Com quase dois quilômetros de extensão, a Rua Aleixo Netto liga dois bairros importantes de Vitória: Santa Lúcia e Praia do Canto. Ao longo do trajeto, há a mistura de estilos e histórias em uma paisagem em constante transformação.
A famosa rua é marcada por contrastes: de casas simples e antigas a prédios altos e modernos, lojas de grife, restaurantes renomados, clínicas e escritórios — que fazem dela um verdadeiro shopping a céu aberto.
Enquanto os prédios e as novas construções ganham espaço, a presença de imóveis antigos, com marcas do tempo e ainda decorados com azulejos, trazem ao trecho um tom nostálgico. É uma rua no coração de Vitória, onde passado e presente caminham lado a lado, entre a sombra das árvores e o barulho do comércio. Tão emblemática que empresta o próprio nome a restaurantes, clínicas e negócios locais. Mas, afinal, quem foi Aleixo Netto?
Para muitos estudiosos e teóricos, a educação representa um ato de resistência, revolução e transformação social. Inspirado por essa convicção, Manoel Pinto Aleixo Netto dedicou-se ao ensino, ofereceu aulas gratuitas por muitos anos e participou ativamente da campanha abolicionista no Espírito Santo. Ele é o homem por trás do nome da rua que é uma das mais conhecidas da Capital do Espírito Santo.
"LÁ VEM HISTÓRIA"
Seguimos sem saber em que ano a rua recebeu o nome, mas certamente em 1950 já se chamava Aleixo Netto. Isso porque o pesquisador e genealogista Gilber Rubim Rangel compartilhou um documento histórico daquela década sobre a nomeação da Praça San Martin, também na Praia do Canto, e lá já era citada a 'Rua Aleixo Netto'.
"HERÓI ESQUECIDO"
Amâncio Pereira, escritor e historiador nascido em Vitória em 1862 e falecido em 1918 menciona Aleixo Netto no livro Homens e Cousas Espírito-Santenses como um herói indispensável na luta pela liberdade dos cativos no Espírito Santo. No entanto, o autor já deixava claro lá atrás que, apesar da importância, Aleixo Netto seguia "apagado" pela falta de reconhecimento e informações disponíveis sobre ele. Nem mesmo registros fotográficos dele foram encontrados.
INTELIGENTE E HABILIDOSO
Há alguns anos, o economista e pesquisador José Eugênio Vieira — o mesmo que nos auxiliou a contar quem foi Expedito Garcia — também se dedicou a investigar a história de Aleixo Netto. Ele revelou que o pai de Aleixo, Manoel Pinto Aleixo, era um português que chegou ao Espírito Santo ainda jovem e se casou com Alexandrina Rosa da Silva Pinto. Juntos, tiveram uma "numerosa prole", incluindo Manoel Pinto Aleixo Netto, nascido em Vitória no ano de 1850.
Desde jovem, Aleixo se destacou na comunidade pela inteligência, generosidade e habilidade em fazer amigos. Ao longo da vida, atuou como funcionário público, com passagens pela Câmara Municipal de Vitória e pela alfândega. No entanto, o maior legado dele foi como professor, oferecendo aulas noturnas para crianças, adolescentes e adultos carentes.
“Aleixo Netto foi essencialmente um professor e um trabalhador pela educação popular. Era simpatizante do partido político União Republicana Espírito-Santense, que era dirigido pelo Barão de Monjardim, amigo dele. Animador cultural de Vitória, era ativo participante de várias entidades. Militou na causa abolicionista e foi membro do Movimento Abolicionista da Libertadora Domingos Martins ao lado de figuras como Muniz Freire, Afonso Cláudio e Cleto Nunes”, descreveu o pesquisador José Eugênio Vieira.
Como membro da Sociedade Teatral Melpômene e presidente da Sociedade Musical Bela Harmonia, Aleixo Netto se destacou como grande incentivador e promotor de atividades culturais em Vitória. Integrou também a Irmandade de São Benedito, no Convento de São Francisco, onde professava a fé, e também fez parte da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia.
SOBRINHO DE LEITÃO DA SILVA
O historiador, pesquisador e genealogista Paulo Stuck Moraes contou à reportagem de A Gazeta que, ao estudar a origem da família de Manoel Pinto Aleixo Netto, descobriu que o educador capixaba era neto materno do major Antônio Leitão da Silva e Francisca Maria da Silva. Portanto, sobrinho de Francisco Antônio Leitão da Silva, militar que morreu em 1867, na Guerra do Paraguai, e que dá nome a importante avenida em Vitória.
MORTE PRECOCE
Os pesquisadores ouvidos pela reportagem narraram que Aleixo Netto morreu no dia 24 de fevereiro de 1894, aos 44 anos. A causa da morte foi beribéri, uma doença que pode ter diversas causas, entre elas deficiência da vitamina B1. Ele era solteiro e não teve filhos.
Um ano após a morte do professor capixaba, no dia 25 de fevereiro de 1895, o Jornal Commercio do Espírito Santo fez uma homenagem a Aleixo Netto. A linguagem formal, adequada à época, deu tom melancólico à mensagem. Leia:
E o redator ainda continuou: “Ainda hoje, rememorando a fatalidade que tão cedo o roubou ao mundo, confundimos nossas lágrimas com o amargo pranto dos entes queridos, que acercaram seu leito de extremosos cuidados e receberam-lhe o eterno adeus”, finalizou.
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