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Muito além da esfirra, povo árabe contribuiu para progresso do ES

Muito além da esfirra, povo árabe contribuiu para progresso do ES

Sírios e libaneses chegaram no final do século XIX e se estabeleceram principalmente no Sul do Estado, prosperando no setor do comércio inicialmente

Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 17:56

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Comida árabe servira em restaurante de Guarapari é apenas uma das influências da cultura no ES
Comida árabe servida em restaurante de Guarapari é apenas uma das influências da cultura no ES. (Vitor Jubini; Carlos Alberto Silva; Acervo Público Estadual)

Quibe, esfirra, tabule, homus, babaganoush... Talvez os pratos árabes sejam a parte da cultura desse povo que mais se misturou ao cotidiano do capixaba — e fica fácil entender por que depois de prová-los. Porém, a contribuição de sírios e libaneses para o Espírito Santo vai muito além da culinária.

De acordo com o historiador e comentarista da CBN Vitória Fernando Achiamé — que é neto de libanês — esses imigrantes chegaram em solo capixaba entre o final do século XIX e o início do século XX. E você sabe por que eles eram (ou são) chamados de turcos?

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Na época, a região da Síria e do Líbano era dominada pelo Império Otomano, que tinha como sede a Turquia. Então, os imigrantes vinham com o passaporte do Império Otomano e acabavam sendo denominados de turcos

Fernando Achiamé
Historiador e comentarista da CBN Vitória
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Diferentemente dos imigrantes italianos e alemães, os sírios e libaneses não tiveram ajuda financeira dos governos. Por outro lado, também vieram ao Brasil em busca de uma vida mais próspera, já que do outro lado do Oceano Atlântico havia opressão do império e faltava terra e emprego.

"No ano de 1876, o Dom Pedro II visitou o Líbano e a Síria. Foi o primeiro governante brasileiro a estar lá e ficou alguns dias. Na ocasião não houve um tratado, mas pesquisas viram, pelos jornais da época, que foi feita uma propaganda danada do Brasil, que acabou incentivando o fluxo imigratório", explicou Achiamé.

Muito além da esfirra, povo árabe contribuiu para o progresso do ES
Os libaneses que vieram para o Espírito Santo eram confundidos com turcos devido ao passaporte se fixaram no comércio
Os libaneses que vieram para o Espírito Santo se fixaram no comércio. (Acervo | Jornal A Gazeta)

No Espírito Santo, as primeiras famílias sírio-libanesas se estabeleceram principalmente na Região SulAlegreCachoeiro de ItapemirimMuquiIconha e Anchieta. "Depois, esses descendentes foram se espalhando. Hoje, temos famílias importantes em São MateusNova Venécia e Colatina", afirmou o historiador.

Bem característico desses imigrantes foi o estabelecimento no comércio capixaba, por questões econômicas e de liberdade. "De início, eles eram mascates, tropeiros. Assim, não precisavam de um capital inicial e viajavam. Depois, foram virando donos de lojas, açougues e padarias. Ou proprietários de pequenas indústrias", contou Achiamé.

A fama de "muquirana", "mão de vaca" ou sovina é fidedigna?

"Tudo não passa de um preconceito ou de uma brincadeira, uma piada. Os libaneses são muito generosos. A mesa é farta, a visita é considerada sagrada. A pessoa é recebida de braços abertos. Mas é lógico que a pessoa no comércio tem que ser esperta, tem que passar uma espécie de 'manta' na outra para ter lucro. Havia também uma preocupação para que as despesas virassem capital e produzisse mais riqueza."

Sírios e libaneses

Fernando Achiamé

A Avenida Jerônimo Monteiro e a Vila Rubim – pontos comerciais tradicionalíssimos da Capital – são só dois dos exemplos onde muitos sírios e libaneses vendiam as próprias mercadorias. Os antepassados de Vitor Buaiz, ex-governador do Espírito Santo e ex-prefeito de Vitória, são um exemplo.

De modo geral, apesar das dificuldades iniciais, a partir da segunda geração, o povo árabe conseguiu enriquecer e os filhos passaram a ter mais acesso à educação, sendo, muitas vezes, até enviados ao Rio de Janeiro para se formarem médicos, advogados, engenheiros ou dentistas.

Imigrantes libaneses no Espírito Santo se concentraram em atividades comerciais como a da Casa Flor de Maio (foto), de 1910. (Acervo | Jornal A Gazeta)

Por causa da prosperidade adquirida com o passar do tempo, alguns sírios e libaneses passaram a ser alvo de rejeições por parte dos capixabas. O evento máximo que reflete esse atrito entre locais e imigrantes é uma revolta que aconteceu em Cachoeiro de Itapemirim, em setembro de 1898.

De acordo com a historiadora Nara Saletto, em entrevista para o jornal A Gazeta, em 2001, o inquérito policial revela que os sírios e libaneses precisaram fugir temporariamente da cidade, após um ataque. Para ela, o movimento jacobino, que pregava o ódio a estrangeiros, também favoreceu o conflito.

entre 100 mil e 150 mil
era a população estimada de descendentes de libaneses no Espírito Santo, em 2006

Atualmente, muito bem integrados aos capixabas, os sírios e libaneses tiveram a história das respectivas famílias – ou pelo menos de parte delas – mapeada e contada pelo Arquivo Público do Estado (APE), como uma das etapas e estudos realizados dentro do projeto Imigrantes Espírito Santo.

Sem grandes monumentos que os homenageiem no Estado, a força do povo árabe é levada por inúmeros nomes que nos cercam: Abdala, Alcuri, Ascha, Assad, Bichara, Carone, Chequer, Haddad, Kalil, Mameri, Mansur, Nader, Nascif, Saad, Shebab, Tanuri... entre tantos outros.

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