Publicado em 9 de novembro de 2020 às 12:36
Com a falta de energia no Amapá, moradores da capital do estado chegaram à situação de abrir poço no quintal de casa para retirar água manualmente, por causa das bombas de água paralisadas. Há quem tenha ficado sem água até para tomar remédio e precisou apelar para enlatados por não ter como refrigerar alimentos. Parentes em outros estados manifestaram preocupação sem poder ajudar. >
A advogada Débora Borralho conta que seu pai, Dejaí Borralho, não tinha água em casa nem para tomar seus remédios. "Entrei em desespero porque meu pai é idoso, doente e teve quatro AVCs em um ano. Ele perdeu a fala, tem locomoção limitada e precisa de medicação o tempo todo".>
A advogada conseguiu ajuda para o pai por meio das redes sociais. "Um ex-professor meu da faculdade viu meu apelo na internet e disse que poderia ceder um garrafão de água para meu pai. Para a comida, minha mãe comprou enlatados, como sardinha, salsicha e biscoitos para que eles pudessem se alimentar", explica.>
Para Ana Barros, 25, ficar sem comunicação foi horrível, mas não ter água foi pior. "Nós temos alguns baldes com água, mas não é própria para consumo, era pra tomar banho, lavar louça, essas coisas. Mas a sede era tanta que nós usamos para beber mesmo. No início, nós fervíamos a água, mas o gás estava acabando, e não tinha como comprar. Depois colocamos água sanitária, mas eu sentia muita dor no estômago, então não dava para beber direito, era só no golezinho para não desidratar".>
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Ana mora com o irmão, Lucas Mateus, 21, que tem paralisia cerebral. Lucas não conseguia dormir com o calor, estava com dificuldades para comer e tomar banho. "Foi horrível, desesperador. Eu nem tenho como expressar tudo que estamos passando", relata Ana.>
Desempregada, Janaína Teodoro, 32, mora com a mãe, de 71 anos, uma filha de sete e outra de 12 anos. A sede era tanta que ela pediu para que seus irmãos e vizinhos cavassem um poço artesiano em sua casa. O trabalho começou na sexta-feira (6), e deve ser concluído até terça.>
"Foram de longe os piores dias que já vivi. No segundo dia, já não tínhamos comida e nem água potável. Minha filha de sete anos não conseguia dormir por causa da sede, pedia água direto. Então a nossa única solução foi cavar um poço de imediato", conta.>
"Minha mãe está mantendo a casa com o pouco que ganha de benefício e tudo estava muito caro. Nunca vou esquecer da dor em ver comida indo para o lixo", relata.>
Com uma temperatura média de 35°C, o ventilador e o ar-condicionado tornaram-se necessidade básicas para um amapaense. Mãe de Luiz Paulo, de 27 dias, João Paulo, 1 ano e 9 meses, e Lara, 15, a nutricionista Priscila Monteiro conta que esses dias foram os mais cruéis por causa do calor e da corrida atrás de gelo pra não perder o que tinham na geladeira.>
"A nossa caixa-d'água secou, o tempo abriu, veio aquele calor abafado e começou nosso tormento. Não tínhamos água para nos refrescarmos, a água pra beber era quente e regrada. Como distrair um bebê do calor sem ter como?", conta ela.>
A nutricionista e seu marido, Paulo, alternavam quem embalava as crianças na rede para não acordarem: "As noites foram bem difíceis, pois não chovia, estava quente, sem vento e com muito mosquito. Aí ficamos ainda mais angustiados, indignados e obviamente cansados em ficar abanando filhos, embalando rede ou os dois ao mesmo tempo. De tudo isso não tiro a imagem do Paulo chorando por não saber o que fazer pelo choro do nosso filho. Foi uma das cenas que mais me comoveram, eu queria ajudar e não sabia como", relata.>
O fornecimento de energia e água está sendo restabelecido aos poucos, em rodízio de seis em seis horas. Segundo o governo do Amapá, 70% do sistema de abastecimento já havia sido restabelecido neste domingo.>
A Prefeitura de Macapá está fornecendo água para a população em algumas escolas da capital. Em nota, o governo afirmou que está distribuindo frascos de hipoclorito de sódio, produto utilizado para purificar a água para consumo humano, além dos 75 mil litros de água potável por dia.>
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