Publicado em 3 de julho de 2020 às 19:05
O tremor de terra que surpreendeu os moradores da Grande Vitória no início da tarde da última quinta-feira (2) não foi o primeiro a acontecer na Capital. Em 24 de outubro de 1972, uma terça-feira, um abalo sísmico também de pequena intensidade, deixou várias pessoas apavoradas. Muitos moradores deixaram suas casas ou locais de trabalho e correram pelas ruas assustados. Vidros quebraram, móveis balançaram e duas mulheres chegaram a desmaiar. >
O jornal A Gazeta noticiou o fato na época, e a redação chegou a receber várias ligações de pessoas assustadas com o acontecimento. A reportagem que veiculou no jornal do dia seguinte, 25 de outubro, apresentou a fala de um geofísico da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cícero Moraes, que disse que o abalo tinha ocorrência tradicional, e que o mesmo tremor chegou a ser registrado em Niterói, no Rio de Janeiro.>
O tremor, diz a matéria, foi seguido de uma violenta explosão. Na época, o Observatório Nacional da Guanabara atribuiu o fenômeno à acomodação das camadas do solo em virtude da mudança brusca de temperatura, entretanto, não chegou a determinar o epicentro do abalo. "Faltando poucos minutos para as 13h, surgiram as primeiras notícias em relação ao tremor de terra. O Edifício Guruçá, na Praia da Costa, em Vila Velha, teve vários vidros de janelas trincados", diz a matéria.>
A situação foi classificada como de "intranquilidade", e embora não tenha sido registrado nenhum caso fatal, duas mulheres desmaiaram. Os depoimentos colhidos por A Gazeta mostram que o abalo sísmico naquela data fatídica ocorreu entre 12h40 e 12h50. Na época, o Espírito Santo não possuía sismógrafo, aparelho capaz de medir a intensidade do tremor de terra e hoje conta com três: em Rio Bananal, Guarapari e Barra de São Francisco.>
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Comerciante e morador do bairro Santa Lúcia, em Vitória, Pedro Rocha contou que almoçava quando ocorreu o terremoto. "Logo vi o chão do apartamento estremecer, peguei meus pais e meu irmão e os levei para a rua. Foi uma coisa horrível e, de todos da minha família, apenas minha mãe não ficou nervosa", contou na época. >
A reportagem diz que já passava um pouco das 13h quando a redação de A Gazeta recebeu uma ligação de Alfredo Chaves. "Alô, aqui quem fala é Luiz Carvalho, do Boteco do João. Já é a segunda vez que a terra estremece por essas bandas", disse. Em Cachoeiro de Itapemirim houve tumulto nas principais ruas da cidade e pessoas deixaram suas casas com receio de que elas desabassem.>
O jornal também ouviu o representante comercial Maurício Tanure, que descansava do almoço em sua residência, em Alto Lage, Cariacica, lendo um jornal, quando a parede estremeceu e caiu o revestimento do reboco. Segundo ele, seu sócio Luiz César Scopal, morador da Capital, também notou o estremecimento da terra, mas nada aconteceu de pior no escritório.>
O tremor também pôde ser sentido no Centro de Vitória, provocando correrias e pequeno tumulto nos edifícios mais altos da região. O abalo teria durado cerca de 3 segundos, e em várias casas o abalo chegou a alterar a posição dos móveis e soltar os tacos dos pisos. Surpreendentemente, o fenômeno passou despercebido em alguns prédios da Capital.>
Até que a informação se confirmasse, muita gente chegou a atribuir o tremor de terra a explosões de dinamites, até que rádios noticiassem o contrário o que aconteceu por volta das 14h45. A moradora da Ilha do Príncipe, Hilda Modenesi, também sentiu o terremoto. "Estava sentada lendo um livro, aproximadamente às 12h45, quando tudo sob meus pés começou a tremer. Cheguei a achar que estava passando mal, mas depois compreendi que se tratava de um tremor de terra", contou à época. >
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Por fim, a moradora do morro da Companhia Vale do Rio Doce, Maria Helena Pipi, também prestou seu depoimento na ocasião e disse que, à princípio, havia pensado que estivesse passando pelas redondezas "mais um trem carregado de minério". Segundo informações extra-oficiais obtidas no Rio de Janeiro, o abalo sísmico alcançou o índice de 0,01 de magnitude, mas as autoridades oficiais da Agricultura preferiram não confirmar essa dedução.>
Na noite de 28 de fevereiro de 1955, em Vitória, os capixabas viviam uma noite de mistério e terror com o segundo maior terremoto já registrado no Brasil. O tremor de terra sentido em Vitória, Cariacica, Vila Velha, Guarapari e Colatina teve seu epicentro no mar a 300 quilômetros da costa do Espírito Santo. A força do sismo, de magnitude 6,1, foi tão grande que, apesar da distância, acordou moradores, fez tremer portas e janelas de residências. >
Logo após o forte terremoto, a reportagem do Jornal A Gazeta foi para as ruas fazer uma ronda e, nos bairros que passou, ouviu a confirmação do sismo. De Praia do Canto a Santo Antônio, de Maruípe aos Barreiros, na Capital; alongando-se por Jardim América, Itaquari, Campo Grande, Itacibá, no município de Cariacica; e Cobilândia, Paul e Argolas, em Vila Velha. Houve relatos inclusive do interior, na cidade de Colatina, e também Guarapari, onde uma cama teria sido arrastada por um metro. >
Fotos de Vitória na década de 1950
No Espírito Santo, só neste ano de 2020, foram registrados três tremores de terra, de acordo com a Rede Sismológica Brasileira. O primeiro registro deste ano foi em Ecoporanga, região Norte do Estado, no dia 24 de fevereiro, às 20h13, e marcou um tremor de 1,8 de magnitude regional (mR). >
O segundo tremor, já de maior escala, aconteceu no dia 17 de maio, às 23h20, na Plataforma Continental do Espírito Santo, ou seja, a 350 milhas (563 km) da baía, também na altura do norte capixaba. Já o último e mais recente, aconteceu na última quinta-feira (2), e teve 1,9 de magnitude. O epicentro foi localizado no bairro Maruípe, em Vitória.>
Em entrevista para A Gazeta, o especialista George Sand Leão, que atua no Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, explicou que os registros no Estado são tremores de magnitude pequena embora o de 2.8 mR já desse para sentir se ficássemos próximos. "Não dá para causar nenhum tipo de estrago, não tem impacto nenhum com relação a grandes efeitos. São eventos de pequenas magnitudes, e às vezes nem a população sente", detalhou.>
George Sand Leão
EspecialistaSand finalizou dizendo que o que causa os tremores de terra, também chamados de abalos sísmicos, é justamente a movimentação das placas tectônicas. "Esses tremores são causas desse movimento do limite das placas tectônicas. A movimentação delas gera esse tremor de terra", concluiu. >
Questionado sobre como é feita a conversão da magnitude brasileira para a Escala Richter, Sand explica que a medida é universal. "Escala Richter não existe. Richter fez uma escala chamada magnitude para a Califórnia. Não se converte da brasileira para a de Richter, é a mesma coisa", detalhou. >
"O que temos são vários tipos de magnitude, e a que melhor representa a escala no Brasil é a regional. Por isso que sempre falamos magnitude, que é o que representa verdadeiramente a energia liberada em um terremoto no Brasil", concluiu George.>
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