Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 14:39
BRASÍLIA - Decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes relata que a Polícia Federal está de posse de um vídeo de uma reunião ministerial de Jair Bolsonaro (PL) realizada em 5 de julho de 2022, a três meses das eleições, ocasião em que ele e auxiliares discutem claramente cenários golpistas.>
"Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros (...) Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia?", afirmou Bolsonaro nessa reunião, segundo a transcrição feita pela PF.>
O vídeo, segundo o inquérito, estava armazenado em um computador apreendido com Mauro Cid, então chefe da ajudância de ordens de Bolsonaro e hoje colaborador das investigações.>
A PF deflagrou nesta quinta (8) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de Direito. >
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Ocorrida em um contexto de forte ofensiva de Bolsonaro contra a lisura das urnas eletrônicas, a reunião da cúpula do governo contou com a presença, entre outros, do então chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, do então ministro da Justiça, Anderson Torres, e do então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira.>
"A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral", escreveu Alexandre de Moraes em sua decisão.>
De acordo com a transcrição do vídeo, Bolsonaro manifesta a seus ministros que estaria havendo uma armação para que Lula fosse eleito por meio de fraude eleitoral.>
Apesar do tom claramente golpista, em determinado momento Bolsonaro fala em não haver "providência de força". "Não é dar tiro. Ô Paulo Sergio [ministro da Defesa], vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar? Não é isso, [palavrão]!">
Moraes relata em sua decisão que, em seguida, Bolsonaro deixa claro que seus ministros "deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público".>
A seguir, a palavra é dada a Anderson Torres, que, de acordo com o relato, corrobora todo o discurso, alertando os presentes para a eventualidade de uma derrota eleitoral dali a três meses.>
"E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vão se f...! Eu quero deixar bem claro isso.">
A referência é a prisão de Jeanine Añez sob acusação de ter promovido um golpe de Estado contra Evo Morales.>
Próximo a falar, o ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira faz críticas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), diz que a comissão de transparência eleitoral montada com participação das Forças Armadas é apenas "para inglês ver", e completa:>
"Pra encerrar... senhor Presidente, eu estou realizando reuniões com os Comandantes de Força quase que semanalmente. (...) Nós temos reuniões pela frente, decisivas para gente ver o que pode ser feito, que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha", diz Paulo Sergio, de acordo com a transcrição, encerrando com os votos de que Bolsonaro seja reeleito. "Esse é o desejo de todos nós.">
Após Bolsonaro levantar a suspeita de que ministros do STF e TSE estivessem ganhando propina para fraudar as eleições, a palavra é dada a Augusto Heleno.>
"A existência do ilícito Núcleo de inteligência paralela também fica demonstrada nessa reunião, na fala do investigado Augusto Heleno", prossegue Moraes em sua decisão.>
Ele então relata que o então chefe do GSI falou ter tido conversa para a infiltração de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nas campanhas eleitorais, tendo sido interrompido por Bolsonaro no sentido de que o assunto fosse tratado posteriormente, à sós.>
Heleno, segundo a transcrição, prossegue, agora com uma fala claramente golpista: "Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições.">
O então chefe do GSI conclui: "E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso para mim é muito claro".>
A reportagem procurou a defesa de Bolsonaro, Anderson Torres e Heleno e aguarda uma manifestação. A reportagem não conseguiu falar com Paulo Sérgio ou sua defesa.>
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