Nos últimos anos, temos ouvido cada vez mais falar em “produção limpa” dentro da indústria automotiva. É um termo que soa bem, passa modernidade e combina com a fase de transição que estamos vivendo. Mas quando a gente observa com um pouco mais de calma, percebemos que esse futuro sustentável ainda está sendo construído e que a caminhada é bem mais complexa do que parece.
Produzir um carro de maneira realmente sustentável não se resume a reduzir emissões ou investir em energia renovável. Isso é parte do processo, claro, mas a conta é maior. A sustentabilidade de verdade exige olhar tudo que está por trás do automóvel, da origem da matéria-prima ao que acontece com ele depois que sai de cena.
E aí começam os desafios práticos. A forma como as baterias dos carros híbridos e elétricos serão reutilizadas, recicladas ou processadas define boa parte do impacto ambiental. Não dá para falar em “futuro verde” ignorando o destino do lítio, do cobalto e do níquel que compõem essas baterias.
O mesmo vale para os plásticos internos, que precisam migrar cada vez mais para materiais reciclados e recicláveis, sem perder qualidade. Até itens como tecidos de bancos e revestimentos passam a ter importância, já que muitos deles hoje podem ser fabricados a partir de garrafas PET e fibras reaproveitadas.
Outro ponto que faz diferença é o consumo de água nos processos industriais. Algumas montadoras já reduzem drasticamente esse uso em áreas como pintura e lavagem, mas ainda existe uma jornada longa até que isso se torne padrão e não exceção. E tem também o desafio energético: é ótimo ver fábricas que funcionam com energia solar e eólica, mas manter essa estrutura estável e contínua ainda não é tão simples quanto parece na teoria.
Não estou dizendo isso para criticar a indústria, longe disso. É apenas um lembrete de que construir um carro “limpo” é muito mais do que uma mudança de discurso. É uma transformação profunda, que envolve tecnologia, investimentos e decisões que nem sempre são as mais populares dentro da própria cadeia produtiva. E, como qualquer transformação, ela leva tempo, ajustes e tropeços.
O lado positivo é que já vemos avanços concretos, como fábricas mais eficientes, metas de redução de resíduos, processos que reaproveitam sobras de metal, iniciativas de economia circular e parcerias com empresas especializadas em reciclagem de baterias. A roda começou a girar, o que já é bastante.
Mas também é importante que o consumidor entenda que não existe sustentabilidade instantânea. É um processo que evolui aos poucos, feito de pequenas vitórias que, somadas, fazem a diferença. E talvez o maior ganho dessa nova fase seja justamente a transparência: mostrar o que já foi feito, o que ainda não deu certo e o que está sendo estudado.
No fim das contas, produzir um carro de forma limpa não é sobre criar uma imagem perfeita. É sobre caminhar na direção certa, gerando a consciência de que no mundo real a sustentabilidade de verdade não é um rótulo, mas sim um compromisso contínuo com as pessoas e com o mundo.
LEIA MAIS EM GABRIEL DE OLIVEIRA
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
