É juiz do Trabalho, doutorando em economia, mestre em Processo, especialista em Direito do Trabalho e economista. Professor de graduação e pós-graduação da FDV. Neste espaço, busca fazer uma análise moderna, crítica e atual do mercado e do Direito do Trabalho

Chronoworking, carga menor, fim da CLT? Mercado de trabalho virou um laboratório

Você já deve ter percebido que existe uma narrativa — espalhada principalmente nas redes sociais, e que influencia deveras a opinião pública — de que o jovem, o GenZ, não quer saber de CLT. A forma como essa narrativa é disseminada é sedutora

Publicado em 27/05/2025 às 04h30

Ultimamente, tem ganhado espaço no debate sobre o mundo do trabalho um modelo conhecido como chronoworking (G1, 20/05/2025), que propõe uma jornada adaptada ao ritmo biológico de cada trabalhador. Nesse formato, os funcionários trabalham nos horários em que se sentem mais produtivos, de acordo com seus cronotipos — matutino, vespertino ou intermediário.

A proposta visa conciliar bem-estar, aumento de produtividade e retenção de talentos. Empresas que implementaram esse modelo relatam ganhos em qualidade de vida, motivação e desempenho, mas ressaltam que a viabilidade depende do setor e das características da atividade.

Como falávamos no último artigo, está tramitando nas casas legislativas uma proposta de lei que visa reduzir a carga horária semanal máxima de trabalho, de 44h para 36h. Os autores do projeto sustentam que o volume historicamente previsto na legislação é deveras alto, acreditando ser possível a redução dessa carga sem prejuízo salarial — um equívoco, como já dissemos.

Também falamos recentemente que está nas mãos do STF um tema que pode simplesmente encerrar os contratos celetistas, sem qualquer revogação democrática da CLT. O que se discute na referida ação judicial é a possibilidade de as partes negociarem contratos de prestação de trabalho diversos da relação de emprego, pouco importando se, em tais contratos, estão ou não presentes os requisitos definidos pelo legislador para que o contrato mínimo dirigido garanta direitos minimamente previstos na envelhecida Consolidação e no farto repertório legal produzido nas últimas oito décadas.

Outro assunto muito comentado no mundo do trabalho é o aumento, em nível global, dos “Nem Nem Nem”, do inglês Neets: jovens que, quando trabalham, em vez de construir uma carreira, optam por empregos que exigem menos sacrifícios — enquanto a desocupação entre eles só aumenta, com a saúde mental em franco declínio (Estadão, 21/05/2025).

Mais: você já deve ter percebido que existe uma narrativa — espalhada principalmente nas redes sociais, e que influencia deveras a opinião pública — de que o jovem, o GenZ, não quer saber de CLT. A forma como essa narrativa é disseminada é sedutora, a ponto de até nós, com algum conhecimento sobre as garantias que o trabalhador deve ter e com uma consistente noção de responsabilidade — e do dever de pagar os boletos que assumimos —, sejamos tentados a concordar.

Esses são só alguns exemplos do caldo em que se encontra o mundo do trabalho atualmente. E o que eles têm a ver entre si?

A principal conclusão que tiro é que não existe posicionamento único; não existe certo e errado, esquerda e direita, ou qualquer outro binômio que tenha 100% de razão. Essas diversas demandas demonstram o desespero com que a sociedade — em constante mutação, sob choques tecnológicos sucessivos e imersa em diversidade (a parte boa) — atravessa o presente.

Viemos de um século XX pós-escravagista, que se formatou na ordem, na linha de produção fordista, na vigilância estatal orwelliana e em padrões morais e sociais rígidos. Com o avanço da tecnologia da informação, da microcomputação, da internet e da inteligência artificial — aliados à democratização e à globalização —, essa rigidez se dissipou rapidamente.

Jovens no mercado de trabalho
Jovens no mercado de trabalho. Crédito: Liana Dudnik/Freepik

A geração X assistiu a toda essa mutação, esforçou-se e ainda prima por estabilidade; os millennials nasceram no turbilhão e estão com muitas dificuldades em se estabelecer profissional e financeiramente, enquanto os GenZ acham que estão num mundo melhor e que não precisam de muita dedicação — mas os dados agregados macroeconômicos não dizem bem isso.

Quem deveria estar à frente desse debate, como condutor necessário para que se criem políticas de fomento ao bem-estar de todos nesse caldo — nesse mexido de diversidade —, é o Estado, com amplas discussões no Legislativo e no Executivo, visando a reformas estruturais em suas políticas de educação de base e legislação trabalhista.

Além disso, é claro, deveria haver um amplo combate à desinformação. A sociedade, contudo — e aqui se incluam seus representantes —, ocupa-se mais em desavenças político-partidárias e ideológicas, como se existisse razão nas mal definidas extremas esquerda e direita brasileiras, do que em discutir de forma madura o que precisa ser feito. O prognóstico disso tudo? Cada um tem o seu.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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