Publicado em 14 de junho de 2021 às 21:13
O Ministério Público de São Paulo instaurou, nesta segunda-feira (14), um inquérito civil para investigar Jackson Vilar e demais organizadores da motociata de Jair Bolsonaro (sem partido) em São Paulo, no sábado (12).>
Com base em reportagens e imagens do evento, o Ministério Público aponta que Bolsonaro e seus apoiadores deixaram de cumprir normas sanitárias, sobretudo o uso de máscara, procedimento classificado pelo promotor de Justiça Arthur Pinto Filho como "o mínimo civilizatório em tempos pandêmicos". >
"O presidente da República agiu como sempre age no país, desrespeitou regras vigentes de trânsito (consta que sua moto estava com a placa coberta e o mandatário máximo do país se utilizou de capacete irregular), violou lei federal e decretos estaduais que têm como objetivo minorar os efeitos da pandemia, vituperou contra máscaras de proteção facial, distanciamento social", diz o promotor. >
Arthur Pinto Filho ressalta, porém, que não cabe a ele a investigação do presidente, mas a de organizadores e apoiadores sem foro especial "que também agiram contra as regras apontadas pelo Ministério da Saúde e obrigatórias, como o uso de máscara, determinado por decreto estadual". >
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O promotor determinou que o procedimento seja enviado ao Ministério Público Federal para que o órgão tome as medidas que julgar necessárias em relação às autoridades com foro. >
"E este desrespeito às referidas normas legais é seguido pelas pessoas que o acompanham nos eventos e nos palanques e que obviamente o apoiam", diz o promotor. >
O governo João Doria (PSDB) autuou Bolsonaro por não usar máscara. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes, também foram autuados. >
O governo de SP afirma que equipes da Saúde e Segurança Pública flagraram os três sem máscara. O valor da autuação é de R$ 552, 71. >
A peça ainda destaca o discurso negacionista feito no palco, no encerramento do ato, feito pelo presidente da República, enquanto a ocupação dos leitos de UTIs no estado passava de 82%. >
Para identificar demais organizadores, além de Jackson Vilar, o promotor determinou que a Polícia Militar forneça os nomes e endereços das pessoas que participaram de reunião de organização do ato com o órgão. >
Com base em reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o promotor destaca que Vilar havia se comprometido com o uso de máscaras e capacetes e havia afirmado que todas as motos deveriam estar emplacadas. >
Oficialmente chamada de Acelera Para Cristo, a motociata era uma das atividades que foram pensadas para substituir a Marcha Para Jesus, maior ato evangélico do país, que foi cancelada por causa da pandemia. >
Vilar é presidente de uma das entidades organizadoras, a Embaixada do Comércio, uma associação comercial que sorteou uma moto entre os participantes da motociata cadastrados em seu site. >
Dono de uma loja de móveis no bairro do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, ele teve de prestar esclarecimentos à polícia em março, após ter liderado um protesto em frente à casa do governador Doria, no bairro dos Jardins, contra as restrições ao comércio. >
Procurado pela reportagem, Vilar respondeu apenas que o Ministério Público "é um órgão sério" e que "acredita nele". >
O promotor afirmou ainda, na peça, que a investigação não tem o objetivo de cercear o direito à manifestação. >
"Evidente que não se está a buscar obstar de nenhuma maneira o direito de reunião e manifestação, que não estão suspensos por conta da pandemia. Deseja-se, somente, que tais direitos sejam exercidos dentro dos limites gizados pelas normas jurídicas em vigor e pela situação pandêmica de nosso estado", declarou. >
A motociata durou cerca de quatro horas, reuniu cerca de 12 mil motos, segundo o governo paulista, travou o trânsito em diferentes pontos da capital e levou ao fechamento completo dos dois sentidos da rodovia dos Bandeirantes até região de Jundiaí. >
A manifestação começou às 10h, na região de Santana, zona norte da capital, e terminou no obelisco do Ibirapuera, às 13h30. O percurso, que incluiu um bate-volta a Jundiaí, foi de cerca de 130 km. >
Ao longo do trajeto, gritos de "aqui é Bolsonaro", "viva, Bolsonaro" e "isso está gigante" se misturaram com barulho de buzinas e ronco dos motores das motocicletas. Houve também gritos contra a imprensa e Doria, adversário político do presidente. >
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