que queria fazer. Mas como o próprio mestre Sérgio Rodrigues me falou pessoalmente: ninguém vira designer, ou você nasce designer ou não. Bom, olhando para trás, acho que mesmo sendo tantos personagens, sempre fui designer mesmo.
Conte um pouco sobre sua formação e início da carreira.
Cursei Desenho Industrial na PUCPR, onde tive ótimos professores. Confesso que os maiores aprendizados vieram de fora da sala de aula, em bate-papos e longas conversas com os eles. Logo no segundo ano da universidade eu e o Mauricio criamos a Furf, como empresa, com CNPJ e tudo mais.
Pensamos que nossos projetos, feitos ali na PUC poderiam ser comercializados. O curioso é que eu nunca trabalhei em outro lugar. No terceiro ano de faculdade, conquistei uma bolsa de estudos para o Politécnico di Torino, na Itália, aonde morei por um ano. Também confesso que matava aula para fazer contatos, visitar exposições e cuidar da produção de alguns produtos da Furf. A Itália inspira e respira design. Se aprende por osmose. Voltei para o Brasil e, hoje, estou há pouco mais de um ano em Milão, onde muita coisa bonita tem acontecido para a Furf.
Qual o artista ou designer que mais admira e que tenha sido uma influência na sua carreira ou na escolha por essa carreira
Nenhum designer me influencia tanto quanto meu amigão e sócio Mauricio. Temos a Furf desde 2011. Trabalhamos juntos sempre. Hoje, ele em Curitiba, e eu, à milanesa. Claro que tenho referências de profissionais que me inspiram, como Starck, Giovannoni (com quem temos o prazer de desenhar para a Qeeboo), Fabio Novembre e tantos outros e outras - acho que cada um tem um “superpoder”, busco somar as qualidades de cada um deles, mas com o nosso DNA tupiniquim.
Busco referências na arte, na gastronomia, na arquitetura, nos esportes, no empreendedorismo… Gosto de pessoas que constroem um legado com identidade. Pessoas que inspiram. Me espelho, principalmente, na minha família, na minha esposa, irmãos, meus pais, avós, tios, primos, amigos. Não tenho uma “hierarquia de admiração”: a cadeira mais incrível e inovadora do planeta Terra, inspira tanto quanto um abraço, um gesto de amor de alguém querido
Você poderia citar um momento ou trabalho marcante da sua trajetória? Algo de que você tem boas memórias ou de que mais se orgulha de ter feito
Hoje mesmo, enquanto escrevo estas respostas, as perguntas são um convite a relembrar. Tenho grande afeto por essas lembranças. Cada uma teve uma importância, não apenas as premiações ou festas. E, ao mesmo tempo, tem tanta coisa que está para acontecer ainda neste ano e não podemos contar.
O dia está lindo, com sol. Escrevo de Milão, aonde é um sonho morar. E é curioso que em eventos grandiosos, parece que passa tudo tão rápido, é um sentimento onírico. Eu tento cada vez mais apreciar o presente. Busco que o agora seja sempre o momento mais marcante para mim.
Fale um pouco sobre seu processo criativo.
Sempre começa com pesquisa, investigação. Acho que o projeto já existe em algum lugar, ele tem vida própria. Precisa canalizá-lo. Escavar, descobrir. Depois te ter quilos de referências, fatos e dados concretos (adoro números), começa um processo de garimpagem para buscar pequenos pedaços de ouro.
Qual é seu trabalho atual ou mais recente
A Furf faz parte da minha personalidade e vice-versa. Não separo e nem quero. Além disso, sou apaixonado por educação. Gosto de compartilhar o que sei, o que me inspira. Já dei aula de design para cegos, em tantas universidades. Hoje eu e Mauri criamos cursos e lecionamos no Centro Europeu, somos parte do conselho de notáveis da ESPM, criamos a nossa própria escola, a Furfed, e, no final deste mês, começo a ensinar no Instituto Marangoni aqui em Milão.
O que é design para você?
Além do seu trabalho, como é seu contato com a arte atualmente e durante a sua vida, nas mais diferentes vertentes?
Eu falo muito sobre curadoria. Curadoria da vida. Hoje em dia existem tantas opções para absolutamente tudo. Existe também muito ruído, muita distração. Gosto de provar dos sabores da vida. Saber quais são os melhores, e melhorar eles.
A arte tem um papel fundamental na minha formação, é o ar que respiro (talvez não a toa tem “ar” em “arte”). Eu amo caminhar, visitar museus - pelo menos duas vezes por semana estou dentro de um. Música, eu estou sempre querendo saber a última novidade, ao mesmo tempo que, por herança familiar, eu adoro ópera. A moda, a gastronomia, o cinema… Gosto de coisas feitas com carinho, pensadas, com significado.
Qual é o papel e a relevância da arte para a sociedade?
Lembrar (e provocar) que a vida tem sentido e que mesmo nos momentos mais banais, ela pode ser poética.
MAIS ISABELA CASTELLO
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
