
A decisão do presidente Donald Trump de tarifar em 50% "todas e quaisquer exportações brasileiras", a partir de 1º de agosto, é uma enorme pancada na economia do Brasil e maior ainda na do Espírito Santo, que tem um grau de abertura comercial muito superior à média brasileira (64,2% no ES e 27,5% do PIB nacional). Mas cabe olharmos para alguns segmentos com maior atenção. "É quase um embargo", disse um executivo ainda atordoado com a informação.
Petróleo, aço, celulose, café e rochas ornamentais, todos com muito peso no Espírito Santo, estão entre os produtos mais vendidos pelo Brasil para os Estados Unidos. A situação do setor de rochas, por exemplo, é dramática. Oitenta por cento da indústria brasileira do segmento fica no Espírito Santo - movimento anual de R$ 15 bilhões e mais de 30 mil empregos. Em 2024, foram exportados US$ 1,26 bilhão, sendo que 56,3% (US$ 711 milhões) foram para os EUA, que, historicamente, é o grande comprador da produção brasileira. "É algo muito violento, isso quebra a indústria de rochas. O setor depende dos Estados Unidos, vamos perder totalmente a competitividade no país onde vendemos os produtos de maior valor agregado. É uma situação muito complicada", lamentou um empresário.
Outra pancada violenta, se tudo for mantido, virá da celulose. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,6 bilhão para os EUA, algo perto de 25% da produção nacional. A situação piora bastante no caso da planta capixaba da Suzano, em Aracruz, que é uma grande fornecedora da Kimberly-Clark norte-americana. Mais da metade da celulose produzida no Espírito Santo vai para os Estados Unidos. "É difícil até de analisar, o impacto é enorme. Não há como absorver isso e os clientes, claro, vão olhar para os concorrentes que estão em países que não estão pagando essas taxas. É esperar a poeira baixar e ver o que irá acontecer, já vimos várias idas e vindas nessas tarifas do Trump, vamos ver no que dará. O cenário de momento é péssimo", analisou um executivo do setor.
No café, produto mais importante do agronegócio capixaba, mais preocupação. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,9 bilhão para os EUA e o Espírito Santo mandou algo perto de US$ 270 milhões para lá. "É um golpe muito pesado, sem dúvida, mas é impossível dar qualquer resposta, agora, sobre o que acontecerá, afinal, pode ser que tudo mude, como já mudou em diversas outras situações. A certeza é de que teremos muita volatilidade e especulação enquanto essa situação não estiver definida", afirmou um dirigente do setor.
Os empresários e executivos que conversaram com a coluna não acreditam na manutenção da taxa em 50%, como o presidente Trump comunicou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (09). Mas uma questão preocupa demais todos eles. "A carta mistura política e ideologia com economia. Isso é um enorme complicador, afinal, como é que os negociadores, que são técnicos, vão fazer? Não se trata apenas de uma reciprocidade de tarifas, de relação comercial, misturou com briga política. Nesses casos, quando você foge da técnica e parte para uma pressão política, a margem de negociação fica muito mais estreita. Vejo uma dificuldade a mais para o entendimento", ponderou um empresário.
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