Barcelona na Serra: qual é a relação do bairro do Espírito Santo com a Espanha?
Barcelona na Serra: qual é a relação do bairro do Espírito Santo com a Espanha?. Crédito: Arte Geraldo Neto

Barcelona na Serra: qual é a relação do bairro do ES com a Espanha?

Registros mostram duas versões para o nome do bairro construído por uma cooperativa habitacional. Uma história tem ligação com o rei espanhol Juan Carlos, já a outra com a Copa do Mundo de 1982

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 02/06/2022 às 10h32

Quem chega ao bairro Barcelona, na Serra, Grande Vitória, não encontra a Sagrada Família ou outras obras arquitetônicas de Antoni Gaudí, símbolos da região da Catalunha, na Espanha. Contudo, se depara com cantinhos muito especiais e até uma versão do Camp Nou, estádio do famoso time catalão. Mas há uma relação entre a cidade catalã e o bairro serrano? Registros históricos mostram duas versões para o nome do bairro construído por uma cooperativa habitacional. Uma história tem ligação com a Copa do Mundo de 1982, já a outra com o rei espanhol Juan Carlos.

Barcelona, na Espanha, foi constituída antes mesmo do nascimento de Cristo, já o bairro da Serra data de um período um pouco mais recente. Uma reportagem de 14 de dezembro de 1993, do Jornal A Gazeta, mostra que as primeiras casas do local começaram a ser construídas em 1980 e foram entregues aos moradores em 1984, na inauguração do bairro.

O bairro serrano foi objeto de estudo da arquiteta e urbanista Rosany Dias, que abordou o surgimento da localidade em seu projeto de graduação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em março de 2022.

A arquiteta explica que a comunidade surgiu após grandes companhias se instalarem no território capixaba, devido ao processo de industrialização do Estado. "Vieram empresas como a Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Aracruz Celulose e a Samarco Mineração", aponta.

Rosany Dias

Arquiteta e urbanita 

"Estavam previstas as construções de empresas que oferecessem suporte a esses projetos industriais, além de habitações para a população trabalhadora"

“Para suprir essas demandas, foi atribuído ao município de Serra, naquele momento ainda pouco ocupado, oferecer o parcelamento do solo no distrito de Carapina. Os loteamentos seriam destinados para o Centro Industrial da Grande Vitória (Civit I e II), bem como os conjuntos habitacionais populares, viabilizados pelo Banco Nacional da Habitação (BNH) e construídos pelo Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (Inocoopes) e pela Companhia Habitacional do Estado (Cohab-ES)”, explicou Rosany Dias.

Nesse contexto, despontou Barcelona, assim como os bairros Porto Canoa, Mata da Serra, Maringá e Serra Dourada, voltados a receber o contingente populacional que trabalharia nesses grandes projetos industriais no Espírito Santo.

Antes de receber o nome Barcelona, o bairro era chamado Granjas Novas, devido à criação de galinhas no local. Crédito: Arte Geraldo Neto
Antes de receber o nome Barcelona, o bairro era chamado Granjas Novas, devido à criação de galinhas no local. Crédito: Arte Geraldo Neto

ANTES DE BARCELONA, UMA GRANJA

Quando as primeiras casas construídas pelo Inocoopes foram entregues em 1984, a comunidade era chamada Granjas Novas. Isso porque as propriedades, à época, eram destinadas à criação de galinhas.

"Já imaginou um bairro se transformando em um criadouro de galinhas? Pois essa era a intenção dos antigos proprietários do bairro Barcelona, que era uma fazenda e já se chamou Granjas Novas. Após um tempo, a região foi comprada pela Cooperativa Habitacional dos Trabalhadores Sindicalizados do Espírito Santo, que deu início à construção de um conjunto habitacional para atender à demanda dos sindicalistas. Em homenagem aos antigos proprietários, o local recebeu o nome de Conjunto Habitacional Granjas Novas", mostra a edição de A Gazeta nos bairros, de 12 de dezembro de 2005.

Fragmentos de jornais da época mostram que o nome atual foi dado pelos moradores. O acervo dá conta de que o bairro pode ter sido renomeado com a palavra catalã a partir de dois eventos diferentes.

