Publicado em 6 de agosto de 2020 às 19:57
O secretário estadual Alexandre Baldy (Transportes Metropolitanos), preso nesta manhã de quinta (6) em São Paulo, pediu licença do cargo a partir desta sexta (7) por um mês para se defender.>
Sua prisão foi o maior constrangimento político enfrentado por João Doria (PSDB) desde que assumiu o governo de São Paulo.>
O entorno do tucano esperava o movimento de Baldy, que foi comunicado por meio de advogados no fim da tarde ao Palácio dos Bandeirantes. Na segunda nota sobre o tema nesta quinta, Doria fez os elogios protocolares à gestão do secretário à frente da pasta.>
Ocupará interinamente o lugar de Baldy seu número 2, o secretário-executivo Paulo Galli.>
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?Diferentemente dos dois outros episódios envolvendo autoridades de alto escalão alvo da Justiça, no caso Gilberto Kassab (Casa Civil) e Aloysio Nunes Ferreira (InvestSP), contudo, desta vez houve prisão.>
Assim, Doria ainda não pôde conversar com Baldy na manhã desta quinta (6). Uma primeira nota do governador, pela manhã, havia apenas dito confiar que ele se explicaria à Justiça e que os fatos pelos quais Baldy é acusado não ocorreram na sua gestão em São Paulo.>
Com isso, foi acionado o protocolo Kassab, por assim dizer. O então chefe da Casa Civil indicado por Doria pediu licença após ser alvo de operação por acusação de caixa dois. Passados mais de 500 dias, segue afastado.>
Politicamente, o potencial do caso Baldy é ainda maior. O incidente é bastante diferente das agruras recentes do PSDB, que viu seus antigos caciques José Serra e Geraldo Alckmin, ambos ex-governadores spaulistas como Doria, acusados de crimes como caixa dois e lavagem de dinheiro.>
O constrangimento de estar numa sigla com líderes sob investigação, ao fim, poderia ser absorvido pelo fato de que nenhum dos alvos fazia parte de sua equipe.>
Baldy, por outro lado, era uma das estrelas do secretariado de Doria, e uma ponte com o centrão ?desde 2017 ele está no Progressistas, depois de ter entrado na política em 2010 no PSDB e tido uma curta passagem pelo Podemos.>
Além disso, o secretário tem grande interlocução tanto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado de Doria, e o ministro Fábio Faria (Comunicação), o homem do PSD no governo federal. Baldy era visto com candidato certo a senador ou governador de Goiás em 2002.>
Essa articulação foi vista como explicação possível por um estranhamento do dia, que foi o fato de o secretário ter pedido licença na terça e na quarta, vésperas da operação.>
O trânsito de Baldy também e grande entre personagens da política goiana envolvidos em investigações de corrupção nos últimos anos.>
Ele foi citado no relatório da CPI que avaliou os negócios do Carlinhos Cachoeira, que estabeleceu seus vínculos com o bicheiro, mas foi rejeitado por falta de provas de irregularidades. Esses laços já haviam sido apontados como provável dor de cabeça por aliados, e adversários, de Doria.>
A prisão de Baldy também significa mais uma rachadura em um dos esteios da gestão Doria, o aproveitamento de ex-ministros do governo Michel Temer (2016-17) em sua gestão. Foram escolhidos ao todo oito ex-ministros para seis secretarias e outros órgãos.>
A ideia sempre foi a de fazer um "mini ministério" em São Paulo, o que aliados e adversários já viam como uma antecipação de pretensões presidenciais do tucano para 2022, mas o ônus acompanhou o bônus.>
Inicialmente, houve Kassab. O presidente do PSD era uma das mais vistosas aquisições políticas de Doria, olhando o longo prazo. Até hoje se queixa do governador, segundo seus aliados, pelo tratamento dispensado.>
Tanto foi assim que, sem fechar as portas ao PSDB, operou a entrada de seu partido no governo de Jair Bolsonaro, o adversário principal de Doria.>
O mesmo valeu para o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, que teve de deixar a agência InvestSP depois que a Lava Jato bateu às suas portas.>
Eleito em 2016 prefeito paulistano e, dois anos depois, governador, Doria sempre associou-se fortemente ao discurso de moralidade pública típico do "Zeitgeist" do lava-jatismo. Daí as execuções sumárias de auxiliares.>
A Lava Jato e métodos de seus expoentes, como como o próprio juiz que levou Baldy à prisão, o fluminense Marcelo Bretas, estão em xeque nesses dias.>
Sofreram reveses com as acusações de impropriedade de condução de processos pelo então juiz Sergio Moro, que podem levar à declaração de sua suspeição no caso em que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.>
Além disso, o governo de Jair Bolsonaro, eleito presidente também pelo desejo antiestablishment decorrente da erosão da classes política pelo lava-jatismo, agora tenta se livrar dos riscos de manter o grupo forte.>
Daí decorre o embate no qual saiu Moro do governo e se digladiam o procurador-geral da República, Augusto Aras, e os procuradores associados ao lava-jatismo.>
Doria, agora, buscou marcar mais uma diferença com Bolsonaro, acreditando que o eleitorado com pendores lava-jatistas ainda está ativo no país, apesar da manutenção dos índices de popularidade do presidente após sua guinada retórica.>
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