O anuário IEL 200 Maiores Empresas de 2025 trouxe uma mudança para lá de relevante, que se deu justamente na primeira colocação. A Petrobras deixou o posto de maior receita operacional do Estado e deu lugar para a Comexport, plataforma de comércio internacional que tem uma gigantesca operação de importação pelo Espírito Santo. Não se trata de uma mera mudança em um ranking, mas de uma alteração que revela uma relevante mudança nas bases da economia capixaba. Na 29ª edição do anuário, é a primeira vez que uma indústria não está no topo da tabela. E olha que por aqui operam gigantes do de Petrobras, Vale, ArcelorMittal e Samarco. Se olharmos para o top 5, só a petroleira e a Vale estão lá (as outras são as também tradings Sertrading e Timbro). Não é pouca coisa o que está acontecendo.
Trata-se de um fenômeno iniciado na década passada, quando o governo do Estado, via benefícios fiscais, passou a incentivar fortemente a vinda de atacadistas e distribuidores para o Espírito Santo. Apesar da ótima localização geográfica e dos portos, era uma cadeia pequena por aqui. Hoje, o comércio atacadista e distribuidor responde por cerca de 30% do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) arrecadado pelo governo estadual. São bilhões de reais investidos todos os anos em galpões e o Espírito Santo tornou-se, só para ficar nesses exemplos, a maior porta de entrada de carros e aeronaves executivas do Brasil.
No ano passado, as maiores empresas do Espírito Santo, juntas, faturaram R$ 219,6 bilhões (importante dizer que é levado em consideração o faturamento da operação capixaba). As do comércio foram responsáveis por R$ 91,66 bilhões, sendo que os atacadistas ficaram com R$ 82,55 bi e os varejistas com R$ 9,1 bi. Os maiores atacadistas empregam 3,6 mil e as maiores varejistas 9,7 mil. Em 2023, o faturamento das 200 ficou em R$ 182,07 bi. O comércio teve uma receita de R$ 54,6 bilhões: R$ 44,77 bi para o setor atacadista e R$ 9,82 bi para o varejista. Ou seja, de um ano para o outro as receitas do comércio dispararam 67,8%, sendo que as do atacadista foram catapultadas em 84,3% e as do varejista encolheram marginalmente.
Enquanto isso, as maiores indústrias, e aqui fica o alerta, viram, na soma, as suas receitas encolherem de R$ 97,3 bilhões, em 2023, para R$ 92,5 bilhões, em 2024: queda de 5%. Ou seja, em um cenário em que o faturamento global das empresas capixabas subiu 20,6% - muito puxado pelo comércio, mas serviços e agronegócio também avançaram -, o setor industrial encolheu em termos proporcionais e absolutos. A queda também se deu na geração de postos de trabalho: de 31,1 mil para 24,1 mil.
O dado merece ser observado com muita atenção, não pelo lado do comércio, cujo crescimento deve ser comemorado, mas pelo da indústria. Trata-se do setor com o maior poder de agregação de valor e complexidade para a economia, que gera o maior número de empregos qualificados, onde se dá grande parte da inovação e que mais gera demanda para os demais setores da economia. Claro que não se trata de um caos, afinal, grande parte da queda veio da indústria extrativa e de energia, que vêm dando sinais de recuperação - Petrobras e Vale estão elevando produção e a Samarco voltará à plena capacidade em 2028 -, mas, diante de um contexto em que o Brasil como um todo vê a sua indústria encolher, pelos mais diversos motivos, é importante estarmos atentos aos movimentos que acontecem também no Espírito Santo.
"Não existe país desenvolvido sem indústria desenvolvida. Estamos vendo, no mundo todo, uma corrida pela reindustrialização, com o apoio forte dos governos aos investimentos industriais, às pesquisas de ciência e tecnologia, para a atualização dos parques e desenvolvimento de coisas novas. Temos vários contextos diferentes, mas há movimento nesse sentido nos Estados Unidos, na Coreia, na Índia, na Europa... O Espírito Santo se acostumou com as gigantes que estão aqui há décadas, mas temos uma nova indústria de transformação se desenvolvendo. Falo de Marcopolo, Café Cacique, Ofi, WEG, Biancogres, Fibrasa, Fortlev, Buaiz, enfim, são vários os exemplos. Temos que entender melhor isso e entender o que deve ser feito para continuar atraindo esses investimentos. Também temos que entender os caminhos da indústria extrativa. A Vale está cada vez mais investindo lá no Pará, em Carajás, e a Petrobras está cada vez mais no pré-sal fora do Espírito Santo. É um desafio que temos, precisamos nos organizar para enfrentar. Temos ferramentas como Bandes e Fundo Soberano, mas temos que organizar", analisou um dos maiores e mais articulados industriais do Estado.
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