Publicado em 12 de setembro de 2025 às 09:41
Ao menos cinco estrangeiros morreram desde julho enquanto estavam presos no Centro de Detenção Provisória 1 de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. As mortes ocorreram após a transferência de mais de mil presos que estavam na Penitenciária de Itaí, a cerca de 300 km da capital.
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Após uma vistoria na unidade de Guarulhos, no dia 15 de agosto, defensores públicos estaduais constataram que houve atraso no envio de prontuários médicos dos presos. Segundo a Defensoria Pública, isso fez com que eles deixassem de receber remédios essenciais para tratar doenças crônicas como hipertensão, diabetes, asma e doenças psiquiátricas, entre outras.>
Questionada, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que instaurou procedimento investigatório para apurar as mortes. A pasta disse que os presos receberam atendimento médico e hospitalar, e que todos tinham comorbidades como hipertensão, diabetes, obesidade e HIV.>
A transferência dos 1.050 mortos ocorreu em junho, e as duas primeiras mortes foram registradas no mês seguinte. Entre os cinco mortos estão um boliviano, um chileno e um tanzaniano. A SAP não confirmou as nacionalidades dos outros dois mortos.>
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O documento diz, ainda, que além da superlotação da unidade, havia falta de colchões e cobertores suficientes para todos os presos. Isso fez com que alguns dormissem no chão ou em contato direto com o concreto de beliches nas celas. A inspeção também constatou que havia ao menos um seção da unidade sem chuveiro quente. Isso enquanto a região metropolitana de São Paulo registrava os dias mais frios do ano, em julho.>
Em algumas celas havia mais de 20 presos, sendo que a capacidade máxima é para 12 pessoas, segundo relatos de uma advogada. A reportagem também ouviu que, após a transferência, os presos não contavam sequer com escovas de dente na unidade de destino, o CDP de Guarulhos.>
Entre os mortos está o boliviano Willy Renfijo Ajata, 60, que tentava provar a inocência num processo de tráfico de drogas. Segundo uma advogada que o atendeu, ele tinha problemas graves de hipertensão, diabetes e deficiência visual.>
Apesar de ter relatado dores e mal-estar por mais de uma semana, o atendimento médico demorou e ele foi encaminhado a um hospital quando o quadro de saúde já era praticamente irreversível, segundo sua advogada, que pediu para não ter o nome publicado.>
Ele é caminhoneiro e foi preso em Mato Grosso do Sul, no ano passado. A defesa alega que uma passageira a quem ele deu carona carregava drogas sem que ele soubesse. Ele morreu no dia 15 de agosto.>
A advogada de Willy afirmou que os presos reclamam de escassez de comida e que só há atendimento médico até duas vezes por semana no centro de detenção. O documento da Defensoria Pública também relata "ausência de atendimento médico regular, de fornecimento de medicamentos e de acompanhamento multiprofissional".>
Os defensores públicos que acompanham a situação carcerária em São Paulo dizem que o número de mortes foi atípico para apenas uma unidade, considerando o período de pouco mais de dois meses.>
"É muito assustador dentro de um prazo tão curto", disse a coordenadora auxiliar do Nesc, a defensora Camila Tourinho.>
"No mínimo, tem indícios de uma demora na recepção desses prontuários. Há documentos em que se observa uma demora de 20, 25 dias entre sair de Itaí e chegar em Guarulhos", afirmou o defensor Leonardo Silveira, também do Nesc, que participou da vistoria.>
No primeiro semestre deste ano, foram registradas 282 mortes de pessoas privadas de liberdade em São Paulo sendo que, destas, 182 foram mortes naturais e 70 não tiveram causa esclarecida.>
No ano passado, houve aumento na quantidade de mortos no sistema carcerário paulista: foram 596 mortes, alta de 4,5% na taxa de mortalidade. Mais de 80% das mortes ocorreram por motivos de saúde.>
A SAP informou, em nota, que o CDP 1 de Guarulhos conta com dois médicos (um clínico-geral e um psiquiatra) e cinco enfermeiros, e que eles prestaram atendimento aos presos que acabaram mortos. "A unidade oferece materiais de higiene semanalmente e entregou novos colchões nas celas", disse a secretaria. .>
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