Publicado em 26 de junho de 2015 às 23:26
É hora da Capixapédia desvendar os mistérios de um antigo capítulo da história da aviação no Estado: o primeiro aeroporto em território capixaba.>
O cenário escolhido para receber os primeiros pousos do Estado foi o Cais de Santo Antônio, em Vitória, uma plataforma fixa às margens da baía de Vitória. Já não era mais de Santo Antônio e sim o Cais do Hidroavião, que começou a operar em 1939, sob responsabilidade do Governo do Estado. A topografia e a calmaria das águas influenciou na escolha do local, além do bairro contar, na época, com uma linha de bonde para o Centro da cidade.>
A razão da escolha de um aeroporto 'aquático' para iniciar as operações da aviação no Espírito Santo é desconhecida. Mas o que se sabe, segundo o jornalista e escritor Álvaro Silva, é que a obra representa o atraso histórico na infraestrutura brasileira.>
"Foi um dinheiro jogado fora. Os hidroaviões já estavam ultrapassados na década de 30. Então não consigo entender o por quê desse investimento", comenta Álvaro, que escreveu o livro "Patrulha da Madrugada - O Início da Aviação no Espírito Santo", em homenagem ao seu pai, que foi piloto.>
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A chegada dos voos rasantes no rio mudou o cenário daquele tão pouco povoado bairro da capital. Os olhos das crianças brilharam mais com os 'pássaros enormes' que encantavam os meninos e meninas do local. "Era bonito demais de se ver", resume o aposentado Ruy de Oliveira, 81 anos.>
"Seu" Ruy era um menino com menos de 10 anos quando viu aquela engenhoca chegar perto da sua casa. E engana-se quem pensa que o espaço não era movimentado. Segundo o aposentado, pelo menos dois aviões comerciais lotados pousavam no Cais todos os dias.>
"Nem se compara com o que é hoje, mas mesmo assim tinha bastante movimento. A gente via muita gente embarcar e desembarcar aqui", reforça ele.>
Para o escritor Álvaro Silva, a localização da cidade de Vitória contribuía para essa grande movimentação do aeroporto, que recebia desde simples monomotores a pesados quadrimotores de carga e passageiros.>
"Alguns aviões que vinham do exterior e faziam escala em Salvador não tinham permissão para fazer a linha Salvador-Rio direta. Então, obrigatoriamente, algumas aeronaves tinham que pousar aqui antes de ir para o Rio, o que fazia com que as autoridades e personalidades do exterior ficassem pelo menos algumas horas no Estado", revela Álvaro.>
Do presidente Getúlio Vargas ao ator de Hollywood Tyrone Power, muita gente conhecida desembarcou no primeiro aeroporto capixaba.>
Por falar em pouso, o procedimento era muito simples. A aeronave descia no rio, alguns metros de distância da costa, de modo a não oferecer risco para a população ribeirinha. Em seguida, barcos iam até o hidroavião e traziam os passageiros, cerca de 17 em cada aeronave, para a costa.>
O tempo de vida do Cais foi curto, menos de dez anos, mas o suficiente para registrar um capítulo marcante da história da aviação estadual: o primeiro (e único) acidente de pouso registrado em solo capixaba, em 1943. A aeronave colidiu com muita força na água, quebrando o casco e atracando. Felizmente, não houve feridos nesse episódio tenso.>
O marco para o fim das operações no Cais foi a Segunda Guerra Mundial. Assim que terminou a Guerra, os hidroaviões entraram em desuso porque eram caros e de operação difícil. O Cais de Santo Antônio foi um dos últimos a encerrar as operações aéreas no país, em 1948. A sede do antigo aeroporto se transformou em um restaurante capixaba.>
Imagens e Edição: Danilo Meirelles>
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