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Tarifaço de Trump: com medo da contaminação política, empresários do ES adotam "terceira via"

Impacto por lá: mais de 6 mil pequenas empresas dos Estados Unidos dependem de produtos importados do Brasil e 3,9 mil companhias americanas investem no país

Vitória
Publicado em 16/07/2025 às 03h00
Presidente Donald Trump anuncia tarifaço global a parceiros comerciais dos EUA
Presidente Donald Trump anuncia tarifaço global a parceiros comerciais dos EUA. Crédito: Reuters/Folhapress

Os primeiros dois parágrafos da carta divulgada pelo presidente Donald Trump, na quarta-feira (09), anunciando e justificando a imposição de uma tarifa de 50% em cima de todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos, deram forte coloração política a um assunto que é técnico e econômico. Ao sair em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe, Trump deu um discurso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha amargando uma consistente perda de popularidade. Lula pescou a deixa do norte-americano e mergulhou de cabeça em defesa da soberania nacional (em linha, claro, com seus apoiadores e, de quarta passada para cá, com muita gente que tem muitas críticas ao governo, mas que, diante do cenário, cerrou fileiras). Os resultados dessa mudança nas nuvens começaram a aparecer: pesquisa Atlas/Bloomberg, divulgada nesta terça (15), mostra uma melhora consistente da avaliação do presidente, com um avanço de 2,4 pontos percentuais.

O empresariado está de olho nesses claros movimentos da política e se preocupa. O maior medo é de que uma guerra de narrativas entre os pólos da política inviabilize uma saída equilibrada. Por isso, uma espécie de "terceira via" das estratégias, montada por empresários e executivos, está em curso. "O nosso maior receio é entrarmos em uma guerra de narrativas, que só interessa a quem está preocupado com política eleitoral ou outras questões menores, e esse acordo demorar para sair ou simplesmente não sair. Este não é o cenário esperado, mas precisamos estar atentos aos movimentos, por isso, estamos em contato direto, sem intermédio de governos, com nossos clientes norte-americanos e entidades representantes. São grupos muito fortes e que terão os seus negócios afetados por essas tarifas. Isso já está chegando ao governo dos Estados Unidos", explicou o executivo de um peso-pesado da indústria capixaba sob anonimato.

Só para ficarmos em alguns exemplos: mais de 16% da produção total de café do Brasil, que é a maior do mundo, vai para os Estados Unidos. Há outros fornecedores, mas eles não sobram no mundo, portanto, é possível que o cafezinho do norte-americano suba de preço com o tarifaço. Os empresários brasileiros têm estreita relação com a National Coffee Association (NCA), que representa a indústria de café dos EUA, que emprega mais de 2 milhões por lá. O presidente da NCA, William Murray, visitou o Espírito Santo em 2023. Boa parte do aço produzido pela ArcelorMittal Tubarão abastece a indústria automobilística dos Estados Unidos (aliás, uma das mais defendidas por Trump em seus discursos). Por fim, as fábricas da Suzano no Espírito Santo são grandes fornecedoras de celulose para gigantes do porte de Kimberly-Clark e Procter & Gamble. A saída, na visão dos empresários, pode vir daí.

Nesta terça (15), já como resultado dessa iniciativa, uma carta conjunta da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) e da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, maior entidade empresarial do mundo, deixa clara a situação. "A Câmara dos EUA e a AmCham Brasil instam os governos americano e brasileiro a se engajarem em negociações de alto nível para evitar a implementação de tarifas prejudiciais. Impor tais medidas em resposta a tensões políticas mais amplas corre o risco de causar danos reais a uma das relações econômicas mais importantes dos Estados Unidos e estabelece um precedente preocupante. A tarifa de 50% proposta impactaria produtos essenciais para as cadeias de suprimentos e os consumidores dos EUA, aumentando os custos para as famílias e reduzindo a competitividade de indústrias-chave americanas. Mais de 6.500 pequenas empresas nos EUA dependem de produtos importados do Brasil, enquanto 3.900 empresas americanas investem no país. O Brasil é um dos 10 principais mercados para as exportações dos EUA e o destino de quase US$ 60 bilhões em bens e serviços americanos todos os anos".

Os indicativos dados pelo governo brasileiro, nesta terça-feira, de que a possibilidade de retaliação aos EUA está, neste momento, afastada, agradou o empresariado. O que eles querem é negociação e água na fervura.

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