Publicado em 11 de dezembro de 2019 às 11:34
Diante da sinalização de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetará a destinação de R$ 3,8 bilhões para o fundo eleitoral, líderes partidários começaram a discutir a possibilidade de encolhê-lo para R$ 2,5 bilhões.>
Deputados avaliam que seria melhor negociar um acordo com o Palácio do Planalto e garantir um valor menor, a fim de não correr o risco de ficar sem uma fonte de custeio das campanhas nas eleições municipais de 2020.>
Originalmente, o governo desejava destinar R$ 2 bilhões para bancar essas disputas locais. Presidentes e líderes de partidos que representam a maioria dos deputados e senadores, porém, haviam articulado a elevação do valor desse fundo em mais R$ 1,8 bilhão.>
Congressistas afirmam que houve uma reação negativa da sociedade a esse aumento e passaram a discutir alternativas. A redução foi debatida em reunião nesta terça-feira (10), segundo informações de integrantes de três partidos que apoiaram o fundo de R$ 3,8 bilhões.>
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Esse valor estava previsto no relatório do Orçamento de 2020 aprovado na semana passada pela Comissão Mista de Orçamento e que deverá ser votado no plenário do Congresso na próxima terça-feira (17).>
Um dos participantes da reunião disse que a maioria dos líderes concordou com a possibilidade de recuo. O PSDB ficou dividido.>
Deputados receberam o recado de que, se aprovassem os R$ 3,8 bilhões, Bolsonaro vetaria esse dispositivo e, com isso, não haveria no Orçamento qualquer previsão de recursos para financiar as eleições. Eles creem que não haveria votos suficientes para derrubar o veto -41 senadores e 257 deputados.>
PP, MDB, PTB, PT, PSL, PL, PSD, PSB, Republicanos, PSDB, PDT, DEM e Solidariedade defendiam o fundo nesse valor elevado. Esses partidos representam 430 dos 513 deputados e 62 dos 81 senadores.>
Podemos, Cidadania, PSOL e Novo foram contra o aumento do fundo eleitoral. Essas siglas não teriam, sozinhas, força política para barrar a investida.>
No entanto, deputados dizem não poder confiar nos votos do Senado para derrubar um veto de Bolsonaro, caso ele se confirme.>
Líderes da Câmara dizem que os senadores já descumpriram um acordo, na semana passada, quando se recusaram a derrubar o veto presidencial à volta da propaganda partidária no rádio e na televisão.>
Os deputados avaliam ainda que os integrantes do Senado não apoiariam o aumento do fundo eleitoral, uma vez que ele é abastecido com o dinheiro de parte das emendas parlamentares.>
Os senadores perderiam, portanto, parte dessa verba destinada a suas bases políticas, mas extrairiam menos benefícios das campanhas financiadas com esse dinheiro ?já que costumam se envolver menos nas eleições municipais.>
Além disso, uma parcela do Senado ainda está distante de disputar uma nova campanha. >
No ano passado, foram eleitos dois terços da composição da Casa. Ou seja, a maioria dos senadores só vai disputar uma nova eleição daqui a sete anos.>
"Embora eu defenda o valor de R$ 3,8 bilhões, se houver um acordo [para reduzir o volume], eu aceito o acordo", disse o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP). >
"Sou um defensor do fundo partidário, porque o outro caminho já conhecemos. O caminho do passado [financiamento empresarial] levou a todo aquele mar de corrupção. O fundo público é transparente.">
"Se eles conseguirem aprovar e o presidente vetar, a gente vai manter o veto e eles vão ficar sem nada. Está na hora de começarem a votar olhando para a população", afirmou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).>
Como a Folha de S.Paulo mostrou na semana passada, para inflar os recursos das campanhas municipais o Congresso previa cortes em saúde, educação e infraestrutura.>
O aumento do financiamento eleitoral só foi possível após a redução nas despesas de diversos ministérios, que afetou mais áreas com impacto social, disseram à reportagem técnicos do Congresso e do governo. O corte previsto pela Comissão Mista de Orçamento foi de R$ 1,7 bilhão.>
Desse montante, os maiores foram em saúde (R$ 500 milhões), infraestrutura e desenvolvimento regional (R$ 380 milhões), que inclui obras de habitação e saneamento. A redução em educação chegou a R$ 280 milhões.>
O principal alvo da tesourada foi o Fundo Nacional de Saúde, que receberá menos dinheiro, por exemplo, para o Farmácia Popular (corte de R$ 70 milhões), programa que oferece remédios gratuitos à população de baixa renda.>
Mais de 15 ministérios perderam orçamento de despesas discricionárias (não obrigatórias) para que o impacto fosse menor. >
No Ministério do Desenvolvimento Regional, recursos do Minha Casa Minha Vida, que já passa por um enxugamento, não foram poupados (o programa também perdeu R$ 70 milhões).>
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vem sustentando que a ampliação do fundo precisa ser explicada para a população.>
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se esquiva do assunto e apenas reitera que foi derrotado quando o Congresso, por maioria, decidiu barrar o financiamento privado de campanha.>
A verba para o fundo que financia a eleição é constituída por dotações orçamentárias da União em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente a 30% dos recursos de emendas parlamentares de bancada. O fundo distribuiu R$ 1,7 bilhão aos candidatos nas eleições de 2018.>
Em 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu proibir o financiamento de empresas para campanhas eleitorais e partidos, considerando-o inconstitucional. O Congresso aprovou então uma reforma política em 2017 que criou o fundo eleitoral no pleito de 2018.>
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