Acabada a Festa, comprovada a magia da Palavra, em boa hora evocada pela atriz/poeta Elisa Lucinda em seu cantinho de sonhos que é Itaúnas/Conceição da Barra, não resisto a dar alguns pitacos, recolhidos entre tantos encantamentos que se sucederam e encheram de brilho os dias e as noites da pequena vila orlada de dunas.
Em primeiro lugar, observei o fato de que as mídias locais e nacionais não se cansaram de citar a presença de nomes famosos e de celebridades. Foi puro merecimento. No entanto, no quesito literário, seria bom lembrar de mais gente que faz literatura no Espírito Santo e que estava lá. Ninguém venha dizer que se trata do “complexo de vira latas”, apontado por Nelson Rodrigues sobre a mania brasileira de só valorizar o que é estrangeiro; nem que “santo de casa não faz milagres”. Eu mesma, capixaba da gema, fui acolhida e carinhosamente tratada por microfones e câmeras com toda gentileza e atenção, e quero, de pronto, registrar meu maior respeito e gratidão a nossas e nossos repórteres e aos canais midiáticos.

Mas, na verdade, quando se trata de literatura, o que precisamos é um pouco mais de “capixabismo”, no melhor sentido. Temos poetas, romancistas, contistas, cronistas, a meu ver, em pé de igualdade com os melhores do país. Na Festa da Palavra, por exemplo, baixou uma nova geração de escritoras e escritores capixabas que reflete, de modo exemplar, a engrenagem do fazer literário.
Falo de uma geração atual, devedora daquela literatura feita nos anos 60/70, que ainda apresentava resquícios do modernismo com as experiências da poesia concreta, com o romance regionalista pincelado de pitadas das questões sociais, com a violência, com a fragmentação de personagens urbanos etc.
É, também, uma geração do século XXI que agora pega carona em lascas da literatura dos anos 1980 e 1990, feita por uma geração que embaralhou os gêneros, misturou as histórias, destroçou as formas canônicas, transitou entre a vida, o imaginário e o mundo real.
Nunca foi tão fácil publicar livros. E pelo que vi e ouvi em Itaúnas ouso dizer que a produção literária capixaba de hoje está voltada para a situação econômica, social e política que acontece no mundo. Não vou citar nomes, pois seria excessivo. Mas digo que um sanguinho novo circula pelo nosso fazer literário e o Espírito Santo abriga uma nova geração de gente que escreve antenada com tudo que acontece, treinada no uso das redes sociais, habituada às tecnologias atuais e consciente do fato de que, agora, mais que nunca, a própria literatura balança na fronteira da realidade com a ficção.
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