COPA DO MUNDO

Copa do Mundo realizada na Espanha em 1982 teve como mascote o Naranjito . Crédito: Reprodução / Arte Geraldo Neto
Copa do Mundo realizada na Espanha em 1982 teve como mascote o Naranjito . Crédito: Reprodução / Arte Geraldo Neto

Uma história da ligação do bairro serrano com a Espanha diz que o nome Barcelona foi uma homenagem à Copa do Mundo 1982, realizada na Espanha. Essa versão foi relatada no Jornal A Gazeta, nos dias 11 e 12 de dezembro de 2005, citando que o nome foi dado em 1986 pelos sindicalistas do bairro.

Em 28 de setembro de 2008, o popular Jornal Notícia Agora também ligou a Copa ao bairro, citando que a Seleção de 82 não foi campeã, mas o mundial realizado na Espanha ficou na memória como o ápice do futebol arte brasileiro.

“Tanto que um bairro no município da Serra recebeu o nome de uma das cidades do país onde foram realizados os jogos naquele ano. Trata-se de Barcelona, que foi batizado assim pelos seus moradores em 1986.”

VISITA DO REI

Família real espanhola visitou o Brasil, mas não chegou a vir ao Espírito Santo
Família real espanhola visitou o Brasil, mas não chegou a conhecer o Espírito Santo. Crédito: Arte: Geraldo Neto

Já a outra história sobre o nome do bairro, diz que, na época da entrega das chaves, o rei da Espanha Juan Carlos viria para a inauguração da Aracruz Celulose. A comunidade então teria o convidado para a inauguração do conjunto habitacional. Relatos populares dão conta de que a viagem no solo capixaba teria sido desmarcada, mas os moradores optaram por colocar o nome Barcelona assim mesmo, como conta o presidente da Associação de Moradores do bairro, João Carlos Pereira Campos.

"O rei lá da Espanha iria fazer uma visita na Aracruz Celulose, então os moradores decidiram colocar o nome do bairro com o nome da cidade da Espanha. Ele não chegou a vir aqui, mas os moradores fizeram a homenagem assim mesmo", relata.

Em maio de 1983, Juan Carlos realmente visitou o Brasil, fez discurso no Congresso Nacional e até chegou beber caipirinha em Salvador, mas passou longe da moqueca capixaba.

"— A caipirinha — feita a base de cachaça, limão e açúcar — ganhou um novo adepto: o rei Juan Carlos, da Espanha. Ele gostou tanto da que experimentou no sábado à noite no barzinho do Bahia Othon Palace Hotel que ontem, no Palácio de Ondina, pouco antes do almoço, pediu que fosse feita uma para ele, apesar de não constar no cardápio. E repetiu a dose", contou a edição do Jornal A Gazeta de 16 de maio de 1983. 

Jornais contam a história de Barcelona

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CAMP NOU NA ESPANHA E NO ESPÍRITO SANTO 

Além da coincidência nos nomes, o bairro serrano tem outra semelhança com a cidade catalã, um estádio chamado Camp Nou, casa de um dos principais times europeus, o Barcelona, que serviu como referência para os moradores em 2015, na construção do campo de futebol local. 

O estádio do bairro ainda não chegou a ser palco para grandes astros do futebol, como Neymar e Messi, mas tem sido o espaço onde os moradores locais demonstram a paixão pelo esporte. "O Neymar ainda não veio, mas tem uns jogadores iguais a ele,  como eu e o pessoal que mora aqui", brinca o presidente da Associação de Moradores do bairro, João Carlos Pereira Campos.

As duas histórias fazem parte e recontam o nome do bairro. Seja uma ou outra, a escolha dos moradores não deixa de ser curiosa, e até polêmica. Isso porque a capital da Espanha é Madrid e Barcelona, na verdade, é considerada a capital da Catalunha, que fica no território espanhol, mas é separatista, ou seja, quer virar uma região independente, inclusive com outra bandeira.

Bairro Barcelona, na Serra, Grande Vitória

Bairro Barcelona, Serra
Bairro Barcelona, Serra. Ricardo Medeiros
Bairro Barcelona, Serra
Bairro Barcelona, Serra. Ricardo Medeiros
Bairro Barcelona, Serra
Bairro Barcelona, Serra. Ricardo Medeiros
Bairro Barcelona, Serra
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Bairro Barcelona, Serra
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Edição de conteúdo: Laila Magesk e Rodrigo Lira
Edição visual: Adriana Rios
Ilustração: Geraldo Neto
Fotografia: Ricardo Medeiros

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