Estruturas ficam no cruzamento entre avenidas movimentadas da Capital
Estruturas ficam no cruzamento entre avenidas movimentadas da Capital. Crédito: Fernando Madeira

Ruínas de cinema drive-in e da Boate Zoom resistem ao tempo em Vitória; vídeo

A reportagem de A Gazeta desvendou o mistério de três colunas gigantes que ficam localizadas entre os bairros Mata da Praia e Jardim Camburi

Tempo de leitura: 3min
Publicado em 23/11/2025 às 07h35

Quem passa pelo cruzamento das avenidas Adalberto Simão Nader e Dante Michelini, na região entre os bairros Jardim Camburi e Mata da Praia, em Vitória, talvez já tenha se perguntado o que são aquelas três colunas gigantes que se destacam em meio à paisagem. À primeira vista, parecem apenas postes, mas não são. E mais: elas têm uma história com diferentes tipos de divertimento. 

O que muita gente não sabe é que aquelas colunas são, na verdade, as ruínas de dois marcos do entretenimento capixaba: um antigo cinema drive-in, que existiu nos anos 1970, e, mais tarde, a Boate Zoom — depois rebatizada como Megazoom e Planeta Ibiza — que marcou a vida noturna de Vitória nos anos 1990.

Parece poste, mas não é

Por serem uma estrutura alta à margem de uma avenida, é normal concluir que deve ser um poste de energia. Até porque existem alguns por perto. Mas, mesmo por fotos (veja acima e mais aqui abaixo), já é possível perceber que as colunas na Avenida Adalberto Simão Nader são mais altas. Ao se aproximar, dá para notar que essa diferença fica ainda mais evidente. 

Repórter de A Gazeta ao lado de estruturas na Mata da Praia
Repórter de A Gazeta ao lado de estruturas na Mata da Praia dá a dimensão da altura dos pilares. Crédito: Fernando Madeira

Mesmo assim, pela semelhança, a reportagem A Gazeta procurou a EDP, concessionária do fornecimento de energia elétrica na Capital, que respondeu que as estruturas "não pertencem e não são de responsabilidade da distribuidora". Ainda em busca de uma resposta, a reportagem procurou também a Prefeitura de Vitória. 

"Embora as estruturas estejam fora do gradeamento, elas se encontram em um lote cujo cessionário, desde 2020 (com vigência até 2050), é a empresa operadora do Aeroporto de Vitória. O terreno pertence à União Federal, sob responsabilidade do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos", informou a prefeitura. 

Mas também na resposta da administração municipal veio a curiosidade: "As estruturas estavam localizadas no interior da antiga Boate Zoom, que foi um dos principais pontos de encontro da vida noturna de Vitória nos anos 1990. O imóvel foi demolido em 2010, dando lugar à atual Rua Dra. Zilda Arns, que conecta a avenida Dante Michelini à avenida Adalberto Simão Nader", disse a prefeitura. 

Imagem antiga da boate Zoom
Imagem antiga da boate Zoom. À esquerda, os pilares aparecem dentro da área do estabelecimento. Crédito: Carlito Medeiros/Arquivo AG

História ainda mais antiga como cinema

Mesmo depois de descobrir que ali funcionou a Zoom e posteriormente a MegaZoom (onde aconteciam baladas e shows), uma pergunta ainda intrigava: para que serviam essas colunas? A busca seguiu e, com o apoio do professor André Malverdes, do departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a história foi se revelando.

André coordena as pesquisas do blog Cine Memória, que conta histórias das salas de cinema do Espírito Santo. Alguns desses registros estão no livro "As Salas de Cinema de Vitória". Em ambas as plataformas (livro e blog) consta que, durante três meses de 1976, funcionou no local um cinema drive-in — onde as pessoas, de dentro de seus carros, assistiam aos filmes —, numa época em que a região entre Mata da Praia e Jardim Camburi ainda era distante dos principais pontos de lazer da capital.

Em imagens publicadas em uma matéria no extinto Caderno Dois, de A Gazeta, sobre o drive-in, é possível vê-lo em funcionamento. O professor André acredita que as estruturas que estão lá até hoje tenham sido usadas para sustentar a tela do cinema. Abaixo é possível ver a página do jornal e, logo depois, a foto com um tratamento de cores onde é possível ver o que podem ser as colunas. 

Página do extinto Caderno Dois de A Gazeta em abril de 1976

Página do extinto Caderno Dois de A Gazeta em abril de 1976
Página do extinto Caderno Dois de A Gazeta em abril de 1976. Arquivo AG/ Cedoc
Página do extinto Caderno Dois de A Gazeta em abril de 1976
Imagem do cinema drive-in com ajuste de cores. Arquivo AG/ Cedoc
Imagem do cinema drive-in com ajuste de cores
Imagem do cinema drive-in com ajuste de cores

O professor contou que onde hoje é uma das regiões mais badaladas da Capital, já foi distante do movimento."Em Camburi, onde funcionava o Cine Drive-in, era muito longe (na época). A vida funcionava no Centro, em Gurigica, mais próximo à região de Santo Antônio e Vila Rubim, e poucas pessoas tinham carro. Além disso, era um período de decadência desse tipo de coisa (cinema drive-in). Apesar de ser novidade em Camburi, a região era muito afastada", contou o professor Andre. 

Hoje, quase cinco décadas depois, as colunas seguem de pé — com um pouquinho de teia de aranha —, despertando a curiosidade de quem passa pelo local. Uma espécie de “fóssil urbano”.

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