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Publicado em 3 de dezembro de 2021 às 16:30
Capixaba é o gentílico usado para denominar quem nasce no Espírito Santo, correto? Sim, está certo. Mas esse também é o nome de uma pequena cidade, localizada a mais de 4 mil quilômetros de Vitória, no interior do Acre, já na fronteira do Brasil com a Bolívia. >
O município acreano Capixaba é relativamente novo: fundado em 28 de abril 1992. Atualmente, a população da pequena cidade é estimada em pouco mais de 12 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, um lugar tranquilo, onde quem nasce é chamado de... capixabense. No mapa do Brasil, a cidade do Acre fica praticamente no lado oposto ao da capital do Espírito Santo. Veja abaixo:>
Diante desse fato curioso, a reportagem de A Gazeta foi atrás da origem e da história da cidade acreana e descobriu que o nome — como é de se imaginar — tem ligação, sim, com o Espírito Santo. Mais especificamente com uma família que saiu do Sul do Estado e migrou para o outro lado do país.>
Para entender como tudo aconteceu, é preciso voltar à década 1970. Naquela época, o capixaba Hélio Tessinari já havia deixado o Estado de nascimento para trás e morava no Mato Grosso. Em 1972, ele chegou a um cantinho do Acre, ainda sem nome, em busca de uma melhor qualidade de vida.>
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Ronaldo Tessinari
Funcionário público e filho de Hélio Tessinari
Nascido em Castelo, o senhor Hélio — como é respeitosamente chamado atualmente pelos moradores de Capixaba — conheceu a esposa Maria Lubiana durante a colheita de café na região. Juntos, eles deixaram o Sul do Espírito Santo há quase seis décadas e tiveram 14 filhos, entre eles, Ronaldo Tessinari. >
Coordenador de um centro cultural de Capixaba, ele conta que o desenvolvimento do município esteve estritamente ligado ao pai, que acabou atraindo outros parentes e chegou a doar vários terrenos para os seringueiros, dando origem a uma vila com quase 30 famílias.>
O recém-povoado ficava em uma área conhecida como "Seringal Gavião", na altura do km 74 da BR 317, no trecho entre a capital Rio Branco (AC) e a cidade de Xapuri. Com uma serra manual, Hélio Tessinari implementou a primeira indústria madeireira da região, com a abertura da "Serraria Pica-Pau".>
No mesmo período, o governo do Acre estava incentivando a migração para implantação de fazendas para a criação de gado. Para quem chegava na região, o estabelecimento da família acabava servindo como ponto de referência. "O povo começou a chamar a gente de capixaba", lembra Ronaldo.>
Com o passar dos anos, o povoado foi crescendo e se desenvolvendo, até esbarrar em um dilema: qual o nome de onde essas pessoas moravam? Alguns chamavam o local de Vila Santo Antônio, devido à figura sacra que até hoje é padroeiro da cidade. Já outros, deram o nome de Vila Capixaba. >
Na década de 1980, decidiram resolver o impasse com uma votação cujas cédulas podem ser consideradas, no mínimo, curiosas. Quem preferisse Vila Santo Antônio depositava um grão de milho na urna, e quem quisesse Vila Capixaba inseria um de feijão. O resultado nós já sabemos.>
Ronaldo Tessinari
Funcionário público e filho de Hélio TessinariA escolha perdurou até a emancipação da vila, no dia 28 de abril de 1992. Instituído oficialmente, o município passou a chamar apenas "Capixaba" e se desvinculou de Rio Branco e Xapuri. Em outubro daquele ano, aconteceu a primeira eleição municipal – que poderia ter dividido a família Tessinari. >
Se a vila tinha se tornado uma cidade, era preciso haver um prefeito. Em outubro de 1992, aconteceu a primeira eleição em Capixaba. De um lado, Liberato Ribeiro da Silva (que já havia sido subprefeito), tendo como vice o Hélio Tessinari. Do outro, o Ronaldo Tessinari. Ou seja, uma disputa entre pai e filho. >
"Isso foi uma coisa muito chata na minha vida, porque a gente sempre se deu muito bem, mas pediram para eu ser candidato e ele mesmo insistiu. Foi uma eleição perturbada, eu estava na frente, mas uma das urnas sumiu e eu perdi. Foi bom porque não fiquei com culpa", brinca Ronaldo.>
Entre os nove vereadores eleitos para a Câmara Municipal, dois também faziam parte da família: Amarildo Tessinari e Edimar Gava Tessinari, respectivamente irmão e primo de Ronaldo. Ambos eram do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que também ganhou o Executivo.>
Segundo o livro "Capixaba", quase 2 mil eleitores participaram da primeira eleição do município. A publicação foi escrita por José Serrão de Castro, historiador local e ex-secretário municipal de educação, com o intuito de registrar e divulgar a história da cidade para fins didáticos.>
Nos textos expostos no Centro Cultural Severino Jorge Matos, o capixaba Hélio Tessinari é retratado como alguém muito querido. Entre os atos destacados está a doação de terrenos para diversos órgãos públicos, como delegacia, posto de saúde, escola e companhias de eletricidade e de saneamento. >
"Ele sempre dizia estar investindo no futuro, porque a cidade iria se desenvolver. Com isso, ele foi tendo credibilidade junto à população, devido à visão política que ele tinha. Esse foi o grande legado do senhor Hélio", comenta Geran Clay, chefe de gabinete da Prefeitura de Capixaba.>
Geran Clay
Chefe de gabinete da Prefeitura de CapixabaAtualmente casado com uma neta de Hélio Tessinari, o servidor lembra de duas contribuições mais curiosas, como o costume de plantar árvores. "Ele saía com um carrinho de mão e ia plantando. Depois, passava aguando. Hoje, Capixaba é uma das cidades mais arborizadas do Acre", ressalta. >
Já a outra está ligada à religião. "Ele era um religioso. Antigamente, o padre passava por aqui uma vez a cada um ou três meses. Entre essas visitas, era o senhor Hélio que celebrava as missas e fazia as homilias. Era uma espécie de dirigente, comandava tudo. Era um segundo padre", conta Geran.>
Ainda de acordo com Geran Clay, o capixaba Hélio Tessinari era apaixonado por esportes e foi responsável por disseminar, na região, a bocha — ou boccia, como o esporte também é chamado — graças a uma pista construída em frente à própria casa, que ficava na avenida principal. Hoje, o único ginásio da cidade leva o nome dele, como homenagem. >
Nas paredes do centro cultural, está registrado alguns dizeres dele, entre eles um que diz que faria tudo de novo "tanto pelas pessoas, quanto pelo município". Falecido em 2005, o município garante que Hélio partiu "deixando a marca de um planeta mais verde" e um "rico legado de amor e dedicação à humanidade".>
"Acredito que se não fosse o meu pai, esse município ainda não existiria. Foi a partir da vila que ele ajudou que tudo surgiu. Até hoje, somos uma família muito grande, querida, respeitada e com muitas amizades por aqui", comemora Ronaldo Tessinari, dizendo que Capixaba é uma das melhores cidades.>
O município Capixaba que fica no Acre
"Eu acho o Espírito Santo maravilhoso. Estive já umas três vezes depois de adulto, na casa de um tio em Vila Velha. Vamos sempre na Praia da Costa, na de Camburi... É um ponto de referência até hoje, mas aqui tem pouca violência e um custo de vida bom. É um lugar maravilhoso para se viver", garante.>
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