Participei da abertura de três belíssimas exposições do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro: "Claudia Andujar e seu Universo: Sustentabilildade, Ciência e Espiritualidade", "Água Pantanal Fogo" e "Tromba D’Água".
As exposições abrem o projeto Esquenta COP, que propõe trazer as temáticas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) para o grande público que visita o museu. Três exposições lindas, que me comoveram e me emocionaram profundamente, cheias de beleza, mas sobretudo de denúncias, provocações, inquietações.
A arte tem esse poder de nos tocar num lugar diferente, de nos deslocar, de nos atravessar. Em tempos em que o amanhã parece incerto, esses trabalhos se apresentam como bússolas, como alertas — e, talvez, como sementes de um futuro possível.
Conversei com os curadores dessas exposições - Paulo Herkenhoff, Eder Chiodetto, Ana Carla Soler, Francela Carrera - com o curador do Museu, Fabio Scarano, e com o diretor executivo, Cristiano Vasconcelos, para entender os caminhos e o papel da arte no enfrentamento das mudanças climáticas.
Os primeiros alertas dos cientistas sobre as mudanças climáticas datam de 1972, quando aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, marcando o início de uma agenda internacional para a preservação do meio ambiente. Após 53 anos, inúmeros outros alertas e conferências realizadas pelos líderes mundiais não foram suficientes para evitar a crise climática que estamos enfrentando atualmente.
Para Fabio, Scarano, “a ciência moderna não basta para reverter os rumos cada vez mais preocupantes que o mundo tem tomado. Em um mundo em estado de policrise, não há conhecimento do qual se possa abrir mão, desde que seja democrático e amoroso. A arte e a espiritualidade, ao tocarem as emoções, são essenciais para impulsionar as transformações profundas que a humanidade precisa abraçar.”
“Claudia Andujar e seu universo” é o destaque da Ocupação Esquenta COP.
Com 130 obras da suíça naturalizada brasileira e peças de 40 artistas que se relacionam com seu trabalho, a mostra é uma celebração ao legado da artista, hoje com 94 anos. A exposição se organiza em torno de eixos como sustentabilidade, ciência e espiritualidade — temas que parecem ganhar novas camadas de urgência diante do colapso climático.
Para o capixaba Paulo Herkenhoff, curador da exposição, “Claudia Andujar colocou sua câmera a serviço da natureza. Sua produção fotográfica denunciou o genocídio dos povos indígenas da América do Sul, a espoliação das terras e dos saberes indígenas, o garimpo ilegal, o envenenamento dos rios amazônico pelo uso do mercúrio.”
Diante das crises ambientais, das ameaças constantes aos povos originários e do avanço da destruição sobre os biomas brasileiros, o trabalho de Andujar ressurge como uma espécie de guia. Um lembrete de que a arte pode ser, sim, uma forma de cuidado e enfrentamento.
Para Herkenhoff, “os problemas climáticos - alguns deles - são imperdoáveis. E a Cláudia não perdoa. Eu uso a expressão ira cívica. Mas acho que no caso dela, é fúria cívica. A fotografia dela tem relações de antítese. De repente, a câmera dela pode ser uma bomba atômica, sobre as questões que afetam o Brasil, os indígenas, as invasões dos territórios dos povos originários. Muitas vezes, a fotografia dela é como se fosse um seio materno, com enorme afetividade pelo outro".
Para Fabio Scarano, “a obra de Claudia Andujar promove esses encontros, tão necessários quanto inusitados: da informação com a emoção, do ancestral com o moderno, do sacro com o transgressor, do sul com o norte, do visível com o invisível.”
Ao entrar na exposição, é impossível não sentir que estamos diante de algo mais do que fotografias: estamos diante de um modo de ver o mundo. "Claudia Andujar e seu Universo" é, no fim, uma convocação. Não apenas a ver, mas a sentir. A não esquecer. A lembrar que, diante do colapso climático e cultural, a arte pode — e talvez deva — assumir o papel de resistência.
Ao sair da exposição, uma pergunta ecoa: que tipo de mundo estamos escolhendo deixar para existir? Claudia Andujar nos oferece mais do que imagens — ela nos oferece uma forma de não esquecer, de não nos calarmos, de continuarmos olhando. E talvez isso seja, sim, uma das formas mais potentes de futuro.
As exposições Água Pantanal Fogo e Tromba D’Água serão objeto de futuras edições da coluna.
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