A coluna traz uma análise do mercado automotivo, com tendências do segmento, panorama, dicas e orientações. Tem como público-alvo o cliente que compra carro, quer trocar de veículo ou tirar dúvida sobre a manutenção desse bem, além de leitores apaixonados pelo tema. O perfil nas redes sociais é @gabrielopersonalcar

O desafio de produzir carros de forma realmente limpa

Produzir um carro de forma sustentável vai muito além de reduzir as emissões ou investir em fontes renováveis, envolve também pensar em todo o processo de produção do veículo e o que vem depois que ele deixa de ser utilizado

Vitória
Publicado em 29/11/2025 às 01h58
Atualizado em 29/11/2025 às 04h58
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Construir carros "limpos" é uma transformação profunda, que envolve tecnologia, investimentos e decisões que nem sempre são as mais populares. Crédito: Shutterstock

Nos últimos anos, temos ouvido cada vez mais falar em “produção limpa” dentro da indústria automotiva. É um termo que soa bem, passa modernidade e combina com a fase de transição que estamos vivendo. Mas quando a gente observa com um pouco mais de calma, percebemos que esse futuro sustentável ainda está sendo construído e que a caminhada é bem mais complexa do que parece.

Produzir um carro de maneira realmente sustentável não se resume a reduzir emissões ou investir em energia renovável. Isso é parte do processo, claro, mas a conta é maior. A sustentabilidade de verdade exige olhar tudo que está por trás do automóvel, da origem da matéria-prima ao que acontece com ele depois que sai de cena.

E aí começam os desafios práticos. A forma como as baterias dos carros híbridos e elétricos serão reutilizadas, recicladas ou processadas define boa parte do impacto ambiental. Não dá para falar em “futuro verde” ignorando o destino do lítio, do cobalto e do níquel que compõem essas baterias.

O mesmo vale para os plásticos internos, que precisam migrar cada vez mais para materiais reciclados e recicláveis, sem perder qualidade. Até itens como tecidos de bancos e revestimentos passam a ter importância, já que muitos deles hoje podem ser fabricados a partir de garrafas PET e fibras reaproveitadas.

Outro ponto que faz diferença é o consumo de água nos processos industriais. Algumas montadoras já reduzem drasticamente esse uso em áreas como pintura e lavagem, mas ainda existe uma jornada longa até que isso se torne padrão e não exceção. E tem também o desafio energético: é ótimo ver fábricas que funcionam com energia solar e eólica, mas manter essa estrutura estável e contínua ainda não é tão simples quanto parece na teoria.

Não estou dizendo isso para criticar a indústria, longe disso. É apenas um lembrete de que construir um carro “limpo” é muito mais do que uma mudança de discurso. É uma transformação profunda, que envolve tecnologia, investimentos e decisões que nem sempre são as mais populares dentro da própria cadeia produtiva. E, como qualquer transformação, ela leva tempo, ajustes e tropeços.

O lado positivo é que já vemos avanços concretos, como fábricas mais eficientes, metas de redução de resíduos, processos que reaproveitam sobras de metal, iniciativas de economia circular e parcerias com empresas especializadas em reciclagem de baterias. A roda começou a girar, o que já é bastante.

Mas também é importante que o consumidor entenda que não existe sustentabilidade instantânea. É um processo que evolui aos poucos, feito de pequenas vitórias que, somadas, fazem a diferença. E talvez o maior ganho dessa nova fase seja justamente a transparência: mostrar o que já foi feito, o que ainda não deu certo e o que está sendo estudado.

No fim das contas, produzir um carro de forma limpa não é sobre criar uma imagem perfeita. É sobre caminhar na direção certa, gerando a consciência de que no mundo real a sustentabilidade de verdade não é um rótulo, mas sim um compromisso contínuo com as pessoas e com o mundo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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