Os últimos 20 dias de agosto foram de mudanças relevantes nos preços mundiais do café, principal produto do agronegócio capixaba. Contrariando as expectativas geradas após a recuperação das safras do Vietnã e da Indonésia, os valores voltaram a subir forte no mês passado. A saca de 60 quilos do conilon tipo 7, que, em 12 de agosto, estava cotada a R$ 1.030,00 na Cooabriel, bateu em R$ 1,5 mil no dia 29, alta de quase 50%. Nesta nesta terça (02), fechou em R$ 1.410,00, evidenciando uma grande volatilidade. O arábica, em Varginha (MG), que em 12 de agosto custava R$ 1.940,00, bateu em R$ 2,4 mil em 1º de setembro. A tarifa de 50% dos Estados Unidos em cima das exportações brasileiras e uma safra menor de arábica no Brasil, o maior produtor do mundo, explicam boa parte do choque.
"Estamos vivendo um contexto bastante peculiar. Vamos começar pelo motivo mais simples de explicar, que é a colheita de arábica abaixo do esperado no Brasil. Devemos ter uma safra 10% menor, ou seja, cerca de 4 milhões de sacas a menos. Se deve a questões climáticas em Minas Gerais. O Brasil é o maior produtor do mundo, portanto, tem um impacto no preço, mas não explica tudo. A tarifa imposta pelos Estados Unidos em cima do Brasil deu uma bagunçada, afinal, estamos falando do maior comprador do mundo e do maior produtor do mundo. Todos sabem que o café brasileiro vai chegar mais caro nos Estados Unidos, isso colocou pressão para cima no preço do café de todo o planeta", explicou Márcio Cândido Ferreira, presidente do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
Outra questão importante é que os produtores, de olho nas máximas históricas do final de 2024 e início de 2025, quando o conilon chegou a R$ 2 mil e o arábica se aproximou dos R$ 3 mil, estão mantendo o produto estocado. "Diante do impasse entre Brasil e Estados Unidos e deste movimentos dos produtores de segurar a produção, estamos vendo um aumento dos preços que é muito provocado pela volatilidade. A Europa e a Ásia estão comprando mais, mas não o suficiente para o que estamos assistindo, a questão é mesmo a volatilidade provocada pelos eventos dos últimos dois meses".
O dirigente disse estar confiante em um acordo com os Estados Unidos. "O norte-americano é o maior consumidor de café do mundo, uma alta violenta nos preços por lá não será interessante para o governo. Se somarmos o encarecimento da saca com a tarifa de 50%, o preço do café brasileiro vai praticamente dobrar nos Estados Unidos. Alguém pode dizer: 'procura um novo fornecedor'. Não tem ninguém do tamanho do Brasil no mundo para dar conta da demanda deles".
Olhando para os produtores, são mais de 50 mil propriedades no Espírito Santo (o Estado produz 70% do conilon brasileiro), é importante estar muito atento aos movimentos do mercado. Em que pese os preços estarem abaixo das máximas do começo do ano, é recomendado não desprezar uma alta de quase 50% em apenas 20 dias. Ainda mais em um mercado que se mostra bastante volátil.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
